Introdução
A palavra é uma das mais poderosas ferramentas
concedidas ao homem. Desde os tempos antigos, a oratória tem servido à
transmissão do saber, à propagação de ideias e ao despertar de consciências. No
entanto, à luz do Espiritismo, a oratória se torna muito mais que um exercício
intelectual ou estético: converte-se em instrumento de iluminação espiritual,
consolação e transformação íntima.
Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns,
ressalta que “a linguagem dos Espíritos é
a do pensamento” (LM, cap. XIV, item 165), mas que, no campo humano, a
palavra é o veículo que mais diretamente atinge o coração e a inteligência. Por
isso, o orador espírita deve assumir a tribuna não como espaço de vaidade, mas
como altar de serviço, em que a palavra se faz ponte entre o Evangelho e as
necessidades dos ouvintes.
Assim, este manual busca orientar aquele que deseja
se preparar para a sublime missão da palavra espírita, oferecendo diretrizes
práticas e espirituais à luz da Codificação e de obras complementares da
Doutrina.
A
Oratória
Oratória é a arte de falar em público com clareza,
simplicidade e verdade. O espírita que assume a tribuna torna-se servidor do
Cristo e divulgador da Doutrina codificada por Allan Kardec.
Nos Centros Espíritas, a tribuna é espaço de
estudo, consolo e evangelização. Embora muitos possam aprender pelo livro, não
são poucos os que só despertam pela palavra falada, transmitida com calor
humano e vibração espiritual. Daí a importância da oratória espírita como
complemento indispensável ao estudo escrito.
A
Eloquência
A eloquência, no sentido espírita, não consiste em
adornar o discurso com artifícios literários, mas em transmitir, com
sinceridade e amor, o conteúdo moral e espiritual que brota do coração.
Kardec observa que “o verdadeiro espírita reconhece-se pela sua transformação moral e
pelos esforços que emprega para domar suas más inclinações” (O Evangelho
segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 4). Essa verdade se aplica também ao
orador: sua maior força de convencimento está no exemplo vivo.
Virtudes que sustentam a eloquência espírita:
- Naturalidade: falar simples, como Jesus falava.
- Entusiasmo: transmitir o fervor do ideal, sem
teatralidade.
- Fé: falar do que se crê e vive.
- Conhecimento: estudar o Evangelho e a Doutrina para falar
com segurança.
- Sinceridade: viver o que ensina.
- Amor: servir com ternura, visando o bem do próximo.
- Coragem: manter-se fiel à verdade, ainda que contrarie
opiniões.
A
Preleção
A preleção espírita é a palestra que visa instruir
moralmente pela luz do Evangelho e doutrinar pela clareza do Espiritismo.
- Estrutura:
- Tema: inspirado no Evangelho.
- Desenvolvimento: explicação doutrinária com base nas obras
fundamentais.
- Regras práticas:
- Ser simples, clara e objetiva.
- Evitar discursos longos, rebuscados ou cansativos.
- Falar com espontaneidade, sem leitura decorada.
- Preparar-se previamente, mas conservar a liberdade do pensamento.
O Orador
Espírita
O orador espírita não é apenas alguém que fala em
público, mas um trabalhador da seara do Cristo. Ele se forma pelo estudo,
pela meditação, pelo trabalho constante e pela prática na
tribuna.
- Estudo: da língua, do Evangelho e do Espiritismo.
- Meditação: ponderação sobre o que vai transmitir.
- Trabalho: serviço ativo nas atividades do Centro
Espírita.
- Prática: exercício constante da palavra com
simplicidade e humildade.
O orador deve evitar o personalismo, os exageros
gestuais, o exibicionismo. Sua postura, seu olhar, seu modo de se apresentar
devem refletir modéstia e respeito.
Como
Estudar
O estudo é o alimento do orador. Sem ele, não há
segurança, nem profundidade.
- Língua: cultivar a clareza da expressão, a leitura
dos bons autores, o uso correto do vocabulário.
- Evangelho: leitura, interpretação moral e aplicação
prática.
- Espiritismo: estudo sistemático das obras da Codificação e
obras complementares fiéis ao método espírita.
O estudo deve ser metódico, constante e acompanhado
de oração, a fim de que não seja apenas um acúmulo de informações, mas fonte de
transformação interior.
A
Oratória de Jesus e de Seus Discípulos
Jesus é o modelo supremo do orador. Ele falava com
simplicidade, usava imagens do cotidiano, dirigia-se aos corações preparados
pela dor e pela esperança. Não buscava aplauso, mas transformação moral.
Seus discípulos seguiram-lhe o exemplo: falaram nas
ruas, nos lares humildes, nos campos abertos, levando a Boa Nova a todos, sem
distinção. Hoje, a tarefa do orador espírita é a mesma: difundir a mensagem de
amor e verdade, servindo de instrumento para que a luz do Evangelho alcance corações
sedentos.
Conclusão
O orador espírita não é dono da tribuna, mas
servidor do Cristo. Sua missão não é brilhar pela forma, mas iluminar pela
essência. Suas palavras não devem ser armas de disputa, mas sementes de paz e
esperança.
Assim, que o orador espírita estude, ore,
prepare-se e viva aquilo que transmite, para que sua voz, humilde e firme, seja
eco fiel da mensagem do Mestre e da Doutrina Espírita.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
- KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo.
- KARDEC, Allan. A Gênese.
- KARDEC, Allan. Obras Póstumas.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita.
- DENIS, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor.
- DENIS, Léon. O Cristianismo e o Espiritismo.
- XAVIER, Francisco Cândido. Nosso Lar. Pelo Espírito André
Luiz.
- PEREIRA, Yvonne do Amaral. Seara dos Médiuns.
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