sábado, 16 de agosto de 2025

FENÔMENOS ESPÍRITAS
DA ANTIGUIDADE AO ADVENTO DO ESPIRITISMO
- A Era do Espírito -

Introdução

A história da humanidade mostra que a crença na imortalidade da alma e na comunicação entre o mundo material e o espiritual é tão antiga quanto o próprio homem. Desde os povos orientais, passando pelas tradições gregas, romanas e hebraicas, sempre se encontram vestígios de práticas mediúnicas, embora muitas vezes revestidas de mistério, superstição ou dogmas religiosos.

Contudo, apenas no século XIX esses fenômenos, antes relegados ao misticismo, à magia ou ao monopólio sacerdotal, seriam estudados com método, rigor e finalidade moral, abrindo caminho para a Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec.

Neste artigo, percorremos três momentos fundamentais: a antiguidade, os fenômenos de Hydesville e as mesas girantes. Em cada etapa, mostraremos a ligação entre a manifestação dos Espíritos e o progresso das ideias, até a sistematização que culminou no Espiritismo.

1. A Antiguidade

Entre os povos antigos, a evocação dos mortos era prática corrente. Os Vedas e o Código de Manu já faziam referência aos Espíritos dos antepassados que participavam das cerimônias dos vivos. No Egito, templos e sacerdotes guardavam segredos que lhes conferiam poder religioso e político, enquanto na Grécia as pitonisas, inspiradas por Espíritos, proferiam oráculos que influenciavam a vida social e política.

Homero, na Odisseia, descreve Ulisses evocando o Espírito de Tirésias, em uma cena que, sob a ótica moderna, revela um fenômeno mediúnico. Moisés, por sua vez, proibiu a evocação dos mortos, temendo que a revelação direta dos Espíritos comprometesse a autoridade do sacerdócio judaico, como indica Kardec em O Livro dos Médiuns (cap. II, item 5).

Durante a Idade Média, as práticas de evocação foram perseguidas pela Igreja, resultando na condenação de milhares de pessoas acusadas de feitiçaria. Ainda assim, vozes espirituais romperam o silêncio. Joana d’Arc é o exemplo mais notável: guiada por vozes e visões, libertou a França e mostrou como a assistência espiritual poderia se manifestar em prol de grandes causas. Kardec, em A Gênese (cap. XVII), afirma que Joana foi um instrumento de missão providencial.

Assim, vê-se que os fenômenos espíritas sempre existiram, embora mal compreendidos ou utilizados para fins de dominação.

2. Os Fenômenos de Hydesville

O marco inicial da chamada “moderna era espírita” deu-se em 1847, na pequena localidade de Hydesville, nos Estados Unidos. Na casa da família Fox, pancadas misteriosas se fizeram ouvir, revelando inteligência e estabelecendo diálogo com as jovens irmãs Kate e Margaret.

O Espírito manifestante, identificado como um mascate de nome Charles Rosna (também citado em alguns relatos como Joseph Ryan), afirmou ter sido assassinado naquela casa. A investigação atraiu vizinhos e autoridades, que nada puderam concluir contra a boa-fé das médiuns.

Apesar das perseguições religiosas e acusações de impostura, as irmãs Fox aceitaram expor os fenômenos publicamente, submetendo-se a comissões rigorosas. Estas, embora céticas, foram obrigadas a reconhecer a impossibilidade de fraude.

Os fatos se multiplicaram e, em 1850, já havia milhares de adeptos nos Estados Unidos. Como Kardec assinala na Revista Espírita (janeiro de 1858), a repercussão dos fenômenos de Hydesville foi a semente que preparou o terreno para um estudo mais elevado, pois mostravam que algo além da matéria precisava ser considerado.

3. As Mesas Girantes

Da América, os fenômenos atravessaram o Atlântico e chegaram à Europa. As “mesas girantes” logo se popularizaram em salões e reuniões privadas, onde o movimento dos objetos despertava curiosidade e, não raro, zombaria.

Os Espíritos, servindo-se das mesas, respondiam a perguntas por meio de pancadas e movimentos. O processo, embora rudimentar, abria espaço para comunicações inteligentes. Em pouco tempo, evoluiu-se para a psicografia: primeiro com pranchetas dotadas de lápis, depois diretamente com a mão do médium escrevendo sob a influência do Espírito.

Kardec, testemunha direta desse movimento, observou que o fenômeno não podia ser explicado apenas por ilusões, magnetismo ou sugestão coletiva. Como afirmou no Livro dos Médiuns (Introdução), era preciso buscar a causa fora da matéria, reconhecendo a ação de inteligências invisíveis.

Esse período de manifestações espetaculares — que Kardec chamou de “fase de curiosidade” — foi indispensável para chamar a atenção do público e preparar os estudiosos sérios. Como ele registrou na Revista Espírita (maio de 1858), a frivolidade deu lugar à reflexão, abrindo caminho para o ensino filosófico e moral dos Espíritos Superiores.

Conclusão

Os fenômenos espíritas não são novos: acompanharam a humanidade desde suas origens. Contudo, até o século XIX, faltava-lhes método, discernimento e finalidade moral.

Com Hydesville e as mesas girantes, iniciou-se um processo que levaria à codificação do Espiritismo por Allan Kardec em 1857, com O Livro dos Espíritos. Desde então, os fatos deixaram de ser meros objetos de curiosidade para se tornarem base de uma filosofia espiritualista racional, assentada sobre a observação, a experimentação e o ensino moral.

Assim, os fenômenos espíritas, longe de serem novidades ou superstições, são manifestações universais da vida espiritual, cuja compreensão só se completou com a Doutrina Espírita, revelando à humanidade sua verdadeira destinação: a imortalidade, o progresso e a fraternidade universal.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 1861.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. 1868.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita. 1858-1869.
  • DELANNE, Gabriel. História do Espiritismo. FEB.
  • DENIS, Léon. Depois da Morte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

VALORIZANDO O TEMPO: REFLEXÕES ESPÍRITAS SOBRE AS HORAS VAZIAS - A Era do Espírito - Introdução O tempo é um presente divino que nos é dad...