quinta-feira, 28 de agosto de 2025

O PENSAMENTO NA OBRA DE ALLAN KARDEC:
FORÇA ESPIRITUAL, TRANSMISSÃO
E RESPONSABILIDADE MORAL
- A Era do Espírito -

Introdução

Entre os temas fundamentais da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, o pensamento ocupa lugar central. Não se trata apenas de uma faculdade abstrata, mas de uma força viva do Espírito, capaz de atuar nos fluidos, estabelecer comunicações e gerar consequências no campo moral e espiritual. Kardec estudou o tema em diferentes momentos de sua obra, oferecendo uma visão abrangente que integra aspectos ontológicos, éticos e práticos.

Este artigo propõe um estudo didático sobre o pensamento a partir das obras da Codificação Espírita e da Revista Espírita, buscando destacar sua natureza, efeitos, responsabilidades e também suas patologias, como a obsessão, a subjugação e a possessão.

1) O que é o pensamento no Espiritismo

Para Kardec, o pensamento é atributo essencial do Espírito. Ele não se restringe à atividade intelectual, mas constitui uma força atuante que se projeta no meio espiritual e repercute nos fluidos. Assim, pensar é agir espiritualmente. (A Gênese, cap. XIV).

2) O pensamento e os fluidos: veículo de propagação

Segundo Kardec, “os fluidos são o veículo do pensamento”, tal como o ar transmite o som. Essa ação explica a propagação mental, comparável a “ondas e raios do pensamento” que se cruzam sem se confundir. (A Gênese, XIV).

3) A transmissão do pensamento e a prece

Em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XXVII), Kardec explica que a oração e o pensamento dirigido a alguém estabelecem correntes fluídicas, cujo alcance depende da intensidade da vontade. A prece sincera cria laços espirituais, atrai os bons Espíritos e pode alcançar encarnados e desencarnados à distância.

4) A influência dos Espíritos sobre os pensamentos humanos

Em O Livro dos Espíritos (q. 459–472), Kardec indaga sobre a influência oculta dos Espíritos. A resposta dos Instrutores Espirituais é clara: os Espíritos influenciam muito mais do que se supõe; frequentemente são eles que nos dirigem os pensamentos. O homem, entretanto, é responsável pela aceitação ou rejeição dessas sugestões, devendo discernir pelo conteúdo moral.

5) Pensamento, vontade e ação espiritual

Em diversas passagens da Revista Espírita e em A Gênese, Kardec explica que o Espírito age sobre os fluidos pelo pensamento e pela vontade, assim como o homem age com a mão sobre a matéria. Daí decorre a ideia de que o pensamento modela formas fluídicas, podendo construir ambientes, irradiar saúde ou enfermidade, paz ou perturbação.

6) Pensamento e mediunidade

No Livro dos Médiuns, o fenômeno mediúnico é definido como transmissão de pensamento do Espírito comunicante para o médium, mediada pelos fluidos. A psicografia é descrita por Kardec como a passagem do pensamento do Espírito pela mão do médium, o que evidencia a centralidade do pensamento em todo processo mediúnico.

7) A qualidade moral do pensamento

O pensamento possui qualidade moral, que determina a natureza de suas irradiações e das companhias espirituais que atrai. Kardec ressalta que a prece verdadeira é aquela que nasce do coração; palavras sem intenção não produzem efeito real. Dessa forma, a higiene mental consiste na vigilância constante, na prece sincera, no estudo e na prática do bem.

8) Patologias do pensamento: obsessão, subjugação e possessão

Kardec dedicou atenção especial às consequências negativas do uso desequilibrado do pensamento.

  • Obsessão: influência persistente de um Espírito inferior sobre um encarnado, afetando seus pensamentos e sentimentos.
  • Fascinação: forma mais grave, em que o Espírito obsessor domina as percepções do obsidiado, iludindo-o.
  • Subjugação: verdadeiro constrangimento, em que o obsidiado se sente dominado, chegando a atos involuntários.
  • Possessão: Kardec aborda o tema na Revista Espírita (dezembro/1863 e janeiro/1864, caso da Sra. Júlia) e em A Gênese. A possessão não deve ser entendida como invasão material do corpo, mas como uma forma extrema de subjugação moral e fluídica, em que o Espírito obsessor chega a se identificar e agir intensamente por meio do encarnado.

Em todos os casos, o antídoto está na educação do pensamento e na sintonia com os bons Espíritos, alcançada pela transformação moral progressiva, prece sincera, estudo e trabalho no bem.

9) Síntese doutrinária

  • Ontologia: o pensamento é força do Espírito que age sobre os fluidos.
  • Dinâmica: transmite-se por correntes proporcionais à vontade.
  • Ética: sua qualidade moral define os efeitos e companhias espirituais.
  • Patologia: o pensamento enfraquecido ou viciado pode abrir campo à obsessão, subjugação ou possessão.
  • Práxis: a vigilância mental, a prece, o estudo e a prática do bem educam o pensamento e fortalecem a alma.

Conclusão

O estudo do pensamento em Kardec revela a profundidade da Doutrina Espírita: cada ideia, cada sentimento é força viva, capaz de construir ou destruir, elevar ou degradar. Daí a importância da responsabilidade no pensar, pois o pensamento não é neutro: repercute em nós mesmos, nos outros e no ambiente espiritual que nos envolve.

Educar o pensamento é, portanto, educar a própria alma. E na medida em que elevamos nossa vida mental pelo bem, pela prece e pela vigilância, estabelecemos comunhão com Espíritos superiores e contribuímos para a regeneração moral da Humanidade.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857. Questões 459–472; 658–666.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 1861. Segunda Parte, caps. XII–XIV, XX, XXIII.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864. Cap. XXVII.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. 1868. Cap. XIV – Os fluidos.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita. Diversos números, especialmente jun/1859, dez/1863, jan/1864, jun/1868 (“Fotografia do pensamento”, “O caso da Sra. Júlia”).

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