Introdução
A expansão das redes sociais e da comunicação
digital multiplicou as vozes e os conteúdos que se apresentam como “espíritas”.
Mensagens atribuídas a Espíritos, textos psicografados, palestras e até
previsões de caráter místico circulam com grande rapidez, alcançando públicos
que antes tinham acesso apenas às obras da Codificação e a alguns clássicos
complementares.
Mas essa difusão, se por um lado amplia a
visibilidade do Espiritismo, por outro, coloca um desafio: como distinguir o
que de fato está em sintonia com a Doutrina Espírita daquilo que apenas utiliza
o rótulo “espírita”?
Este artigo busca
analisar racionalmente esse fenômeno, retomando o método espírita
como critério de discernimento, tal como estabelecido pelos Espíritos
Superiores e sistematizado por Allan Kardec.
1. O
Método Espírita: O Controle Universal do Ensino dos Espíritos (CUEE)
Kardec estabeleceu em O Evangelho segundo o
Espiritismo e na Revista Espírita que um ensino só pode ser
considerado genuinamente espírita quando:
- É concordante entre diversos médiuns e locais;
- É universal, ou seja, não depende da opinião isolada de um
grupo;
- É progressivo, acompanhando o desenvolvimento moral e
intelectual da humanidade.
Grande parte das mensagens que circulam na internet
não passa por esse critério. São comunicações isoladas, muitas vezes carregadas
de previsões apocalípticas ou de moralismos superficiais, sem coerência com o
corpo doutrinário.
2. A
Mitificação de Kardec e o Desvio Doutrinário
Assim este artigo procura esclarecer quanto a
construção de mitos em torno de Allan Kardec, também vemos na atualidade uma
multiplicação de narrativas que:
- Atribuem a Kardec encarnações passadas ou reencarnações posteriores
sem qualquer base documental;
- Colocam o codificador em posição de “santo” ou “guru religioso”, em
desacordo com seu papel de pesquisador e educador;
- Reproduzem “novas revelações” em seu nome ou em nome de Espíritos
famosos, sem fundamento na metodologia espírita.
Esse movimento contribui para que Kardec permaneça
um “desconhecido”, já que seu verdadeiro método é obscurecido por uma enxurrada
de interpretações fantasiosas.
3. O
Problema das Psicografias Virtuais
Na era digital, qualquer texto pode ser publicado
como se fosse “psicografado”. Isso gera dois riscos:
- Falsificação inconsciente: pessoas de boa-fé divulgam
mensagens “intuitivas” sem avaliar sua origem, acreditando tratar-se de
comunicação de Espíritos.
- Falsificação consciente: textos escritos por
terceiros são atribuídos a médiuns ou Espíritos conhecidos, apenas para
ganhar audiência.
O Espiritismo, porém, ensina que é preciso submeter
qualquer mensagem ao crivo da razão e do bom-senso (O Livro dos Médiuns,
cap. XXIV).
4. O
Papel do Espírita na Era Digital
Diante desse cenário, o espírita consciente deve
cultivar:
- Espírito crítico: não aceitar toda mensagem
como “verdade espiritual”;
- Fidelidade às obras fundamentais: sempre confrontar conteúdos
com a Codificação Espírita;
- Educação doutrinária: incentivar o estudo sério,
em vez de propagar mensagens de apelo emocional e frágil conteúdo.
Conclusão
O desafio do nosso tempo é resgatar Allan Kardec
não como mito ou figura religiosa, mas como educador e pensador lúcido
que nos legou um método racional para lidar com o mundo espiritual.
Enquanto a internet multiplica textos e mensagens
sob o rótulo de “espírita”, cabe a nós relembrar que nem tudo que se
apresenta como espiritismo é Espiritismo.
Seguir Kardec significa aplicar critérios claros,
preservar a coerência doutrinária e exercer a fé raciocinada — única capaz de
nos proteger contra a confusão entre verdade espiritual e fantasia.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
- KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
- ECK – Espiritismo com Kardec. Kardec, ainda esse desconhecido!
Disponível em: comkardec.net.br.
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