quinta-feira, 14 de agosto de 2025


O PENSAMENTO, O FLUIDO VITAL
E A CURA ESPIRITUAL À LUZ DO ESPIRITISMO
- A Era do Espírito -

Introdução

A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, trouxe à humanidade um novo entendimento sobre a vida, a saúde e as relações entre corpo e espírito. Entre os conhecimentos revelados, destaca-se a natureza e o papel do fluido vital — elemento indispensável à vida orgânica, que pode ser transmitido, renovado e influenciado pelo pensamento.

Na questão 70 de O Livro dos Espíritos e sua nota explicativa, Kardec esclarece que a quantidade desse fluido varia conforme os indivíduos e espécies, podendo ser transferida de um ser a outro, inclusive para reanimar uma vida prestes a se extinguir. Este conceito fundamenta práticas como o passe e outros métodos de tratamento espiritual, que se desenvolveram e se difundiram com a chegada do Espiritismo, ganhando clareza e base racional.

Este artigo examina, à luz das obras de Allan Kardec e da Revista Espírita, os princípios que regem o uso do fluido vital, o papel do pensamento na cura espiritual e os principais métodos reconhecidos pelo Espiritismo, ressaltando a tríade fundamental: pensamento, energia e espírito.

1. O fluido vital: fonte e transmissibilidade

Segundo Kardec, o fluido vital é uma modificação do fluido cósmico universal, indispensável à vida orgânica e distribuído de forma desigual entre os seres. Ele não é constante, esgota-se com o tempo e precisa ser renovado pela absorção de substâncias que o contenham (alimentos, respiração, reposição magnética).

A possibilidade de transmissão de fluido vital entre indivíduos explica fenômenos como:

  • Reanimações: transferência de energia vital para revitalizar um organismo enfraquecido.
  • Tratamentos magnéticos e passes: doações de fluido com qualidade específica determinada pelo pensamento do doador.

Na Revista Espírita de maio de 1863, Kardec comenta casos de cura e melhora física por ação magnética, destacando que a eficácia depende da qualidade dos fluidos e da sintonia moral do agente.

2. Pensamento, energia e espírito: a chave do Espiritismo

O pensamento, atributo essencial do espírito, atua diretamente sobre os fluidos, imprimindo-lhes direção e qualidade. Kardec, em A Gênese (cap. XIV), afirma: "O pensamento produz uma espécie de efeito físico que reage sobre o moral". Assim:

  • O pensamento positivo potencializa a ação curadora, qualificando os fluidos.
  • O pensamento negativo ou perturbado compromete o tratamento, contaminando os fluidos.

Essa tríade — pensamento, energia e espírito — está presente em todo fenômeno espírita, seja na reencarnação, nas leis morais ou nos tratamentos espirituais. Ignorá-la é perder a chave de compreensão da Doutrina.

3. O passe: transfusão fluídica

Embora a prática da imposição de mãos seja antiga e utilizada por Jesus e outros missionários, o Espiritismo lhe deu base conceitual, compreendendo-a como transfusão de energias vitais e espirituais.

No passe:

  • O passista atua como canal de transmissão de fluidos.
  • Os espíritos benfeitores podem intervir, qualificando ou ampliando a energia.
  • A eficácia depende mais do estado moral e mental do passista do que da forma de aplicação.

O próprio Kardec, na Revista Espírita (abril de 1865), adverte que a simplicidade deve caracterizar os atos espíritas, evitando rituais que transformem o passe em formalismo mecânico.

4. Outros métodos de cura espiritual

Além do passe, o Espiritismo reconhece:

  • Prece: mobiliza forças espirituais e fluidos sutis, podendo alcançar a cura quando compatível com a lei de causa e efeito (O Livro dos Espíritos, q. 661).
  • Receituário mediúnico: orientações terapêuticas transmitidas por espíritos, que podem combinar recursos da medicina humana e espiritual.
  • Operações espirituais: com ou sem uso de instrumentos, realizadas por espíritos médicos através de médiuns.
  • Tratamento à distância: emissão de fluidos e pensamentos curadores a quem se encontra ausente.

Todos esses métodos dependem de fatores conjugados: merecimento espiritual, sintonia mental, qualidade dos fluidos e, acima de tudo, a vontade e a fé.

5. Limites da cura espiritual

O Espiritismo não promete cura para todos os casos. Há situações em que a enfermidade é “o bem do doente”, servindo como expiação ou prova necessária ao progresso moral. Nessas circunstâncias, o tratamento pode proporcionar alívio, fortalecimento moral ou transformação interior, mas não a eliminação completa do mal físico.

Na Revista Espírita (julho de 1868), Kardec destaca que, mesmo diante da impossibilidade de cura, a ação espiritual pode preparar o indivíduo para suportar a prova com resignação.

Conclusão

O estudo do fluido vital e da ação do pensamento sobre a energia espiritual revela que a cura, no Espiritismo, é processo complexo e integral. Mais do que um ato mecânico, ela envolve:

  • Conhecimento doutrinário para compreender os mecanismos espirituais.
  • Moralidade e pureza de intenção do agente.
  • Conexão mental e espiritual com o paciente e com os bons espíritos.

Ao valorizar a tríade pensamento–energia–espírito, o Espiritismo oferece ao homem não apenas técnicas, mas princípios que podem ser aplicados na vida cotidiana para promover a saúde do corpo e da alma.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 80. ed. Brasília: FEB, 2009.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Brasília: FEB, 2008.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. Brasília: FEB, 2010.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita. 1858-1869. Brasília: FEB, edições diversas.
  • XAVIER, Francisco Cândido (pelo espírito André Luiz). Missionários da Luz. Brasília: FEB, 2009.
  • PIRES, José Herculano. O Passe Espírita. São Paulo: Paideia, 1975.

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