Introdução
A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec,
trouxe à humanidade um novo entendimento sobre a vida, a saúde e as relações
entre corpo e espírito. Entre os conhecimentos revelados, destaca-se a natureza
e o papel do fluido vital — elemento indispensável à vida orgânica, que
pode ser transmitido, renovado e influenciado pelo pensamento.
Na questão 70 de O Livro dos Espíritos
e sua nota explicativa, Kardec esclarece que a quantidade desse fluido varia
conforme os indivíduos e espécies, podendo ser transferida de um ser a outro,
inclusive para reanimar uma vida prestes a se extinguir. Este conceito
fundamenta práticas como o passe e outros métodos de tratamento
espiritual, que se desenvolveram e se difundiram com a chegada do Espiritismo,
ganhando clareza e base racional.
Este artigo examina, à luz das obras de Allan
Kardec e da Revista Espírita, os princípios que regem o uso do fluido
vital, o papel do pensamento na cura espiritual e os principais métodos
reconhecidos pelo Espiritismo, ressaltando a tríade fundamental: pensamento,
energia e espírito.
1. O
fluido vital: fonte e transmissibilidade
Segundo Kardec, o fluido vital é uma modificação do
fluido cósmico universal, indispensável à vida orgânica e distribuído de forma
desigual entre os seres. Ele não é constante, esgota-se com o tempo e
precisa ser renovado pela absorção de substâncias que o contenham (alimentos,
respiração, reposição magnética).
A possibilidade de transmissão de fluido vital
entre indivíduos explica fenômenos como:
- Reanimações: transferência de energia vital para
revitalizar um organismo enfraquecido.
- Tratamentos magnéticos e passes: doações de fluido com
qualidade específica determinada pelo pensamento do doador.
Na Revista Espírita de maio de 1863, Kardec
comenta casos de cura e melhora física por ação magnética, destacando que a
eficácia depende da qualidade dos fluidos e da sintonia moral do agente.
2.
Pensamento, energia e espírito: a chave do Espiritismo
O pensamento, atributo essencial do espírito, atua
diretamente sobre os fluidos, imprimindo-lhes direção e qualidade. Kardec, em A
Gênese (cap. XIV), afirma: "O pensamento produz uma espécie de
efeito físico que reage sobre o moral". Assim:
- O pensamento positivo potencializa a ação curadora,
qualificando os fluidos.
- O pensamento negativo ou perturbado compromete o tratamento,
contaminando os fluidos.
Essa tríade — pensamento, energia e espírito
— está presente em todo fenômeno espírita, seja na reencarnação, nas leis
morais ou nos tratamentos espirituais. Ignorá-la é perder a chave de
compreensão da Doutrina.
3. O
passe: transfusão fluídica
Embora a prática da imposição de mãos seja antiga e
utilizada por Jesus e outros missionários, o Espiritismo lhe deu base
conceitual, compreendendo-a como transfusão de energias vitais e espirituais.
No
passe:
- O passista atua como canal de transmissão de fluidos.
- Os espíritos benfeitores podem intervir, qualificando ou ampliando
a energia.
- A eficácia depende mais do estado moral e mental do passista do que
da forma de aplicação.
O próprio Kardec, na Revista Espírita (abril
de 1865), adverte que a simplicidade deve caracterizar os atos espíritas,
evitando rituais que transformem o passe em formalismo mecânico.
4. Outros
métodos de cura espiritual
Além do passe, o Espiritismo reconhece:
- Prece: mobiliza forças espirituais e fluidos sutis,
podendo alcançar a cura quando compatível com a lei de causa e efeito (O
Livro dos Espíritos, q. 661).
- Receituário mediúnico: orientações terapêuticas
transmitidas por espíritos, que podem combinar recursos da medicina humana
e espiritual.
- Operações espirituais: com ou sem uso de
instrumentos, realizadas por espíritos médicos através de médiuns.
- Tratamento à distância: emissão de fluidos e
pensamentos curadores a quem se encontra ausente.
Todos esses métodos dependem de fatores conjugados:
merecimento espiritual, sintonia mental, qualidade dos fluidos e, acima de
tudo, a vontade e a fé.
5.
Limites da cura espiritual
O Espiritismo não promete cura para todos os casos.
Há situações em que a enfermidade é “o bem do doente”, servindo como expiação
ou prova necessária ao progresso moral. Nessas circunstâncias, o tratamento
pode proporcionar alívio, fortalecimento moral ou transformação interior, mas
não a eliminação completa do mal físico.
Na Revista Espírita (julho de 1868), Kardec
destaca que, mesmo diante da impossibilidade de cura, a ação espiritual pode
preparar o indivíduo para suportar a prova com resignação.
Conclusão
O estudo do fluido vital e da ação do pensamento
sobre a energia espiritual revela que a cura, no Espiritismo, é processo
complexo e integral. Mais do que um ato mecânico, ela envolve:
- Conhecimento doutrinário para compreender os
mecanismos espirituais.
- Moralidade e pureza de intenção do agente.
- Conexão mental e espiritual com o paciente e com os
bons espíritos.
Ao valorizar a tríade pensamento–energia–espírito,
o Espiritismo oferece ao homem não apenas técnicas, mas princípios que podem
ser aplicados na vida cotidiana para promover a saúde do corpo e da alma.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 80. ed. Brasília: FEB,
2009.
- KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Brasília: FEB, 2008.
- KARDEC, Allan. A Gênese. Brasília: FEB, 2010.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita. 1858-1869. Brasília: FEB,
edições diversas.
- XAVIER, Francisco Cândido (pelo espírito André Luiz). Missionários
da Luz. Brasília: FEB, 2009.
- PIRES, José Herculano. O Passe Espírita. São Paulo: Paideia,
1975.
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