Jesus foi muito claro ao ensinar sobre o perdão.
Ele nos mostrou, por meio de suas palavras e exemplos, que perdoar não é apenas
uma opção, mas um caminho necessário para nossa paz interior, nosso crescimento
moral e nossa reconciliação com as leis divinas. A Doutrina Espírita, codificada
por Allan Kardec, reforça essa mensagem e nos convida a compreendê-la à luz da
razão, da moral e da justiça.
Em Mateus 18:21-22, Pedro pergunta a Jesus se
deveria perdoar seu irmão até sete vezes. Jesus responde: "Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete
vezes", ou seja, sempre. O número aqui usado por Jesus — 70 vezes 7 —
tem um profundo simbolismo espiritual. Mais do que uma multiplicação simples
(70 x 7 = 490), ele representa um princípio sem medida, indicando que o perdão
deve ser ilimitado. Em uma leitura simbólica mais ampla, esse "setenta
vezes sete vezes" pode ser interpretado como 70 elevado à sétima
potência (70⁷) — ou seja, 823.543.000.000 vezes, um número
gigantesco que reforça a ideia de que o perdão não deve ter fim, sendo
praticado sempre, em toda e qualquer situação, quantas vezes forem necessárias.
O perdão verdadeiro é incondicional, nasce do
coração e exige esquecimento da ofensa. Não se trata de dizer "perdoo, mas não esqueço",
pois isso ainda guarda ressentimento.
Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo,
destaca que o perdão sincero é aquele que se traduz em atos. A reconciliação
não pode depender do arrependimento do outro. Sejamos nós os primeiros a tomar
a iniciativa, como Jesus ensinou:
• "Se teu irmão pecar contra
ti, vai e repreende-o entre ti e ele só" (Mateus 18:15).
• "Reconcilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás a caminho
com ele" (Mateus 5:25).
• "Se ao trazeres tua oferta ao altar lembrares que teu irmão tem algo
contra ti, deixa ali tua oferta e vai reconciliar-te" (Mateus 5:23-24).
Esses ensinos revelam que o perdão é urgente, ativo
e pessoal. Não é para depois. É para agora, nesta vida, nesta caminhada.
Quando não perdoamos, alimentamos sentimentos
negativos como raiva e mágoa. Isso cria laços espirituais com o adversário, que
podem se prolongar até em futuras reencarnações, gerando obsessão e sofrimento.
Ao perdoar, rompemos esses laços, libertando a nós mesmos e ao outro.
A Doutrina Espírita explica que todos somos
responsáveis por nossos atos. Quando erramos, somos chamados a reparar. E o
perdão que recebemos está ligado ao que damos. "Perdoai as nossas ofensas, assim como perdoamos aos que nos
ofenderam", ensina a prece dominical.
Na chamada "Casa do Perdão", aprendemos
que há dois caminhos para reparar nossos erros:
- Pelo amor: através do arrependimento, da transformação íntima e da reparação voluntária.
- Pela dor: através de provas e expiações mais difíceis, em vidas futuras, quando resistimos à mudança.
A primeira via é mais leve e consciente, ainda que
exija esforço e humildade. O arrependimento é o primeiro passo, mas deve ser
seguido da transformação íntima – mudança real de atitudes – e da reparação ao
ofendido, sempre que possível.
O Espiritismo nos assegura que Deus é infinitamente
justo e bom. Ele não castiga por vingança, mas educa por amor. Nunca seremos
abandonados. Sempre teremos novas oportunidades de aprender, recomeçar e
evoluir, como mostra a "Parábola do Filho Pródigo" (Lucas 15:11-32).
Perdoar é, acima de tudo, um ato de libertação. É
recusar ser prisioneiro do passado. Quem perdoa de verdade previne sofrimentos,
evita débitos e se alinha com as leis de Deus. E como Jesus disse na cruz,
diante de seus algozes: "Pai,
perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem" (Lucas 23:34).
Sigamos o exemplo do Mestre. Que nossa consciência
possa, todas as noites, dormir em paz, dizendo: "Nada tenho contra o meu próximo.".
Referências:
• Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
FEB.
• Fernando A. Moreira. A Casa do Perdão.
• Abel Glaser (espírito Caibar Schutel). Fundamentos da Reforma Íntima.
• Vinicius. Na Seara do Mestre. FEB.
• Caibar Schutel. Parábolas e Ensinos de Jesus.
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