"O trabalho é uma lei da natureza, e por isso
mesmo é uma necessidade."
— O Livro dos Espíritos, questão 674, Allan Kardec
Imagine duas cidades: uma no alto da montanha,
vibrante, limpa, em progresso constante; outra no vale, estagnada, suja, doente
e desorganizada. O que as distingue não são os recursos naturais, nem uma
misteriosa bênção ou maldição, mas algo simples e profundo: a presença ou
ausência do trabalho como valor coletivo e força transformadora da vida.
Inspirado em uma narrativa simbólica, esse artigo
busca refletir, à luz da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, sobre o
papel do trabalho como lei divina, caminho de progresso e fator essencial de
saúde física, mental e espiritual.
A Lei do
Trabalho: Fundamento da Evolução Humana
Na cidade do alto da montanha, o trabalho não é
visto como castigo, mas como fonte de dignidade e harmonia. As famílias
trabalham, as escolas educam, as praças florescem, e o bem-estar é evidente. Em
contraste, no vale, a ociosidade se instala, e com ela vêm a sujeira, a doença
e o atraso.
Essa imagem ilustra com clareza a Lei do Trabalho.
Segundo os Espíritos, o trabalho é uma necessidade que acompanha o progresso
dos mundos. Ele não se resume à atividade manual ou profissional, mas abrange
toda ocupação útil — inclusive o cultivo moral e intelectual.
A função educativa e regeneradora do trabalho está
diretamente ligada à Lei do Progresso. Quando Kardec pergunta se o trabalho é
uma consequência da imperfeição humana, os Espíritos respondem que o trabalho é
uma consequência da natureza do Espírito, e que mesmo nos mundos mais evoluídos
ele existe, embora sob formas mais sutis e prazerosas.
Ociosidade:
Mãe de muitos Males
Na cidade do vale, predomina a filosofia do “deixar para depois”. As ruas estão
sujas, a saúde pública em colapso, e o povo se entrega à inércia. Tal situação
ecoa a advertência de que a ociosidade é terreno fértil para os vícios, os
desequilíbrios emocionais e as perturbações morais.
A ociosidade é matriz de muitos males que
atormentam os seres humanos. Quando o ser humano se afasta do labor que o
dignifica e eleva, desconecta-se das leis naturais que regem a ordem dos
mundos. Nas palavras de Jesus: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho
também” (João 5:17), ensinando que até Deus se expressa por meio da ação.
A Doutrina Espírita compreende o trabalho não como
punição, mas como meio de desenvolvimento da inteligência, do caráter, da
sensibilidade e da solidariedade. Assim, viver ociosamente é negar a si mesmo a
oportunidade de crescer e contribuir com o bem comum.
O
Trabalho como Serviço e Progresso do Espírito
Para o Espiritismo, o trabalho não deve ter por fim
exclusivo o lucro ou a recompensa material. Ele deve também colaborar com o
progresso espiritual da humanidade, com a construção de um mundo mais justo,
belo e fraterno. Toda tarefa útil — quando realizada com consciência, dedicação
e amor — transforma-se em serviço divino.
É nesse espírito que podemos compreender a
diferença entre as duas cidades: uma cultivou a ação como princípio de vida,
enquanto a outra se entregou à inércia, tornando-se vulnerável à degradação e
ao sofrimento.
O progresso de um povo está diretamente ligado à
sua disposição em se educar e trabalhar. E isso começa no núcleo familiar,
estendendo-se à sociedade como um todo.
Conclusão:
Escolher o Alto da Montanha
A metáfora das duas cidades nos propõe uma escolha:
permanecer no vale da ociosidade e da estagnação ou ascender à montanha do
trabalho, da saúde e do progresso. Como ensinou Kardec, a evolução espiritual é
obra do próprio Espírito, auxiliada pelas leis divinas.
Trabalhar é viver em sintonia com o Criador. É
transformar o mundo e a si mesmo, elevando a existência do nível instintivo ao
nível da consciência. O trabalho é, portanto, não só um dever, mas uma bênção —
e o caminho mais seguro para a regeneração individual e coletiva.
Referências doutrinárias e complementares:
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Livro Terceiro,
Capítulo III – Lei do Trabalho.
- Momento Espírita – Texto base, momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=5533&let=P&stat=0
- CARVALHO, Marilena Mota Alves de; CAVALCANTI, Vera Verônica do
Nascimento; LEITE, Berenice Castro Gonçalves; MEDEIROS, Nancy. O melhor
é viver em família, vol. 9. CELD.
- CARVALHO, Marilena Mota Alves de, et al. Atualidade do
Pensamento Espírita. CELD. Cap. 1.4, questão 33.
- Bíblia Sagrada. João 5:17.
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