O
gabinete de uma escola tornou-se, por alguns minutos, palco de um drama humano
e espiritual. Um jovem de dezesseis anos, desajustado, desacreditado por seus
educadores e diante do risco iminente de expulsão, aguardava a sentença de um
destino que poderia marcar profundamente seu futuro.
Era
apenas mais um "caso difícil", diria o senso comum. Mas para o
professor de Física, educador por excelência, era uma alma em sofrimento.
Diante do silêncio carregado de julgamento e da tensão contida no ambiente, ele
optou por uma abordagem não apenas pedagógica, mas profundamente humana. Em vez
de somar sua voz aos discursos de rejeição, ele abriu espaço para o afeto, que,
ao vibrar em palavras simples, tocou o cerne daquele jovem espírito.
Foi
naquele instante, quando a mãe, amparada pelo acolhimento do professor, rompeu
sua rigidez emocional e o chamou de “meu filho”, que se operou uma
transformação silenciosa — e profundamente espiritual.
Sob a luz do Espiritismo
A
Doutrina Espírita nos ensina que todos somos Espíritos em evolução, com
histórias pregressas marcadas por erros, acertos, quedas e reerguimentos.
Ninguém está condenado eternamente ao fracasso. Ao contrário, o progresso é lei
divina, como afirma O Livro dos Espíritos em sua terceira parte, que
trata das Leis Morais. Todos estamos destinados ao bem, ainda que em diferentes
ritmos.
Esse
jovem que chorou ao ouvir, pela primeira vez, um chamado afetivo e reconhecedor,
trazia consigo, talvez, mágoas inconscientes, carências afetivas profundas ou
experiências traumáticas de outras vidas que se manifestavam em forma de
rebeldia. Para o olhar superficial, ele era apenas um "problema".
Para o olhar espiritual, era uma alma em processo de cura.
O
Espiritismo, ao lançar luz sobre a reencarnação e a lei de causa e efeito, nos
ajuda a compreender que as dificuldades morais da infância e da juventude não
são meros desvios acidentais, mas revelações de desafios reencarnatórios. No
capítulo V de O Evangelho segundo o Espiritismo, intitulado
“Bem-aventurados os aflitos”, Allan Kardec mostra que as provações, inclusive
as ligadas aos laços familiares, são oportunidades de reajuste e crescimento.
A missão da família e da escola
No
lar, pais e mães não recebem filhos ao acaso. Eles são Espíritos que retornam
ao convívio familiar por vínculos profundos do passado. Muitas vezes, os mais
difíceis são justamente aqueles que mais necessitam de amor, paciência e
exemplos edificantes. O capítulo XIV de O Evangelho segundo o Espiritismo,
“Honrai a vosso pai e a vossa mãe”, apresenta de forma clara que a paternidade
e a maternidade são missões sagradas, em que se testam o amor e a renúncia.
A
escola, por sua vez, também participa desse processo. Educadores, conscientes
da importância espiritual do seu papel, não devem apenas instruir, mas educar
com o coração — como fez aquele professor de Física. Emmanuel, no livro Caminho,
Verdade e Vida (psicografia de Chico Xavier), afirma:
“O professor que ensina
com amor educa duas vezes: pelo conteúdo e pelo exemplo.”
Expulsar
um aluno sem tentar compreender suas dores, sem uma última tentativa de
aproximação afetiva, pode significar uma ruptura prematura no projeto
reencarnatório desse Espírito.
Palavras que restauram
As
palavras possuem poder vibratório. Quando carregadas de sentimento sincero,
podem penetrar barreiras que resistiriam às punições mais severas. No episódio
citado, a frase “meu filho”, dita com ternura pela mãe, foi mais eficaz do que
qualquer sermão moralizante.
Essa
verdade espiritual está ilustrada em diversas passagens evangélicas. O próprio
Cristo curava e transformava pelo amor que irradiava. Ele via além das
aparências, identificando a dor onde muitos apenas viam erro. E dizia: “Não vim chamar os justos, mas os pecadores
ao arrependimento.” (Lucas 5:32)
Assim
também agiu o professor — reconheceu naquele jovem a alma em luta e semeou a
esperança, favorecendo um reencontro afetivo entre mãe e filho. Foi uma
intervenção que poderia parecer pequena aos olhos do mundo, mas que mudou o
rumo de uma vida inteira.
Reeducação moral: tarefa de todos
A
transformação daquele jovem foi possível porque houve um ambiente espiritual
propício: acolhimento, amor, empatia. A mudança verdadeira nasce no coração,
quando este é tocado pela luz do afeto.
No
capítulo “Educação” de O Livro dos Espíritos (questão 917), Kardec
anota, com base nos ensinamentos dos Espíritos:
“A educação,
convenientemente entendida, é a chave do progresso moral.”
Educar,
portanto, não é apenas transmitir conhecimento, mas despertar o Espírito para
os valores eternos da fraternidade, do respeito, do perdão e do amor.
Conclusão: o amor que salva
O
Espiritismo nos oferece ferramentas preciosas para enxergar além das aparências,
compreendendo que todo ato de carinho, toda escuta paciente, todo gesto de amor
pode ser o ponto de virada na existência de alguém.
O
episódio vivido naquela escola nos lembra que, em vez de julgarmos ou
descartarmos os que erram, precisamos ser instrumentos do bem — como aquele
professor que soube usar sua posição para construir e não para condenar.
Jesus
afirmou:
“Não apagueis o pavio
que fumega.”
(Isaías 42:3, citado em Mateus 12:20)
Há
sempre uma centelha de luz em cada criatura, esperando ser alimentada pelo
calor do amor verdadeiro. Que nós sejamos aqueles que, ao invés de julgar,
acendemos novamente a chama da esperança nos corações sofridos.
Referências doutrinárias:
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. Parte III – Leis Morais.
- KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. V – Bem-aventurados os aflitos;
Cap. XIV – Honrai a vosso pai e a vossa mãe.
- XAVIER, Francisco
Cândido (Emmanuel). Caminho, Verdade e Vida. FEB.
- Momento Espírita.
“Meu filho”. Disponível em: momento.com.br
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