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Por uma saúde integral do ser –
“A
Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana; uma revela
as leis do mundo material e a outra as do mundo moral.” —
Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. I, item 8.
A relação entre ciência e espiritualidade,
especialmente no campo da saúde, tem se tornado uma temática cada vez mais
presente nos debates contemporâneos. No Brasil, onde a Doutrina Espírita
codificada por Allan Kardec encontra solo fértil para sua prática e estudo,
essa integração ganha contornos significativos com a atuação de médicos
médiuns, hospitais espíritas e centros de cura espiritual que propõem uma
abordagem holística do ser humano.
A Ciência
e a Espiritualidade como Caminhos Complementares
A Doutrina Espírita se apoia sobre três pilares
indissociáveis: ciência, filosofia e moral (no sentido ético). Desde O
Livro dos Espíritos (1857), Allan Kardec propõe que o conhecimento do mundo
espiritual deve ser submetido ao crivo da razão, da observação e da
experimentação. O Espiritismo, portanto, é uma ciência de observação dos
fenômenos espirituais e uma filosofia com consequências morais, conforme
definido em O que é o Espiritismo.
Kardec afirmava que, no futuro, ciência e
espiritualidade caminharão juntas, complementando-se na busca pela verdade.
Esse futuro começa a despontar na medida em que estudiosos, médicos, psicólogos
e terapeutas passam a considerar o ser humano em sua totalidade
biopsicossocioespiritual.
A
Medicina Espírita e a Saúde Integral
O Espiritismo oferece uma visão integral do ser
humano, que reconhece a existência de um corpo físico, um perispírito
(corpo espiritual) e o Espírito imortal. Assim, doenças não são vistas apenas
como desequilíbrios físicos, mas podem ter origem em distúrbios espirituais,
traumas de vidas passadas, obsessões espirituais ou desequilíbrios morais. Esse
entendimento fundamenta o que muitos chamam de “medicina espírita”,
expressão que, embora não oficializada por Kardec, designa práticas
terapêuticas integradas com os princípios espíritas.
Nesse campo, destacam-se:
- A água fluidificada – energizada por Espíritos
benfeitores, atua como um recurso auxiliar na harmonização do organismo.
- O passe espírita – transmissão de fluidos
benéficos por meio da imposição de mãos, promovendo equilíbrio
perispiritual e físico.
- Sessões de desobsessão – tratamentos espirituais
para casos de influência de Espíritos obsessores, envolvendo doutrinação e
auxílio mútuo.
Essas práticas não substituem o tratamento médico
tradicional, mas o complementam, promovendo a cura integral: do
corpo, da mente e da alma.
Os
Médicos Médiuns e a Interação com o Plano Espiritual
Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns,
classifica os diferentes tipos de mediunidade e reconhece que alguns
profissionais, como médicos, podem atuar com sensibilidade mediúnica, recebendo
intuições ou inspirações do plano espiritual. No Brasil, há relatos de médicos
que se consideram instrumentos de Espíritos protetores, conduzindo seus
atendimentos com ética e ciência, mas também com sensibilidade espiritual.
Esses profissionais não realizam curas
sobrenaturais, mas acolhem a dimensão espiritual do paciente, muitas
vezes negligenciada pela medicina convencional. Essa postura não viola o método
científico, mas o expande, considerando os aspectos subjetivos e
espirituais do sofrimento humano.
A Visão
Espírita da Cura
Segundo os Espíritos superiores, a verdadeira cura
é a transformação moral do ser. Em O Evangelho segundo o Espiritismo,
capítulo XXVIII, encontramos orações que ensinam a buscar a saúde com fé,
resignação e transformação íntima. A dor, muitas vezes, é um agente educativo,
e a doença pode ser oportunidade de crescimento e resgate de débitos do
passado.
Assim, a atuação conjunta entre médicos e médiuns,
entre ciência e espiritualidade, não busca apenas eliminar sintomas, mas restabelecer
a harmonia do ser integral. Como ensina o Espírito Emmanuel, pela
psicografia de Chico Xavier:
“Não
existe cura verdadeira sem renovação interior.”
Um Novo
Paradigma para a Saúde
A crescente aceitação da espiritualidade na prática
médica reflete um movimento coletivo de retorno à essência. A Organização
Mundial da Saúde (OMS), inclusive, reconhece desde 1984 a dimensão espiritual
como parte da saúde plena.
A contribuição do Espiritismo é oferecer, com base
em princípios racionais, morais e científicos, uma ponte segura entre o
conhecimento material e o espiritual. Essa ponte é trilhada por médicos,
médiuns, terapeutas e estudiosos comprometidos com a cura do ser em sua
plenitude.
Considerações
Finais
A saúde do futuro – conforme vislumbrada por Kardec
e outros pensadores espiritualistas – será aquela que trata o ser humano em sua
unidade indivisível, respeitando sua complexidade física, psíquica e
espiritual. O diálogo entre ciência e espiritualidade não é apenas possível,
mas necessário para uma medicina mais humana, ética e eficaz.
O Espiritismo nos convida a abrir os olhos da razão
sem fechar os olhos da fé, unindo o progresso intelectual à elevação moral. E,
nesse caminho, médicos e médiuns, ciência e espiritualidade, marcham juntos
pela saúde integral do ser imortal.
Referências:
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB.
- KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. FEB.
- KARDEC, Allan. A Gênese. FEB.
- XAVIER, Francisco Cândido. Pensamento e Vida, pelo Espírito
Emmanuel. FEB.
- DENIS, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor. FEB.
- Organização Mundial da Saúde – Declaração de Alma-Ata (1978) e
reconhecimentos posteriores sobre espiritualidade e saúde.
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