segunda-feira, 25 de agosto de 2025

OBSESSÃO, SUBJUGAÇÃO E POSSESSÃO: 
UMA ANÁLISE ESPÍRITA 
À LUZ DO EVANGELHO E DA CODIFICAÇÃO ESPÍRITA
- A Era do Espírito -

Introdução

O Evangelho apresenta diversas passagens em que Jesus liberta enfermos de influências espirituais nocivas, tradicionalmente denominadas como “demônios”. Em Mateus (17:14-18), lemos o episódio em que um pai aflito implora ao Mestre pela cura de seu filho, que sofria crises de queda no fogo e na água, fenômenos hoje compreendidos pelo Espiritismo como manifestações obsessivas graves.

Para muitos, o texto bíblico reflete apenas uma visão mística do passado. Contudo, à luz da Doutrina Espírita, vemos que ele traduz realidades espirituais ainda presentes em nosso tempo. A obsessão — definida por Allan Kardec como a ação persistente de Espíritos inferiores sobre os encarnados — é um fenômeno universal, que explica inúmeros transtornos emocionais, psíquicos e até físicos, sem excluir as causas orgânicas reconhecidas pela ciência.

Neste artigo, analisaremos a obsessão, suas causas, graus e tratamentos, destacando também os conceitos de subjugação e possessão, conforme expostos por Kardec na Revista Espírita (dezembro de 1863 e janeiro de 1864, caso da Sra. Júlia) e em A Gênese (cap. XIV, itens 45 a 49).

A Obsessão segundo a Doutrina Espírita

A obsessão é uma enfermidade espiritual que consiste no constrangimento exercido por um Espírito sobre outro, afetando sua liberdade e equilíbrio. Allan Kardec (O Livro dos Médiuns, cap. XXIII) explica que tal influência só é possível quando há sintonia moral entre obsessor e obsediado.

A Revista Espírita (outubro de 1858) descreve a ação incessante dos Espíritos sobre os homens, sejam eles benévolos ou malévolos. Os primeiros nos inspiram ao bem; os segundos nos induzem ao erro. O grau de ação dos maus Espíritos varia entre:

  1. Obsessão simples – influência insistente, porém ainda resistível.
  2. Fascinação – domínio sutil sobre o raciocínio, levando o indivíduo a ilusões perigosas.
  3. Subjugação – forma mais grave, em que o Espírito obsessor impõe sua vontade de maneira constrangedora, chegando a dominar os atos do encarnado.

Subjugação e Possessão: Clarificações Doutrinárias

Na Revista Espírita (dezembro de 1863 e janeiro de 1864), Kardec analisa o célebre caso da Sra. Júlia, em que uma jovem apresentava crises violentas, com manifestações que lembravam epilepsia. O fenômeno, à época tido como “possessão demoníaca”, foi explicado pelo Codificador como um processo obsessivo levado ao extremo da subjugação corpórea, em que o Espírito obsessor domina temporariamente o corpo do encarnado.

Kardec distingue obsessão de possessão. Em A Gênese, cap. XIV, itens 45 a 49, ele afirma:

  • O termo “possessão” pode ser utilizado como figura de linguagem, para designar os casos em que o obsessor substitui momentaneamente a ação da alma encarnada.
  • Entretanto, não há “entrada” ou “tomada de posse” do corpo por outro Espírito, como supunham as antigas crenças. O que ocorre é um domínio fluídico e psíquico sobre o perispírito do encarnado.
  • O fenômeno é comparável a uma obsessão em seu grau máximo, onde o Espírito encarnado se encontra paralisado em sua resistência.

Assim, o relato de Mateus (17:14-18), quando analisado sob a ótica espírita, mostra-se como um caso clássico de subjugação corpórea, em que a ação obsessiva era tão intensa que produzia crises convulsivas e perda momentânea do controle físico.

Causas da Obsessão

Kardec e os Espíritos da Codificação apontam quatro causas principais:

  1. Morais – ligadas às imperfeições e vícios que nos tornam vulneráveis (orgulho, egoísmo, sensualidade, vícios materiais).
  2. Relativas ao passado – desavenças de encarnações anteriores que se prolongam em perseguições espirituais.
  3. Contaminações fluídicas – resultado da frequência a ambientes ou práticas espirituais inferiores.
  4. Anímicas (auto-obsessão) – quando o indivíduo se aprisiona em pensamentos mórbidos, atraindo Espíritos em sintonia.

Tratamento Espírita da Obsessão

O tratamento da obsessão, conforme ensinam Kardec e os Espíritos, é sempre de caráter moral e espiritual. Entre os recursos fundamentais estão:

  • Transformação íntima – melhoria dos hábitos, vigilância dos pensamentos e práticas evangélicas.
  • Evangelização – estudo e vivência do Evangelho como roteiro de libertação.
  • Prece e passes – reposição fluídica e fortalecimento da vontade do encarnado.
  • Diálogo fraterno com o obsessor – nas reuniões mediúnicas sérias, conduzidas por trabalhadores experientes.
  • Assistência médica – quando a obsessão se associa a distúrbios orgânicos ou psíquicos.

Jesus, no episódio do jovem lunático, nos dá a chave essencial: a autoridade moral, a fé e a confiança em Deus são os recursos mais poderosos na libertação espiritual.

Conclusão

A obsessão, a subjugação e até os casos ditos de “possessão” nada mais são que consequências da lei de afinidade e da lei de causa e efeito, em que Espíritos encarnados e desencarnados interagem de acordo com seu estado moral.

A Doutrina Espírita, pela codificação de Allan Kardec, esclarece o que antes era envolto em misticismo e medo. Ensina que não existem demônios eternos, mas Espíritos ignorantes em processo de aprendizado. A libertação do obsediado não depende apenas de rituais exteriores, mas da transformação moral que reconduz o homem à sintonia com os Espíritos superiores.

Assim, compreendemos melhor as palavras de Jesus: “Este gênero não se expulsa senão pela oração e pelo jejum” (Mateus 17:21), significando que apenas pela prece sincera e pela disciplina interior conseguimos afastar as influências inferiores, substituindo-as pela presença luminosa do Cristo em nossas vidas.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. FEB.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. FEB, cap. XIV, itens 45-49.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita, dezembro de 1863 e janeiro de 1864: “O caso da Sra. Júlia”.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita, outubro de 1858.
  • O Novo Testamento – Evangelho de Mateus e Lucas.

 

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