Introdução
O
preconceito, em suas variadas manifestações, é um dos mais graves entraves ao
progresso moral da Humanidade. Resultado do egoísmo e do orgulho, ele se
apresenta como julgamento precipitado, exclusão e violência, separando os
indivíduos e retardando a fraternidade universal.
A
Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, denuncia o preconceito como
expressão da inferioridade moral ainda predominante na Terra, mundo de provas e
expiações. Nos ensinos dos Espíritos e nas páginas da Revista Espírita
(1858-1869), observa-se com clareza que a missão do Espiritismo é iluminar
consciências, libertando-as da ignorância e da intolerância, que se enraízam no
egoísmo humano.
O Preconceito como Herança do Egoísmo
O
preconceito é herança do primarismo humano, quando predominava a busca
exclusiva de prazer e vantagem pessoal. Ele se manifesta como chaga moral que
divide, inferioriza e alimenta rivalidades.
Em O
Livro dos Espíritos (questões 785-786), os Espíritos Superiores explicam
que o progresso moral acompanha o progresso intelectual, mas o egoísmo e o
orgulho constituem os maiores obstáculos à fraternidade. O preconceito, nesse
contexto, é uma das faces mais visíveis do egoísmo coletivo, responsável por
guerras, perseguições religiosas, políticas e raciais.
Preconceito Religioso e Científico
Ao
longo da história, grandes missionários e pensadores foram perseguidos em nome
do preconceito. Jesus, que trouxe ao mundo a Boa Nova do amor universal, foi
vítima da intolerância religiosa de fariseus e doutores da lei. Outros, como
João Huss, Jerônimo de Praga e Lutero, sofreram perseguições por desafiarem
dogmas e estruturas de poder.
Também
no campo científico, homens como Copérnico, Galileu e Newton enfrentaram a
resistência de preconceitos oriundos da fé cega e do materialismo estagnado.
Kardec, em sua própria trajetória, conheceu o peso do preconceito científico e
religioso contra o Espiritismo. Nas páginas da Revista Espírita (1859,
1860 e anos seguintes), ele relata as críticas recebidas, que partiam tanto de
religiosos ortodoxos quanto de cientistas materialistas, mas que acabavam
desmentidas pelos fatos.
Exemplos de Superação do Preconceito
A
história moderna testemunhou a luta de espíritos abnegados contra o
preconceito. Gandhi combateu o preconceito racial e político pela via da não
violência, sendo, no entanto, vítima da intolerância. Martin Luther King Jr.,
inspirado na mensagem cristã, enfrentou humilhações e perseguições, sacrificando-se
pela causa da igualdade racial.
Essas
vidas demonstram que o preconceito pode retardar, mas não impedir o avanço
moral da humanidade. Emmanuel, em A Caminho da Luz, ensina que o Cristo
conduz a história humana rumo à fraternidade universal, apesar dos reveses
temporários.
O Espiritismo e a Superação do Preconceito
A
Doutrina Espírita ensina que todo preconceito é contrário à Lei de Igualdade
(cf. O Livro dos Espíritos, questão 803). Perante Deus, todos os
Espíritos são criados simples e ignorantes, destinados à perfeição, e a
diversidade de raças, culturas e crenças faz parte da pluralidade necessária ao
progresso coletivo.
Kardec,
na Revista Espírita de abril de 1865, observa que a fraternidade é a
base da regeneração da Humanidade e que todas as lutas e resistências contra
esse princípio são apenas provas transitórias.
Jesus,
modelo e guia da Humanidade, rompeu com todos os preconceitos de seu tempo —
contra mulheres, estrangeiros, publicanos, samaritanos e enfermos — instaurando
uma nova era de união espiritual. O Espiritismo, como Consolador Prometido,
retoma essa mensagem e convida os homens a combaterem toda forma de exclusão e
intolerância.
Conclusão
O
preconceito é atraso ético e espiritual, expressão de egoísmo e ignorância que
ainda resiste nas sociedades humanas. Combatê-lo é tarefa de educação moral e
espiritual, tanto individual quanto coletiva.
A
Doutrina Espírita nos convida a superar preconceitos de cor, raça, crença,
política ou ciência, iluminando a consciência com o Evangelho de Jesus e com o
esclarecimento racional das leis divinas. A verdadeira fraternidade universal,
objetivo da Humanidade regenerada, só será alcançada quando todos reconhecerem
no próximo um irmão em Deus, herdeiro da mesma destinação imortal.
Referências
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. 1ª ed. 1857.
- KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo. 1ª ed. 1864.
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos (1858-1869). Diversos
números.
- KARDEC, Allan. A
Gênese. 1ª ed. 1868.
- XAVIER, Francisco
Cândido (pelo Espírito Emmanuel). A Caminho da Luz. FEB, 1939.
- FRANCO, Divaldo P.
(pelo Espírito Joanna de Ângelis). Estudos Espíritas. LEAL, 1976.
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