sexta-feira, 22 de agosto de 2025

REENCARNAÇÃO E DESENCARNAÇÃO
À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
- A Era do Espírito -

Introdução

A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec a partir de 1857, apresenta uma visão profunda e esclarecedora sobre os processos de reencarnação e desencarnação, compreendidos como momentos essenciais na trajetória evolutiva do Espírito. Longe de serem eventos isolados, ambos os fenômenos constituem etapas naturais do progresso humano, submetidos às Leis Divinas que regem a vida universal.

Nas páginas de O Livro dos Espíritos e nas análises subsequentes da Revista Espírita (1858-1869), encontramos orientações que descrevem o início da reencarnação, a adaptação progressiva do Espírito ao corpo físico e a desencarnação como retorno ao estado espiritual, condicionado pela conduta moral e pelas escolhas realizadas no período corporal.

Este texto procura destacar com clareza a função educativa desses dois polos da vida, apontando a necessidade de se aproveitar, de modo edificante, cada oportunidade de aprendizado e transformação interior.

O Processo de Reencarnação

Desde o instante em que o Espírito inicia a ligação fluídica com o corpo em formação, através do perispírito, opera-se um processo de impregnação material que se intensifica até a infância e juventude. Conforme descreve O Livro dos Espíritos (questões 344 a 354), esse mergulho na carne implica a perda parcial da memória das existências passadas, recurso providencial que favorece o livre-arbítrio.

Durante esse período, as lembranças latentes se traduzem em tendências, aptidões, vícios e virtudes que o Espírito carrega como herança de si mesmo. A convivência com a família corporal e espiritual favorece o despertar de lembranças e a vivência de provas e expiações, conforme a lei de causa e efeito.

Allan Kardec registra na Revista Espírita de abril de 1866 que a infância não é apenas fragilidade do corpo, mas também uma forma de reeducação da alma, que, ao passar por essa fase, encontra oportunidade de maleabilidade moral.

A Experiência na Vida Corporal

Cada existência representa um campo imenso a ser trabalhado. O Espírito dispõe de recursos adormecidos, que podem ser desenvolvidos pela vontade firme, ou, ao contrário, pode recair nos atavismos prejudiciais e repetir experiências amargas.

As lutas sociais, os relacionamentos e os desafios cotidianos funcionam como ferramentas de lapidação, preparando o ser humano para conquistas morais mais elevadas. Nesse aspecto, a vida física não é punição, mas investimento divino, como explica O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. V e XVII).

A utilização correta do livre-arbítrio transforma paixões dissolventes em energias sublimes, enquanto o mau uso gera condicionamentos psíquicos doentios, que repercutirão tanto no corpo presente quanto no estado espiritual futuro.

O Momento da Desencarnação

A morte física, ensina a Doutrina Espírita, não é ruptura, mas transição. O Livro dos Espíritos (questões 149-165) esclarece que a desencarnação devolve ao Espírito a liberdade relativa de que desfrutava na erraticidade.

Entretanto, a forma como se dá o desligamento depende da vida anterior e das disposições íntimas. Quando precedida de doença prolongada, acompanhada de resignação e fé, a desencarnação pode ser rápida e suave, permitindo ao Espírito recobrar a lucidez sem maiores dificuldades. Ao contrário, quando ocorre de modo brusco e o indivíduo permanece preso às paixões materiais, sobrevém a perturbação, descrita por Kardec em diversas narrativas da Revista Espírita (ex.: dezembro de 1858; fevereiro de 1860).

Paixões como orgulho, ciúme, ódio e traição envenenam o ser e prolongam o sofrimento após a morte, resultando em tormentos purificadores. Já os que viveram no bem encontram libertação imediata, comprovando a sabedoria do adágio: “Tal vida, qual morte.”

Reflexão Final

A reencarnação e a desencarnação são faces de um mesmo processo educativo e regenerador. O Espírito, ao reencarnar, recebe um valioso patrimônio de oportunidades, e, ao desencarnar, devolve à Vida Espiritual os frutos do seu empenho ou da sua negligência.

A Doutrina Espírita convida-nos a valorizar o tempo presente, trabalhando as virtudes, domando as más inclinações e aplicando as lições de cada experiência. Assim, o investimento da vida corporal se transforma em conquista espiritual, ornada de bênçãos que nos aproximam das esferas superiores.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1ª ed. 1857.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1ª ed. 1864.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 1ª ed. 1861.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. 1ª ed. 1868.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos (1858-1869). Diversos números.
  • XAVIER, Francisco Cândido (pelo Espírito Emmanuel). O Consolador. FEB, 1940.
  • FRANCO, Divaldo P. (pelo Espírito Joanna de Ângelis). Estudos Espíritas. LEAL, 1976.

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