Introdução
Os
acontecimentos políticos e econômicos que envolvem nações não são isolados;
repercutem diretamente no cotidiano das pessoas e refletem escolhas coletivas e
individuais. O episódio recente envolvendo a imposição de tarifas de 50% pelos
Estados Unidos sobre produtos brasileiros, decidido pelo governo americano em
meio a tensões políticas e diplomáticas, traz à tona questões de prudência,
justiça e responsabilidade moral.
Segundo
a Doutrina Espírita, as relações internacionais, assim como as pessoais, estão
submetidas às Leis Naturais — leis de amor, justiça e caridade, que regulam a
convivência harmoniosa entre os seres e entre os povos. Quando estas leis são
ignoradas, surgem conflitos que, em essência, têm origem no egoísmo, no orgulho
e na ausência de visão fraterna.
A Lei de Justiça, Amor e Caridade
Na Questão
876 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec registra o ensinamento
dos Espíritos:
“O critério da
verdadeira justiça é desejar para os outros o que se desejaria para si mesmo.”
Essa
máxima, que reflete o próprio ensinamento de Jesus — “Tudo quanto quereis
que os homens vos façam, fazei-o também a eles” (Mateus 7:12) — aplica-se
não apenas à conduta individual, mas também às relações comerciais e
diplomáticas. O protecionismo econômico, quando movido por imposição unilateral
e sem espírito de cooperação, tende a gerar prejuízos mútuos.
Do
ponto de vista espírita, a política externa justa é aquela que busca acordos
equilibrados, onde nenhum dos lados seja deliberadamente lesado, e onde a
boa-fé e a moderação prevaleçam sobre imposições e retaliações.
Prudência e Neutralidade nas Relações entre Povos
A
Doutrina Espírita não adota partidarismos políticos, mas nos convida a analisar
os fatos com o espírito de justiça e fraternidade. Em A Gênese, cap.
XVIII, Kardec destaca que a transição moral da humanidade passa pela superação
das disputas de interesse puramente material, para se chegar a uma convivência
pautada no bem comum.
A Revista
Espírita de maio de 1862 já advertia que “os povos, como os
indivíduos, colhem as consequências de seus atos e colhem segundo semeiam”.
Isso significa que posicionamentos impensados, falta de diálogo e ações
precipitadas no campo diplomático podem gerar efeitos que se voltarão contra o
próprio país, afetando os mais vulneráveis — neste caso, trabalhadores e
pequenos empresários brasileiros que dependem das exportações.
O
caminho indicado pela prudência é aquele em que as decisões são tomadas com
base no interesse coletivo e no respeito recíproco, evitando provocações e
polarizações que nada constroem.
Lições Morais para Além da Política
A
Doutrina Espírita, ao abordar temas sociais e econômicos, lembra que todo poder
— seja de um indivíduo, seja de uma nação — carrega responsabilidade. Na Revista
Espírita de dezembro de 1864, Kardec assinala que “a verdadeira
grandeza de um povo não se mede por sua força material, mas por sua elevação
moral”.
Assim,
quando se privilegia a cooperação internacional em vez da imposição de força
econômica, abre-se espaço para soluções que preservam empregos, fortalecem
relações comerciais justas e estimulam a paz entre as nações.
Também
cabe recordar que, segundo O Livro dos Espíritos (questões 932 e 933), o
mal ainda predomina nas relações humanas não porque seja mais forte que o bem,
mas porque aqueles que compreendem o bem nem sempre agem com a energia e a
perseverança necessárias. Ou seja, cabe a todos — governantes, diplomatas,
cidadãos — trabalhar ativamente para que as soluções pacíficas e justas
prevaleçam.
Conclusão
O episódio
do tarifaço serve como alerta para que, mesmo diante de pressões
internacionais, não se perca de vista o critério da verdadeira justiça.
Governos e cidadãos, inspirados pela moral cristã e pelas Leis Naturais
reveladas pela Doutrina Espírita, devem buscar sempre o caminho do meio,
equilibrando firmeza e conciliação, interesse próprio e interesse coletivo.
Como
ensina Jesus e reafirma o Espiritismo, somente a aplicação sincera do amor, da
justiça e da caridade pode garantir relações duradouras de paz — seja entre
indivíduos, seja entre nações.
Referências
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. 1ª ed., Paris, 1857.
- KARDEC, Allan. A
Gênese. 1ª ed., Paris, 1868.
- KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo. 1ª ed., Paris, 1864.
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos (1858–1869).
- Maio de 1862 –
“Responsabilidade Coletiva dos Povos”.
- Dezembro de 1864 –
“A verdadeira grandeza das nações”.
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