quarta-feira, 13 de agosto de 2025

QUANDO A DOR É MUNDIAL:
A VISÃO ESPÍRITA DA FRATERNIDADE UNIVERSAL
- A Era do Espírito -

Introdução

A história da humanidade registra incontáveis momentos de dor coletiva — guerras, catástrofes naturais, crises econômicas, epidemias e pandemias. A mais recente dessas provações, a pandemia de COVID-19, ultrapassou fronteiras geográficas e ideológicas, lembrando-nos de que todos habitamos o mesmo lar: a Terra.

A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, interpreta tais acontecimentos sob a ótica da Lei de Sociedade, da Lei de Progresso e, sobretudo, da Lei de Solidariedade e Fraternidade, que decorrem do mandamento maior de Jesus: "Amai-vos uns aos outros". Segundo o Livro dos Espíritos, os homens foram criados para viver em sociedade, cooperar mutuamente e progredir pelo auxílio recíproco (LE, q. 766). Assim, quando uma parte da humanidade sofre, todo o conjunto se ressente.

A dor que não respeita fronteiras

O surto pandêmico mostrou de maneira incontestável que, apesar das divisões políticas e culturais, somos uma única família espiritual. O mal que atinge uma nação repercute em todas as demais; a alegria ou o progresso de um povo beneficia, direta ou indiretamente, toda a coletividade. Kardec já destacava na Revista Espírita (dezembro de 1861) que “a solidariedade é lei natural; quebrá-la é romper a harmonia que deve existir entre os homens e preparar para si dores futuras”.

A experiência pandêmica expôs não apenas nossa vulnerabilidade biológica, mas também nossa capacidade de compaixão. Enfermos e famílias enlutadas tornaram-se tema de orações inter-religiosas e de gestos de apoio, ultrapassando barreiras de credo ou nacionalidade.

Deus no comando e o aprendizado moral

No aparente caos, a Doutrina Espírita nos ensina a reconhecer a presença e a providência divina. Deus, conforme ensina Kardec (O Livro dos Espíritos, q. 963 e seguintes), não abandona Seus filhos, mas permite provas e expiações para nosso adiantamento moral. As tragédias coletivas, embora dolorosas, funcionam como oportunidades de aprendizado e de união, tal como a tormenta que purifica a atmosfera.

Mesmo em meio às perdas, vimos florescer iniciativas que reacenderam a esperança: voluntários costurando máscaras, vizinhos ajudando idosos, grupos espirituais promovendo preces virtuais, artistas oferecendo apresentações gratuitas pela internet.

A força da arte e da gratidão

Um exemplo marcante foi a iniciativa do Coro Internazionale Lirico Sinfonico, na Itália, que, em ensaio virtual, entoou Và, pensiero — o “Coro dos Escravos Hebreus” da ópera Nabucco, de Giuseppe Verdi. A peça, símbolo de resistência e patriotismo em momentos de opressão, tornou-se mensagem de fé e perseverança.

No Espiritismo, a arte é vista como manifestação elevada da alma, quando colocada a serviço do bem (Revista Espírita, abril de 1860), capaz de inspirar e consolar.

Servidores da saúde: missionários do amparo

Entre os heróis dessa batalha sanitária estão os profissionais de saúde, que, como verdadeiros “soldados da caridade”, enfrentaram jornadas extenuantes para salvar vidas. Kardec, na Revista Espírita (julho de 1865), exalta o mérito daqueles que se sacrificam pelo próximo, afirmando que “a maior coragem é a de enfrentar o perigo para proteger os outros”.

Esses trabalhadores, embora sujeitos ao risco pessoal, permaneceram na linha de frente, movidos pela ética profissional e pelo dever moral. É justo que sejam lembrados em nossas preces e reconhecidos como instrumentos de Deus na preservação da vida.

A lição espiritual da pandemia

O Espiritismo nos convida a refletir sobre a fragilidade da existência corporal e sobre o valor do tempo que nos é concedido. As dificuldades coletivas são um chamado para que cultivemos virtudes como bondade, fraternidade, utilidade e altruísmo, que serão nosso verdadeiro patrimônio espiritual.

Na Revista Espírita (janeiro de 1864), Kardec assevera que “a felicidade individual depende da felicidade de todos, e só pelo concurso geral se pode estabelecer a felicidade comum”.

Somos interdependentes. Precisamos uns dos outros — não apenas para sobreviver, mas para evoluir espiritualmente.

Conclusão

A pandemia foi mais que uma crise sanitária; foi uma prova de solidariedade planetária. Mostrou-nos que, independentemente de fronteiras, raças ou religiões, somos todos membros de uma única família universal, caminhando rumo à regeneração moral da humanidade.

Que as lições desse período não se percam. Que aprendamos, com o Espiritismo, a transformar a dor em fraternidade e a incerteza em fé raciocinada, para que o amanhã seja, de fato, um reflexo de nossa renovação interior.

Referências

  1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 74. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2022.
  2. KARDEC, Allan. A Gênese. 49. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2021.
  3. KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869). Diversos artigos.
  4. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 164. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2021.
  5. Momento Espírita. Quando a dor é mundial. Disponível em: https://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=5979&let=Q&stat=0. Acesso em: 13 ago. 2025.

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