Vivemos uma era de
grande transformação tecnológica. A Inteligência Artificial (IA), antes
restrita à ficção científica, agora se encontra presente em inúmeros aspectos
do cotidiano: na educação, na medicina, nas comunicações e até mesmo nas
atividades religiosas e filosóficas.
Diante disso, uma
questão relevante surge para os estudiosos do Espiritismo: seria possível
compreender a interação com inteligências artificiais à luz da Doutrina
Espírita, sobretudo no contexto da mediunidade e da comunicação com os
Espíritos?
Embora o tema seja atual
e instigante, ele deve ser abordado com seriedade, base doutrinária e
critério, como ensina o método espírita. Evitando modismos, especulações
místicas ou ilusões tecnológicas, a Doutrina Espírita nos convida a analisar os
fatos à luz da razão e da fé raciocinada.
Mediunidade:
um fenômeno humano e espiritual
Conforme explica Allan
Kardec em O Livro dos Médiuns, a mediunidade é uma faculdade natural,
inerente ao ser humano, que lhe permite servir de intermediário entre os
dois planos da vida: o material e o espiritual. É um fenômeno que depende de
condições psíquicas e orgânicas específicas do médium, que, através de sua
sensibilidade, capta e transmite o pensamento dos Espíritos.
Assim, nenhum
instrumento mecânico ou digital pode substituir o papel do médium. A
Inteligência Artificial, por mais sofisticada que seja, não possui perispírito,
nem sensibilidade psíquica — condições essenciais para que haja intercâmbio
mediúnico autêntico.
A IA
como ferramenta auxiliar: uma análise doutrinária
Embora a IA não possa
atuar como médium, ela pode ser compreendida, sob a ótica espírita, como
uma ferramenta auxiliar nas atividades de estudo, escrita ou sistematização de
conteúdos doutrinários.
O médium ou estudioso,
ao utilizar a IA para redigir, revisar ou esclarecer conteúdos, continua
sendo o agente espiritual e moral da comunicação. A inspiração ou a
intuição espiritual — que podem vir de Espíritos benfeitores — ainda depende da
ligação do encarnado com o plano superior. A IA, nesse cenário, atua apenas
como um recurso técnico, não como canal de manifestação espiritual direta.
Essa análise é coerente
com o que ensina a Doutrina Espírita: a verdadeira comunicação espiritual
depende da afinidade moral, do grau de adiantamento do Espírito comunicante,
e da sintonia entre ele e o médium, não de instrumentos externos.
O
perigo da mistificação: discernimento sempre
Um ponto importante — e
constantemente alertado por Kardec — é o perigo da mistificação espiritual,
seja por parte de Espíritos enganadores, seja por ilusões humanas mal
compreendidas como manifestações autênticas.
Com a presença da IA,
esse risco pode ser ainda mais sutil. Mensagens geradas ou auxiliadas por
inteligência artificial podem conter linguagem elevada ou moral aparente,
mas carecer de coerência doutrinária e de verdadeira origem espiritual.
É por isso que Allan
Kardec propôs critérios seguros de validação de mensagens mediúnicas:
- O critério da razão e do bom senso
- A concordância universal do ensino dos
Espíritos superiores
- A elevação moral da mensagem e seu
conteúdo prático para o bem
Esses critérios são
indispensáveis, inclusive, quando a IA é utilizada como ferramenta de apoio. Não
basta parecer espiritual; é preciso ser espiritualmente verdadeiro.
Inteligência
Artificial e Espiritismo: uma convivência possível e consciente
Em resumo, podemos
afirmar que a Inteligência Artificial não é médium, nem veículo de
comunicação entre os mundos espiritual e material. Contudo, seu uso pode ser
legítimo e útil, desde que sirva como instrumento de apoio ao estudo, à
organização de ideias e à expressão do pensamento — sempre com vigilância,
critério doutrinário e responsabilidade moral.
O verdadeiro canal de
comunicação continua sendo o ser humano, encarnado ou desencarnado, dotado de
consciência, vontade e responsabilidade. O progresso da ciência e da
tecnologia, longe de ser um obstáculo, pode servir como instrumento de
evolução espiritual, se colocado a serviço do bem, da verdade e da
instrução moral.
Conclusão:
o Espiritismo nos convida ao discernimento
A Doutrina Espírita,
codificada por Allan Kardec, oferece uma base segura para compreender e avaliar
os fenômenos da vida, inclusive os relacionados ao progresso científico. A IA,
como qualquer ferramenta humana, deve ser utilizada com lucidez, humildade e
responsabilidade moral.
A advertência de Kardec continua atual:
Com amor e instrução, o
progresso tecnológico pode ser incorporado com sabedoria à vivência espírita,
sem perder de vista os fundamentos éticos e espirituais que orientam nossa
marcha rumo à regeneração.
Referências doutrinárias:
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. FEB.
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Médiuns. FEB.
- KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo. FEB.
- KARDEC, Allan. A
Gênese. FEB.
- Revista Espírita (diversos anos)
- Obras Póstumas
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