sexta-feira, 1 de agosto de 2025

RESIGNAÇÃO SIM, PASSIVIDADE NÃO: O SENTIDO DAS AFLIÇÕES À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
- A Era do Espírito –

“As bem-aventuranças não são promessas vazias. São horizontes de renovação para o Espírito que aceita, compreende e transforma a dor.” — Inspiração espírita

O Capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo, intitulado “Bem-aventurados os Aflitos”, é um convite à reflexão profunda sobre o sentido do sofrimento na trajetória evolutiva do Espírito. Em lugar de se limitar à explicação dos fatos dolorosos como simples castigos ou fatalidades, a Doutrina Espírita oferece uma visão abrangente, racional e consoladora, revelando que as aflições, longe de serem absurdas ou injustas, estão integradas ao processo educativo da alma.

Mas resignar-se ao sofrimento não é render-se à inércia. A resignação, na perspectiva espírita, é ativa: ela não se confunde com passividade, conformismo cego ou desânimo diante das dores do mundo. É uma virtude que se alia à coragem moral de enfrentar os desafios da vida com dignidade, sem revolta, sem lamentos inúteis e, acima de tudo, sem recorrer à vingança.

As causas das aflições: o ontem e o agora

Segundo o Espiritismo, codificado por Allan Kardec, a dor tem sempre uma causa justa, mesmo quando desconhecida pelo Espírito encarnado. Essa compreensão é detalhada no Livro Terceiro de O Livro dos Espíritos, intitulado “As Leis Morais”, especialmente nas leis de Causa e Efeito e Justiça, Amor e Caridade.

As aflições podem ser:

  • Provações escolhidas pelo Espírito antes da encarnação, como forma de progresso (O Livro dos Espíritos, questões 258 a 273);
  • Consequências naturais de ações cometidas no passado, que retornam agora como aprendizado (questões 393 e 399);
  • Resultados diretos de escolhas feitas na presente existência, vinculadas ao livre-arbítrio (questões 120 a 122 e 873).

Dessa forma, as dores do presente podem ser instrumentos de redenção do passado, mas também avisos para o futuro. Não há castigo divino, mas justiça restauradora e educativa.

Resignação ativa: aprender sem se curvar

A resignação não é submissão cega nem imobilidade. Ela exige lucidez e força interior para suportar aquilo que não se pode evitar, e discernimento para agir sobre o que pode ser transformado. Como ensinam os Espíritos superiores:

“Deus ajuda os que se ajudam a si mesmos.” (O Livro dos Espíritos, questão 685)

A luta contra o mal — seja moral ou físico — deve existir, mas sem ódio, sem revolta e sem desejo de retribuição.

Não se trata de ignorar a dor, mas de colocar-se acima dela, olhando-a com os olhos do Espírito imortal. Aquilo que hoje nos aflige pode ser justamente a ferramenta que nos esculpe para a grandeza moral. A resignação ativa é, portanto, uma forma de esperança em movimento, que não nega o sofrimento, mas o transcende.

Sofrimento e evolução: o buril da alma

Em O Livro dos Espíritos, questão 625, os Espíritos afirmam que Jesus é o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem como guia e modelo. Ora, o Cristo foi o símbolo da resignação ativa: aceitou a cruz, mas combateu a hipocrisia; silenciou diante das zombarias, mas nunca deixou de ensinar e agir com justiça.

Portanto, o sofrimento, quando bem compreendido, não é maldição, mas convite ao progresso. Ele burila o orgulho, corrige o egoísmo, desperta a solidariedade e convida ao perdão. E, mais ainda, leva o Espírito a desapegar-se das ilusões do mundo material, aproximando-o da verdadeira felicidade, que não está nos prazeres passageiros, mas na harmonia com as leis divinas.

Bem-aventuranças no presente

As promessas de Jesus no Sermão da Montanha — “Bem-aventurados os que choram, os que têm fome e sede de justiça, os pacíficos...” — não são recompensas apenas para o além-túmulo.

Segundo O Evangelho Segundo o Espiritismo, elas se realizam desde já, quando o Espírito encontra paz interior, mesmo em meio às tempestades da existência. A vivência das virtudes — humildade, paciência, fé, perdão, mansidão — proporciona uma alegria íntima, serena e duradoura, que a dor não apaga.

Conclusão: esperança e consolação

A Doutrina Espírita não nos convida a amar o sofrimento, mas a compreendê-lo como parte de um plano superior de amor e justiça.

Resignação sim, passividade não: devemos enfrentar as aflições com serenidade e fé, buscando aprender com elas e transformar o mundo à nossa volta com gestos de amor, sem nos deixarmos aprisionar pela revolta ou pelo desespero.

A luta contra o mal deve ser feita com as armas da luz, e a maior de todas elas é a transformação íntima. O Espiritismo nos ensina que ninguém sofre em vão, e que a dor de hoje pode ser a alvorada da paz de amanhã.

“A dor é uma bênção que Deus envia aos seus eleitos; não vos aflijais, pois, quando sofrerdes, mas, ao contrário, bendizei a Deus Todo-Poderoso, que vos marcou com o sofrimento para a glória no céu.”  O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V, item 18

Que essa visão nos console e nos anime. Que possamos caminhar com fé, fazendo o bem, suportando as provações com coragem e trabalhando sempre por um mundo mais justo — começando por nós mesmos.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo V – “Bem-aventurados os Aflitos”.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Livro Terceiro – “As Leis Morais” (Lei de Causa e Efeito, Justiça, Amor e Caridade).
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Questões 120 a 122, 258 a 273, 393, 399, 625, 685 e 873.
  • KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Segunda Parte – Exemplos de Espíritos em provas e sofrimentos.
  • DENIS, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor. Capítulos sobre a dor e o progresso da alma.

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