quarta-feira, 20 de agosto de 2025

RINO CURTI E A DOUTRINA ESPÍRITA
CODIFICADA POR ALLAN KARDEC:
ESTUDO COMPARATIVO
- A Era do Espírito -

1. Introdução

Rino Curti (1922–2003) nasceu em Ímola, Itália, e mudou-se para o Brasil aos 14 anos, onde se formou engenheiro pela Escola Politécnica da USP. Tornou-se uma figura de liderança no movimento espírita, fundando e presidindo a Coligação Espírita Progressista (CEP). Foi autor de várias obras voltadas para o estudo da mediunidade, obsessão, reforma íntima, evolução espiritual e liberdade de consciência.

A comparação de suas obras com a Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec (1804–1869) é importante para situar Curti como autor espírita e, ao mesmo tempo, analisar em que medida suas formulações dialogam ou se distanciam do ensino dos Espíritos organizado por Kardec em O Livro dos Espíritos (1857), O Livro dos Médiuns (1861), O Evangelho segundo o Espiritismo (1864), O Céu e o Inferno (1865), A Gênese (1868) e na Revista Espírita (1858–1869).

2. Temas das obras de Rino Curti

2.1 Reforma Íntima

·         Obra: Espiritismo e Reforma Íntima.

·         Enfoque: destaca a necessidade da transformação moral do indivíduo como caminho de evolução e superação das imperfeições.

·         Comparação doutrinária: em O Evangelho segundo o Espiritismo, especialmente nos capítulos XII (“Amai os vossos inimigos”) e XVII (“Sede perfeitos”), os Espíritos ensinam que a verdadeira caridade se manifesta pela reforma íntima, onde o ser humano vence o egoísmo e o orgulho.

·         Paralelo: Rino Curti retoma essa base evangélica do Espiritismo, enfatizando a prática cotidiana da moral de Jesus como fator central do progresso espiritual.

2.2 Mediunidade

·         Obras: Desenvolvimento Mediúnico, Mediunato, Mediunidade – Instrumentação da Vida.

·         Enfoque: apresenta instruções para o desenvolvimento da faculdade mediúnica, orientações práticas e reflexões sobre o papel do médium na sociedade.

·         Comparação doutrinária: em O Livro dos Médiuns, Kardec sistematizou o ensino dos Espíritos sobre a mediunidade, advertindo contra mistificações, fascinações e abusos, sempre orientando pela prudência e pelo estudo.

·         Paralelo: Curti amplia em linguagem moderna e didática temas que Kardec estruturou; entretanto, em alguns momentos, pode ser mais prescritivo em métodos, enquanto a Codificação valoriza o caráter experimental e crítico.

2.3 Obsessão

·         Obras: Espiritismo e Obsessão, além de referências em outros títulos.

·         Enfoque: analisa o fenômeno obsessivo como desafio para médiuns e grupos espíritas, propondo métodos de enfrentamento pela disciplina moral, estudo e prática do bem.

·         Comparação doutrinária: em O Livro dos Médiuns (cap. 23) e na Revista Espírita (diversos casos relatados, como agosto de 1861 e fevereiro de 1862), Kardec expõe o tema da obsessão, classificando-a como simples, fascinação ou subjugação.

·         Paralelo: Curti segue a linha doutrinária de Kardec, reforçando a necessidade da reforma íntima como medida essencial para o desobsediante e o obsidiado.

2.4 Evolução e destino

·         Obras: Dor e Destino, Espiritismo e Evolução.

·         Enfoque: discute a dor como instrumento pedagógico do Espírito e a evolução como lei universal que conduz ao progresso moral e intelectual.

·         Comparação doutrinária: em O Livro dos Espíritos (Lei de Progresso e Lei de Causa e Efeito), os Espíritos explicam que a dor é corretivo necessário, quando não se aprende pelo amor e pelo dever.

·         Paralelo: Curti retoma esse princípio, valorizando a dor como experiência evolutiva, numa linguagem que aproxima os conceitos da vivência cotidiana.

2.5 Cristianismo e liberdade

·         Obras: Cristianismo (De Jesus a Kardec), Espiritismo e Liberdade, Espiritismo e Conhecimento.

·         Enfoque: destaca o Espiritismo como restauração do Cristianismo primitivo, livre de dogmas e imposições, ressaltando a liberdade de consciência e a busca pelo conhecimento como caminhos de libertação espiritual.

·         Comparação doutrinária: em O Evangelho segundo o Espiritismo (Introdução, item II), os Espíritos já haviam ensinado que o Espiritismo é o Consolador prometido por Jesus. Na Revista Espírita (abril de 1864), ressalta-se a liberdade de consciência como fundamento da Doutrina.

·         Paralelo: Curti reafirma essa orientação dos Espíritos, codificada por Allan Kardec, destacando a liberdade e a razão como pilares do Cristianismo redivivo.

3. Convergências

  • Ênfase na reforma íntima como base do progresso espiritual.
  • Centralidade da mediunidade como meio de comunicação e aprendizado, sempre vinculada à moral.
  • Compreensão da obsessão como fenômeno real, cuja solução se encontra na disciplina, estudo e caridade.
  • Interpretação da dor como instrumento educativo dentro da lei de evolução.
  • Defesa da liberdade de consciência e do Cristianismo vivido em espírito e verdade.

4. Possíveis diferenças de abordagem

  • Método: Kardec adota postura científica, crítica e experimental, buscando provas e critérios de controle. Curti, por sua vez, tende a adotar um tom mais normativo e instrutivo.
  • Linguagem: Kardec escreve em estilo do século XIX, voltado ao raciocínio filosófico. Curti moderniza a linguagem, aproximando os conceitos das necessidades práticas de grupos espíritas contemporâneos.
  • Ênfase: enquanto Kardec buscava sistematizar, Curti buscava orientar e aplicar os princípios à vivência cotidiana do movimento espírita.

5. Considerações finais

As obras de Rino Curti podem ser compreendidas como uma ampliação e atualização didática de temas centrais da Doutrina Espírita, especialmente mediunidade, obsessão e reforma íntima. Ele não acrescenta fundamentos novos à Codificação, mas procura interpretar e aplicar os ensinos dos Espíritos codificados por Kardec ao contexto brasileiro do século XX.

Dessa forma, sua contribuição é de caráter prático e pedagógico, mantendo fidelidade essencial à Doutrina Espírita, mas oferecendo recursos para o estudo e a vivência comunitária.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos (1857).
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns (1861).
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo (1864).
  • KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno (1865).
  • KARDEC, Allan. A Gênese (1868).
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858–1869).
  • CURTI, Rino. Espiritismo e Reforma Íntima. São Paulo: CEP.
  • CURTI, Rino. Espiritismo e Obsessão. São Paulo: CEP.
  • CURTI, Rino. Mediunidade – Instrumentação da Vida. São Paulo: CEP.
  • CURTI, Rino. Cristianismo (De Jesus a Kardec). São Paulo: CEP.

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