1. Introdução
Ramatis
é uma figura espiritual que se apresenta como instrutor, cujas mensagens foram
psicografadas por médiuns brasileiros, especialmente Hercílio Maes e Norberto
Peixoto. Seus escritos abrangem desde temas ligados à Umbanda até questões
cosmológicas e profecias sobre transformações planetárias.
Entretanto,
sua obra é motivo de controvérsia no movimento espírita, pois muitos de seus
ensinos destoam dos princípios fundamentais da Doutrina Espírita, codificada
por Allan Kardec a partir do ensino coletivo e universal dos Espíritos.
2. Quem é Ramatis?
- Origem atribuída: Espírito que
teria vivido no século X, na região da Indochina, ligado a tradições
orientais.
- Médiuns principais: Hercílio Maes
(1913-1993) e Norberto Peixoto.
- Linhas de
pensamento:
Síntese entre filosofia oriental, cristianismo e elementos esotéricos.
- Obras mais
conhecidas:
Fisiologia da Alma, Mensagens do Astral, Magia de
Redenção, Mediunidade de Cura, O Objetivo Cósmico da Umbanda,
entre outras.
- Temas recorrentes: reencarnação,
mediunidade, Umbanda, astrologia, profecias sobre “fim dos tempos” e
civilizações extraterrestres.
3. A Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec
- Origem: Conjunto de
ensinos dos Espíritos Superiores, sistematizado e organizado por Allan
Kardec (1804-1869).
- Obras fundamentais: O Livro dos
Espíritos (1857), O Livro dos Médiuns (1861), O Evangelho
segundo o Espiritismo (1864), O Céu e o Inferno (1865) e A
Gênese (1868).
- Critério de
autenticidade:
Universalidade do ensino dos Espíritos (concordância dos ensinos
mediúnicos obtidos em diferentes lugares e médiuns sérios, sob direção dos
Espíritos superiores).
- Objetivo central: Estudo das leis
morais, espirituais e naturais, visando ao progresso moral e intelectual
da humanidade.
- Revista Espírita
(1858-1869):
Laboratório experimental da Doutrina, em que Kardec submetia comunicações
espirituais ao crivo da razão, da lógica e do controle universal.
4. Pontos de Convergência
Apesar
das diferenças, algumas ideias de Ramatis dialogam com a Doutrina Espírita:
- Imortalidade da
alma:
Ambos afirmam a sobrevivência após a morte.
- Reencarnação: Presente tanto na
obra de Ramatis quanto no ensino dos Espíritos.
- Lei de causa e
efeito:
A ideia de que colhemos o que semeamos está em Ramatis e na Doutrina
Espírita.
- Valorização do
Evangelho de Jesus: Ramatis exalta o Cristo, embora sob uma
perspectiva sincrética (Cristo cósmico, síntese Oriente-Ocidente).
5. Pontos de Divergência
5.1. Método e critério doutrinário
·
Doutrina Espírita: estabelece o princípio do Controle Universal do
Ensino dos Espíritos (CUEE). Uma comunicação só era aceita quando confirmada de
forma concorde e universal por diversos médiuns sérios e independentes.
·
Ramatis: suas mensagens derivam essencialmente de poucos
médiuns, sem confirmação universal, o que abre margem a interpretações pessoais
e à possibilidade de mistificação.
Revista Espírita, junho de 1859: Kardec adverte sobre a
necessidade de comparar e analisar comunicações, pois “um espírito, por sábio que seja, não pode, sozinho, constituir uma
doutrina”.
5.2. Ciência e cosmologia
·
Doutrina Espírita: postura prudente diante de hipóteses científicas.
Recomenda não se adiantar ao conhecimento humano sem bases sólidas (A Gênese,
cap. I).
·
Ramatis: afirmações polêmicas, como civilizações em Marte,
previsões de catástrofes globais e transformações abruptas do planeta. Essas
ideias carecem de comprovação científica e não encontram respaldo na
codificação espírita.
5.3. Profecias e “fim dos tempos”
·
Doutrina Espírita: ensina que a Terra passa por uma transição lenta,
moral e espiritual, rumo a um mundo de regeneração, sem catástrofes milagrosas
ou destruições globais súbitas (A Gênese, cap. XVIII).
·
Ramatis: fala em acontecimentos apocalípticos (como
deslocamento do eixo da Terra e hecatombes nucleares).
5.4. Umbanda e sincretismo religioso
·
Doutrina Espírita: não trata da Umbanda, já que esta surge no Brasil
no início do século XX. O Espiritismo, conforme codificado, é laico, racional e
sem vínculos com rituais.
·
Ramatis: dedica livros à Umbanda (O Objetivo Cósmico da
Umbanda), valorizando-a como expressão legítima de religiosidade
espiritual.
5.5. Linguagem e estilo
·
Doutrina Espírita: didática, racional, filosófica, científica.
·
Ramatis: poética, simbólica, muitas vezes esotérica, com
termos de tradição oriental.
6. Críticas dentro do movimento espírita
- Pseudo-sábio? Em alguns círculos
espíritas, Ramatis é classificado como “espírito pseudo-sábio”, conforme
advertência de O Livro dos Médiuns (cap. XXIV, item 267), onde
Kardec explica que certos Espíritos, embora aparentem sabedoria, podem
introduzir doutrinas pessoais, previsões duvidosas e linguagem de
autoridade, desviando-se da simplicidade e da lógica que caracterizam os
Espíritos verdadeiramente superiores.
- Ausência de
universalidade: A Doutrina Espírita, codificada por Allan
Kardec com base no ensino coletivo dos Espíritos, recomenda não se apoiar
em comunicações isoladas como fundamento doutrinário, ainda que provenientes
de entidades que se declarem elevadas. Somente a concordância universal,
obtida por médiuns sérios e independentes em diversos lugares, pode
conferir autenticidade e segurança a novos ensinos.
7. Conclusão
As
obras atribuídas a Ramatis possuem valor literário e espiritual para muitos
leitores, trazendo reflexões sobre evolução, ética e religiosidade. Contudo, não
podem ser confundidas com a Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec,
pois divergem em método, conteúdo e fundamentos.
Enquanto
a Doutrina Espírita se apoia no critério da universalidade, da razão e da
prudência científica, as mensagens de Ramatis se aproximam mais de uma
corrente espiritualista sincrética, mesclando Espiritismo, esoterismo e
tradições orientais.
Portanto,
Ramatis deve ser lido e estudado como autor espiritual independente, e não como
representante da Doutrina Espírita ou dos Espíritos.
8. Referências
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos (1857).
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Médiuns (1861).
- KARDEC, Allan. A
Gênese (1868).
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita (1858-1869).
- MAES, Hercílio. Fisiologia
da Alma. Editora Freitas Bastos.
- MAES, Hercílio. Mensagens
do Astral.
- PEIXOTO, Norberto. A
Missão da Umbanda.
- WANTUIL, Zeus;
THIESEN, Francisco. Allan Kardec: Obras completas. FEB.
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