quinta-feira, 11 de setembro de 2025

A ERRATA DA VIDA: REPARAÇÃO E RESPONSABILIDADE
- A Era do Espírito -

Introdução

Nos livros e publicações, a errata é um recurso simples: uma nota de correção para ajustar equívocos que escaparam ao processo de revisão. Mas, ao refletirmos, percebemos que a vida também poderia se beneficiar de uma “errata” imediata, permitindo-nos corrigir palavras ríspidas, gestos de indiferença ou oportunidades de amor desperdiçadas.

No entanto, a existência não nos oferece esse recurso tão facilmente. A oportunidade de corrigir nossos erros depende da vigilância interior, da humildade em pedir perdão e da lei de causa e efeito que rege o progresso espiritual. O Espiritismo, codificado por Allan Kardec, mostra-nos que a vida é uma escola contínua, onde cada ato gera consequências, mas também possibilidades de reparação — nesta vida ou em futuras reencarnações.

O valor da vigilância e da reparação imediata

Na Revista Espírita (fevereiro de 1862), Kardec observa que a dor do arrependimento é necessária, mas não suficiente: “O arrependimento é o primeiro passo para a reabilitação; mas só tem valor quando leva à reparação”. Ou seja, não basta reconhecer a falha: é preciso agir para corrigir o mal causado, sempre que possível.

Muitas vezes, porém, só notamos nossos descuidos quando a ocasião já passou — quando a pessoa amada se foi, quando a chance de um abraço foi negligenciada, quando a palavra de carinho foi silenciada. Nesses casos, a errata não pode ser feita de forma imediata. Resta-nos, então, a consciência do valor do tempo e do amor no presente, para que novas falhas não se repitam.

O tempo e a lei de causa e efeito

Na vida material, uma edição revista e corrigida é lançada em uma nova impressão. Espiritualmente, o mesmo acontece: a reencarnação é a oportunidade de reeditar a própria existência, com acréscimos, acertos e novas possibilidades de aprendizado.

Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos (questões 171 a 222), mostra que a pluralidade das existências é o mecanismo divino da justiça e da misericórdia. Quando não conseguimos reparar nossas falhas em uma existência, temos novas oportunidades. Entretanto, isso não deve servir de desculpa para a negligência: adiar o bem é prolongar o sofrimento e atrasar o progresso da alma.

O remorso como alerta

As lágrimas sobre os túmulos, como lembrado no texto, muitas vezes são lágrimas de remorso — não por aquilo que fizemos de errado, mas pelo bem que deixamos de fazer. O Espiritismo ensina que o remorso é uma espécie de “alarme moral”, sinal de que o Espírito compreende seu erro e anseia pela reparação.

Na Revista Espírita (setembro de 1863), Kardec comenta: “Deus não se contenta com um arrependimento estéril; Ele quer obras que o justifiquem”. O verdadeiro consolo não está em chorar os erros, mas em transformá-los em sementes de aprendizado para o presente e o futuro.

Conclusão

Se na vida não há como publicar uma “errata” imediata para todos os equívocos, há, sim, como cultivar a vigilância e a humildade para corrigir a tempo nossas falhas enquanto a oportunidade nos é dada. Amar hoje, abraçar hoje, pedir perdão hoje.

A reencarnação é, sem dúvida, a edição revista e corrigida da nossa história espiritual. Mas não devemos esperar apenas pela próxima existência para acertar: cada dia é página nova que podemos escrever com mais cuidado, mais amor e mais consciência.

Que saibamos viver de tal modo que, ao final de cada capítulo de nossa vida, a errata seja mínima — e que nossas obras sejam lembradas não pelo que deixamos de fazer, mas pelo amor que tivemos coragem de oferecer.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
  • KARDEC, Allan. A Gênese. 1868.
  • Momento Espírita. Errata. Disponível em: momento.com.br.

 

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