Introdução
Nos livros e publicações, a errata é um recurso
simples: uma nota de correção para ajustar equívocos que escaparam ao processo
de revisão. Mas, ao refletirmos, percebemos que a vida também poderia se
beneficiar de uma “errata” imediata, permitindo-nos corrigir palavras ríspidas,
gestos de indiferença ou oportunidades de amor desperdiçadas.
No entanto, a existência não nos oferece esse
recurso tão facilmente. A oportunidade de corrigir nossos erros depende da
vigilância interior, da humildade em pedir perdão e da lei de causa e efeito
que rege o progresso espiritual. O Espiritismo, codificado por Allan Kardec,
mostra-nos que a vida é uma escola contínua, onde cada ato gera consequências,
mas também possibilidades de reparação — nesta vida ou em futuras
reencarnações.
O valor
da vigilância e da reparação imediata
Na Revista Espírita (fevereiro de 1862),
Kardec observa que a dor do arrependimento é necessária, mas não suficiente: “O
arrependimento é o primeiro passo para a reabilitação; mas só tem valor quando
leva à reparação”. Ou seja, não basta reconhecer a falha: é preciso agir para
corrigir o mal causado, sempre que possível.
Muitas vezes, porém, só notamos nossos descuidos
quando a ocasião já passou — quando a pessoa amada se foi, quando a chance de
um abraço foi negligenciada, quando a palavra de carinho foi silenciada. Nesses
casos, a errata não pode ser feita de forma imediata. Resta-nos, então, a
consciência do valor do tempo e do amor no presente, para que novas falhas não
se repitam.
O tempo e
a lei de causa e efeito
Na vida material, uma edição revista e corrigida é
lançada em uma nova impressão. Espiritualmente, o mesmo acontece: a
reencarnação é a oportunidade de reeditar a própria existência, com acréscimos,
acertos e novas possibilidades de aprendizado.
Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos
(questões 171 a 222), mostra que a pluralidade das existências é o mecanismo
divino da justiça e da misericórdia. Quando não conseguimos reparar nossas
falhas em uma existência, temos novas oportunidades. Entretanto, isso não deve
servir de desculpa para a negligência: adiar o bem é prolongar o sofrimento e
atrasar o progresso da alma.
O remorso
como alerta
As lágrimas sobre os túmulos, como lembrado no
texto, muitas vezes são lágrimas de remorso — não por aquilo que fizemos de
errado, mas pelo bem que deixamos de fazer. O Espiritismo ensina que o remorso
é uma espécie de “alarme moral”, sinal de que o Espírito compreende seu erro e
anseia pela reparação.
Na Revista Espírita (setembro de 1863),
Kardec comenta: “Deus não se contenta com um arrependimento estéril; Ele quer
obras que o justifiquem”. O verdadeiro consolo não está em chorar os erros, mas
em transformá-los em sementes de aprendizado para o presente e o futuro.
Conclusão
Se na vida não há como publicar uma “errata”
imediata para todos os equívocos, há, sim, como cultivar a vigilância e a
humildade para corrigir a tempo nossas falhas enquanto a oportunidade nos é
dada. Amar hoje, abraçar hoje, pedir perdão hoje.
A reencarnação é, sem dúvida, a edição revista e
corrigida da nossa história espiritual. Mas não devemos esperar apenas pela
próxima existência para acertar: cada dia é página nova que podemos escrever
com mais cuidado, mais amor e mais consciência.
Que saibamos viver de tal modo que, ao final de
cada capítulo de nossa vida, a errata seja mínima — e que nossas obras sejam
lembradas não pelo que deixamos de fazer, mas pelo amor que tivemos coragem de
oferecer.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
- KARDEC, Allan. A Gênese. 1868.
- Momento Espírita. Errata. Disponível em: momento.com.br.
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