sábado, 23 de agosto de 2025

MEDIUNIDADE E O DIÁLOGO COM OS ESPÍRITOS
À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
- A Era do Espírito -

Introdução

Desde os primórdios da humanidade, o ser humano registra experiências de comunicação com o invisível. O Espiritismo, codificado por Allan Kardec no século XIX, não apenas reconheceu a realidade dessas manifestações, mas também lhes deu caráter científico e moral, sistematizando os princípios que regem a mediunidade.

Segundo a Doutrina Espírita, todos somos Espíritos em evolução, temporariamente encarnados, e, por isso, mantemos naturalmente intercâmbio com o mundo espiritual. Esse contato, em geral sutil e inconsciente, pode tornar-se ostensivo em determinados indivíduos: os médiuns. Assim, a mediunidade não é um privilégio nem uma anomalia, mas uma faculdade natural da alma humana.

Este artigo busca analisar a mediunidade e a posição daquele que dialoga com os Espíritos, à luz da codificação espírita, da coleção da Revista Espírita (1858-1869) e de obras complementares do Espiritismo, explorando tanto seu aspecto natural quanto os cuidados necessários ao seu desenvolvimento.

A Natureza da Mediunidade

Em O Livro dos Médiuns (1861), Allan Kardec define médium como "toda pessoa que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos". O termo deriva do latim medius, significando "intermediário".

Desse modo, o médium é o intérprete entre os dois mundos: o físico e o espiritual. A mediunidade é, portanto, a faculdade que permite sentir e transmitir a influência dos Espíritos, favorecendo a comunicação.

Esse intercâmbio não é extraordinário. Kardec enfatiza que todos os seres humanos sofrem a influência oculta dos Espíritos em seus pensamentos, sentimentos e intuições, embora nem sempre o percebam. A diferença é que, nos médiuns ostensivos, essa influência se manifesta de forma clara, produzindo fenômenos como psicofonia, psicografia, vidência ou efeitos físicos.

Mediunidade e Perturbação

Um equívoco comum, presente desde o século XIX e ainda hoje persistente, é associar mediunidade a doença ou perturbação mental. A Doutrina Espírita, entretanto, esclarece que a mediunidade em si não causa desequilíbrio.

Quando o médium se encontra perturbado, isso se deve a fatores como:

  • falta de preparo moral e doutrinário;
  • ação de Espíritos inferiores, atraídos por sintonia vibratória;
  • causas fisiológicas ou psicológicas independentes da mediunidade.

A Revista Espírita (novembro de 1859) já registrava casos de médiuns em sofrimento por desconhecimento da faculdade ou por influência de Espíritos obsessores. Kardec sempre recomendava, nesses casos, assistência moral, passes, estudo doutrinário e, quando necessário, acompanhamento médico, reconhecendo a importância da medicina.

Portanto, antes de qualquer exercício mediúnico, é indispensável que a pessoa esteja equilibrada emocionalmente, esclarecida doutrinariamente e disposta a assumir, com responsabilidade, o compromisso que a mediunidade implica.

Sinais Precursores e Manifestações

O surgimento da mediunidade pode apresentar sinais característicos, como:

  • sensação de presenças invisíveis;
  • alterações de sono e desdobramentos inconscientes;
  • arrepios, tremores, formigamentos ou percepções fluídicas;
  • mudanças repentinas de humor, crises emocionais sem causa aparente;
  • experiências de vidência ou audição espiritual.

Esses fenômenos, quando não explicados por causas orgânicas, podem indicar aptidão mediúnica. Contudo, é importante distinguir manifestações naturais da alma de estados patológicos.

Kardec, em O Livro dos Médiuns, ressalta que o desenvolvimento da mediunidade deve ser feito em ambiente sério, com estudo, disciplina e oração, para que não se converta em fonte de desequilíbrio ou instrumento para Espíritos mistificadores.

O Papel do Médium

O médium não é um ser privilegiado, mas alguém que recebeu uma ferramenta de trabalho espiritual. A faculdade em si não garante superioridade moral. O valor do médium está em como utiliza sua mediunidade: se para o bem, com humildade e disciplina, ou se a transforma em vaidade e instrumento de interesses pessoais.

Emmanuel, no livro Nos Domínios da Mediunidade (psicografia de Francisco Cândido Xavier), reforça que o médium deve ser um servidor consciente, colocando sua faculdade a serviço da caridade e da renovação espiritual.

Assim, o verdadeiro médium espírita deve unir três elementos essenciais:

  1. Estudo – para compreender os mecanismos da mediunidade e as leis espirituais.
  2. Moralidade – para atrair Espíritos superiores pela sintonia elevada.
  3. Disciplina – para manter constância e equilíbrio no exercício mediúnico.

Conclusão

A mediunidade é um patrimônio espiritual da humanidade, expressão natural da ligação constante entre encarnados e desencarnados. Longe de ser uma anomalia, ela é instrumento de progresso, desde que seja exercida com responsabilidade, amparo doutrinário e equilíbrio interior.

A Doutrina Espírita mostra que o médium não é um eleito, mas um intérprete, cuja missão é servir de ponte entre os dois mundos, iluminando consciências e auxiliando na marcha evolutiva da humanidade.

O estudo sério da codificação, aliado à vivência evangélica, garante que a mediunidade cumpra seu papel de instrumento de esclarecimento, consolo e caridade.

Referências Bibliográficas

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 1861.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. 1868.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869). Diversos números.
  • XAVIER, Francisco Cândido. Nos Domínios da Mediunidade. Pelo Espírito Emmanuel. FEB.
  • Curso de Iniciação ao Espiritismo – Cap. Mediunidade e seu Desenvolvimento – Editora e Gráfica do Lar/ABC do Interior.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ABORRECIMENTOS E EDUCAÇÃO DA ALMA - A Era do Espírito - Introdução “Nada mais comum, nas atividades terrenas, do que o hábito enraizado da...