No dia seguinte, quando
estavam voltando de Betânia, Jesus teve fome. Viu de longe uma figueira
cheia de folhas e foi até lá para ver se havia figos. Quando chegou perto,
encontrou somente folhas, porque não era tempo de figos. Então Jesus disse: — Nunca mais coma alguém fruto de ti! (-
Marcos 11:12-14.)
De manhã cedo, quando
voltava para a cidade, Jesus teve fome. Vendo uma figueira à beira do caminho,
aproximou-se dela, mas nada encontrou, a não ser folhas. Então lhe disse: “Nunca mais dê frutos! ” Imediatamente a
árvore secou.
Ao verem isso, os
discípulos ficaram espantados e perguntaram: “Como a figueira secou tão depressa? “
Jesus respondeu: “Eu lhes asseguro que, se vocês tiverem fé e
não duvidarem, poderão fazer não somente o que foi feito à figueira, mas também
dizer a este monte: ‘Levante-se e atire-se no mar’, e assim será feito. E tudo
o que pedirem em oração, se crerem, vocês receberão”. (- Mateus 21:18-22.)
Introdução
O episódio da figueira estéril, narrado nos
evangelhos de Marcos (11:12-23) e Mateus (21:18-22), desperta diferentes
interpretações ao longo da tradição cristã. À primeira vista, pode parecer um
gesto severo de Jesus diante de uma árvore improdutiva. No entanto, a análise
simbólica revela uma lição profunda sobre a fé autêntica, a necessidade de
produzir frutos espirituais e o perigo da religiosidade aparente.
À luz da Doutrina Espírita codificada por Allan
Kardec, este episódio ganha novas dimensões. O Espiritismo convida à leitura
moral dos fatos evangélicos, ressaltando o caráter educativo das ações de
Jesus, que se valia de símbolos para transmitir verdades universais. A figueira
estéril, nesse contexto, torna-se um emblema da hipocrisia religiosa, mas
também um alerta individual e coletivo sobre a responsabilidade espiritual
diante das oportunidades de crescimento.
O
Simbolismo da Figueira
No relato, a figueira possuía folhas, sinal
exterior de vitalidade, mas não oferecia frutos. A contradição entre aparência
e realidade serve como metáfora para a fé superficial, restrita à forma, sem
essência ou resultados práticos.
Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo
(cap. XVIII), explica que reconhecer a verdadeira fé se dá pelos frutos que ela
produz. A fé que não se traduz em obras é semelhante a uma árvore frondosa, mas
infrutífera. Assim, Jesus não reprova apenas uma planta, mas denuncia uma
atitude comum de sua época: a religiosidade de fachada, especialmente entre os
líderes que conheciam a Lei, mas não a viviam em profundidade.
A
Figueira e a Hipocrisia Religiosa
Na perspectiva histórica, o episódio se relaciona
com a liderança religiosa de Israel, que, apesar do rigor legalista, não
conduzia o povo aos frutos da fé, da justiça e do amor. Essa esterilidade
espiritual representava um obstáculo à renovação que Jesus propunha.
Do ponto de vista espírita, a crítica à hipocrisia
continua atual. Em muitos ambientes, religiosos ou não, ainda se observam
discursos belos, mas desprovidos de prática. A Doutrina Espírita lembra que o
progresso moral não se mede por aparências exteriores, mas pela transformação
íntima refletida em atitudes de bondade, solidariedade e compromisso com a
verdade.
A Lição
sobre a Fé
Ao observar a figueira seca, os discípulos ficaram
surpresos, mas Jesus aproveitou para ensinar:
“Se tiverdes fé e não duvidardes... direis a este monte: ergue-te e lança-te ao
mar, e assim será feito”.
Na ótica espírita, não se trata de uma fé cega ou
miraculosa, mas de uma confiança lúcida nos desígnios divinos e na força do
pensamento aliado à vontade. Kardec, em A Gênese (cap. XIV), explica que
a fé é um poder real, capaz de mobilizar energias espirituais e morais que
transformam o indivíduo e o mundo ao seu redor. A expressão “mover montanhas”
simboliza a superação das maiores dificuldades pela perseverança, pela confiança
e pelo trabalho aliado à oração.
Atualidade
da Mensagem
Em tempos modernos, a lição da figueira estéril
continua desafiando consciências. Dados recentes da Organização Mundial da
Saúde (2024) apontam que, apesar de avanços tecnológicos e científicos, cresce
no mundo o índice de transtornos relacionados à ansiedade, solidão e falta de
propósito. Esse dado evidencia que o progresso material, quando não acompanhado
de progresso moral, permanece incompleto — como uma figueira cheia de folhas,
mas sem frutos.
O Espiritismo recorda que os verdadeiros frutos da
fé são espirituais: a paciência diante das provas, o perdão diante das ofensas,
a coragem de lutar contra as próprias imperfeições e a capacidade de estender a
mão ao próximo. Sem esses frutos, a fé torna-se estéril, incapaz de renovar o
indivíduo e a sociedade.
Conclusão
A figueira estéril é mais que um episódio curioso
da vida de Jesus: é um símbolo atemporal. Representa a necessidade de
autenticidade na vida espiritual, a rejeição à hipocrisia e a urgência de
transformar a fé em obras.
A Doutrina Espírita nos ensina que a fé raciocinada
— baseada no entendimento das leis divinas e no esforço moral — é a força que
permite “mover montanhas”, isto é, superar obstáculos aparentemente
intransponíveis. Mais do que aparência exterior, Jesus espera de nós frutos
verdadeiros, que se traduzem em amor ativo, caridade desinteressada e
construção do bem coletivo.
Referências
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB,
várias edições.
- KARDEC, Allan. A Gênese. FEB, várias edições.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869). FEB, edições
digitais.
- BÍBLIA. Novo Testamento, Marcos 11:12-23; Mateus 21:18-22.
- Organização Mundial da Saúde. Relatório Global de Saúde Mental,
2024.
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