quinta-feira, 18 de setembro de 2025

A FIGUEIRA ESTÉRIL: UMA REFLEXÃO ESPÍRITA
SOBRE FÉ, HIPOCRISIA E FRUTOS ESPIRITUAIS
- A Era do Espírito -

No dia seguinte, quando estavam voltando de Betânia, Jesus teve fome. Viu de longe uma figueira cheia de folhas e foi até lá para ver se havia figos. Quando chegou perto, encontrou somente folhas, porque não era tempo de figos. Então Jesus disse: — Nunca mais coma alguém fruto de ti! (- Marcos 11:12-14.)

De manhã cedo, quando voltava para a cidade, Jesus teve fome. Vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela, mas nada encontrou, a não ser folhas. Então lhe disse: “Nunca mais dê frutos! ” Imediatamente a árvore secou.

Ao verem isso, os discípulos ficaram espantados e perguntaram: “Como a figueira secou tão depressa? “

Jesus respondeu: “Eu lhes asseguro que, se vocês tiverem fé e não duvidarem, poderão fazer não somente o que foi feito à figueira, mas também dizer a este monte: ‘Levante-se e atire-se no mar’, e assim será feito. E tudo o que pedirem em oração, se crerem, vocês receberão”. (- Mateus 21:18-22.)

Introdução

O episódio da figueira estéril, narrado nos evangelhos de Marcos (11:12-23) e Mateus (21:18-22), desperta diferentes interpretações ao longo da tradição cristã. À primeira vista, pode parecer um gesto severo de Jesus diante de uma árvore improdutiva. No entanto, a análise simbólica revela uma lição profunda sobre a fé autêntica, a necessidade de produzir frutos espirituais e o perigo da religiosidade aparente.

À luz da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, este episódio ganha novas dimensões. O Espiritismo convida à leitura moral dos fatos evangélicos, ressaltando o caráter educativo das ações de Jesus, que se valia de símbolos para transmitir verdades universais. A figueira estéril, nesse contexto, torna-se um emblema da hipocrisia religiosa, mas também um alerta individual e coletivo sobre a responsabilidade espiritual diante das oportunidades de crescimento.

O Simbolismo da Figueira

No relato, a figueira possuía folhas, sinal exterior de vitalidade, mas não oferecia frutos. A contradição entre aparência e realidade serve como metáfora para a fé superficial, restrita à forma, sem essência ou resultados práticos.

Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XVIII), explica que reconhecer a verdadeira fé se dá pelos frutos que ela produz. A fé que não se traduz em obras é semelhante a uma árvore frondosa, mas infrutífera. Assim, Jesus não reprova apenas uma planta, mas denuncia uma atitude comum de sua época: a religiosidade de fachada, especialmente entre os líderes que conheciam a Lei, mas não a viviam em profundidade.

A Figueira e a Hipocrisia Religiosa

Na perspectiva histórica, o episódio se relaciona com a liderança religiosa de Israel, que, apesar do rigor legalista, não conduzia o povo aos frutos da fé, da justiça e do amor. Essa esterilidade espiritual representava um obstáculo à renovação que Jesus propunha.

Do ponto de vista espírita, a crítica à hipocrisia continua atual. Em muitos ambientes, religiosos ou não, ainda se observam discursos belos, mas desprovidos de prática. A Doutrina Espírita lembra que o progresso moral não se mede por aparências exteriores, mas pela transformação íntima refletida em atitudes de bondade, solidariedade e compromisso com a verdade.

A Lição sobre a Fé

Ao observar a figueira seca, os discípulos ficaram surpresos, mas Jesus aproveitou para ensinar: “Se tiverdes fé e não duvidardes... direis a este monte: ergue-te e lança-te ao mar, e assim será feito”.

Na ótica espírita, não se trata de uma fé cega ou miraculosa, mas de uma confiança lúcida nos desígnios divinos e na força do pensamento aliado à vontade. Kardec, em A Gênese (cap. XIV), explica que a fé é um poder real, capaz de mobilizar energias espirituais e morais que transformam o indivíduo e o mundo ao seu redor. A expressão “mover montanhas” simboliza a superação das maiores dificuldades pela perseverança, pela confiança e pelo trabalho aliado à oração.

Atualidade da Mensagem

Em tempos modernos, a lição da figueira estéril continua desafiando consciências. Dados recentes da Organização Mundial da Saúde (2024) apontam que, apesar de avanços tecnológicos e científicos, cresce no mundo o índice de transtornos relacionados à ansiedade, solidão e falta de propósito. Esse dado evidencia que o progresso material, quando não acompanhado de progresso moral, permanece incompleto — como uma figueira cheia de folhas, mas sem frutos.

O Espiritismo recorda que os verdadeiros frutos da fé são espirituais: a paciência diante das provas, o perdão diante das ofensas, a coragem de lutar contra as próprias imperfeições e a capacidade de estender a mão ao próximo. Sem esses frutos, a fé torna-se estéril, incapaz de renovar o indivíduo e a sociedade.

Conclusão

A figueira estéril é mais que um episódio curioso da vida de Jesus: é um símbolo atemporal. Representa a necessidade de autenticidade na vida espiritual, a rejeição à hipocrisia e a urgência de transformar a fé em obras.

A Doutrina Espírita nos ensina que a fé raciocinada — baseada no entendimento das leis divinas e no esforço moral — é a força que permite “mover montanhas”, isto é, superar obstáculos aparentemente intransponíveis. Mais do que aparência exterior, Jesus espera de nós frutos verdadeiros, que se traduzem em amor ativo, caridade desinteressada e construção do bem coletivo.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB, várias edições.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. FEB, várias edições.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869). FEB, edições digitais.
  • BÍBLIA. Novo Testamento, Marcos 11:12-23; Mateus 21:18-22.
  • Organização Mundial da Saúde. Relatório Global de Saúde Mental, 2024.

 

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