quarta-feira, 10 de setembro de 2025

A INFLUÊNCIA OCULTA DOS ESPÍRITOS
VOZES SILENCIOSAS DA CONSCIÊNCIA
- A Era do Espírito -

Introdução

Desde os primórdios da humanidade, o homem intui que não está sozinho. Em diferentes culturas, religiões e tradições filosóficas, encontramos relatos sobre seres invisíveis que inspiram, protegem ou perturbam os homens. A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec no século XIX, sistematizou essa realidade de forma clara, lógica e racional, mostrando que os Espíritos — encarnados e desencarnados — vivem em constante interação.

Em O Livro dos Espíritos, os benfeitores espirituais afirmam:

“A influência dos Espíritos sobre os vossos pensamentos e as vossas ações é maior do que supondes, porque muito frequentemente são eles que vos dirigem” (questão 459).

Essa revelação surpreende, mas também esclarece que a vida humana é permeada por influxos invisíveis que não anulam o livre-arbítrio, apenas o convidam a uma escolha consciente entre o bem e o mal.

A Sutilidade da Influência

Kardec observou que muitos acreditam que a intervenção dos Espíritos se dá apenas por fenômenos extraordinários. No entanto, essa ação é geralmente oculta e natural, como quando um encontro inesperado muda o rumo de uma vida, ou quando um pensamento súbito oferece solução a um problema.

Hoje, a psicologia cognitiva descreve fenômenos de insight (*) e de tomada de decisão que surgem “do nada”, enquanto a neurociência estuda o papel do inconsciente no direcionamento de nossas escolhas. O Espiritismo acrescenta: muitas dessas intuições são inspiradas por Espíritos que se comunicam pela via do pensamento, utilizando o fluido universal como meio de transmissão.

Afinidades Espirituais e Sintonia

A lei de afinidade, ensinada pelos Espíritos superiores, estabelece que semelhante atrai semelhante. Assim, Espíritos bons se aproximam dos homens de bem ou dos que desejam se melhorar; Espíritos inferiores buscam os que se comprazem no vício, no orgulho e na maldade.

Esse princípio encontra paralelo em dados atuais sobre redes sociais e comportamento humano: estudos da Universidade Yale mostram que emoções e atitudes negativas tendem a se propagar com maior rapidez em grupos, formando verdadeiras “bolhas emocionais”. O Espiritismo amplia essa noção, ensinando que essa propagação não é apenas psicológica, mas também espiritual, envolvendo correntes fluídicas sutis.

A Voz da Consciência

A principal via pela qual os Espíritos protetores nos auxiliam é a consciência. Kardec escreveu:

“Os Espíritos protetores nos ajudam com os seus conselhos, através da voz da consciência, que fazem falar em nosso íntimo” (O Livro dos Espíritos, comentários à questão 459).

Esse “sussurro interior” muitas vezes é abafado pelas paixões ou pelo ruído da vida moderna. Vivemos em uma era de hiperconexão digital, em que estímulos externos competem com a escuta interior. Práticas como a meditação, o silêncio reflexivo e a oração sincera tornam-se meios de reconectar-se com essa influência benfazeja.

Anjos de Guarda e Amor Transcendente

A doutrina dos anjos de guarda, longe de ser alegoria, traduz a presença constante de Espíritos que, por amor, assumem o encargo de velar por nós. Kardec lembra que, assim como um pai na Terra cuida do filho à distância, o Espírito protetor acompanha e inspira seu tutelado, utilizando o fluido universal como veículo de comunicação.

Essa visão ressignifica a experiência humana de solidão: mesmo nos momentos mais difíceis, nunca estamos sós.

Neutralizando a Influência dos Maus Espíritos

A questão 469 de O Livro dos Espíritos oferece uma orientação prática:

“Fazendo o bem e colocando toda a vossa confiança em Deus, repelis a influência dos Espíritos inferiores e destruís o império que desejam ter sobre vós.”

Aqui, vemos que a defesa espiritual não depende de rituais externos, mas de conduta reta, vigilância moral e fé ativa. A ciência moderna confirma que pessoas engajadas em valores altruístas e em práticas espirituais demonstram maior resiliência psicológica e emocional diante de adversidades.

Conclusão

A influência oculta dos Espíritos não é ficção nem superstição, mas uma lei natural que se manifesta silenciosamente no cotidiano. Cada pensamento, palavra e ação estabelece sintonia com forças invisíveis que nos sustentam ou nos desviam.

O Espiritismo nos convida à vigilância e à responsabilidade: vigiar o coração, orar com sinceridade, cultivar bons pensamentos e viver a caridade. Assim, atrairemos a presença dos bons Espíritos, fortalecendo-nos contra as tentações e participando, em comunhão, da grande obra da regeneração moral da humanidade.

Em última análise, a influência dos Espíritos é também um espelho do que cultivamos em nós mesmos. Ao escolher o bem, atraímos o bem; ao semear o amor, sintonizamos com os que amam. E assim, passo a passo, avançamos na senda da luz.

(*) A capacidade de entender algo profundamente sem um processo lógico aparente. 

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1864.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
  • KARDEC, Allan. A Obsessão. Tradução de Wallace Leal V. Rodrigues.
  • KOLEV, S. et al. “Emotional contagion in social networks: Evidence and implications.” Yale University Research Review, 2020.
  • SANTOS, A. O poder da oração: estudos contemporâneos sobre espiritualidade e saúde. Revista de Psiquiatria Clínica, 2019.

 

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