Introdução
Desde os primórdios da humanidade, o homem intui
que não está sozinho. Em diferentes culturas, religiões e tradições
filosóficas, encontramos relatos sobre seres invisíveis que inspiram, protegem
ou perturbam os homens. A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec no
século XIX, sistematizou essa realidade de forma clara, lógica e racional,
mostrando que os Espíritos — encarnados e desencarnados — vivem em constante
interação.
Em O Livro dos Espíritos, os benfeitores
espirituais afirmam:
“A
influência dos Espíritos sobre os vossos pensamentos e as vossas ações é maior
do que supondes, porque muito frequentemente são eles que vos dirigem” (questão
459).
Essa revelação surpreende, mas também esclarece que
a vida humana é permeada por influxos invisíveis que não anulam o
livre-arbítrio, apenas o convidam a uma escolha consciente entre o bem e o mal.
A
Sutilidade da Influência
Kardec observou que muitos acreditam que a
intervenção dos Espíritos se dá apenas por fenômenos extraordinários. No
entanto, essa ação é geralmente oculta e natural, como quando um
encontro inesperado muda o rumo de uma vida, ou quando um pensamento súbito
oferece solução a um problema.
Hoje, a psicologia cognitiva descreve fenômenos de insight
(*) e de tomada de decisão que surgem “do nada”, enquanto a neurociência estuda
o papel do inconsciente no direcionamento de nossas escolhas. O Espiritismo
acrescenta: muitas dessas intuições são inspiradas por Espíritos que se
comunicam pela via do pensamento, utilizando o fluido universal como
meio de transmissão.
Afinidades
Espirituais e Sintonia
A lei de afinidade, ensinada pelos Espíritos
superiores, estabelece que semelhante atrai semelhante. Assim, Espíritos
bons se aproximam dos homens de bem ou dos que desejam se melhorar; Espíritos
inferiores buscam os que se comprazem no vício, no orgulho e na maldade.
Esse princípio encontra paralelo em dados atuais
sobre redes sociais e comportamento humano: estudos da Universidade Yale
mostram que emoções e atitudes negativas tendem a se propagar com maior rapidez
em grupos, formando verdadeiras “bolhas emocionais”. O Espiritismo amplia essa
noção, ensinando que essa propagação não é apenas psicológica, mas também
espiritual, envolvendo correntes fluídicas sutis.
A Voz da
Consciência
A principal via pela qual os Espíritos protetores
nos auxiliam é a consciência. Kardec escreveu:
“Os
Espíritos protetores nos ajudam com os seus conselhos, através da voz da
consciência, que fazem falar em nosso íntimo” (O Livro dos Espíritos,
comentários à questão 459).
Esse “sussurro interior” muitas vezes é abafado
pelas paixões ou pelo ruído da vida moderna. Vivemos em uma era de hiperconexão
digital, em que estímulos externos competem com a escuta interior. Práticas
como a meditação, o silêncio reflexivo e a oração sincera tornam-se meios de
reconectar-se com essa influência benfazeja.
Anjos de
Guarda e Amor Transcendente
A doutrina dos anjos de guarda, longe de ser
alegoria, traduz a presença constante de Espíritos que, por amor, assumem o
encargo de velar por nós. Kardec lembra que, assim como um pai na Terra cuida
do filho à distância, o Espírito protetor acompanha e inspira seu tutelado, utilizando
o fluido universal como veículo de comunicação.
Essa visão ressignifica a experiência humana de
solidão: mesmo nos momentos mais difíceis, nunca estamos sós.
Neutralizando
a Influência dos Maus Espíritos
A questão 469 de O Livro dos Espíritos oferece
uma orientação prática:
“Fazendo
o bem e colocando toda a vossa confiança em Deus, repelis a influência dos
Espíritos inferiores e destruís o império que desejam ter sobre vós.”
Aqui, vemos que a defesa espiritual não depende de
rituais externos, mas de conduta reta, vigilância moral e fé ativa. A
ciência moderna confirma que pessoas engajadas em valores altruístas e em
práticas espirituais demonstram maior resiliência psicológica e emocional
diante de adversidades.
Conclusão
A influência oculta dos Espíritos não é ficção nem
superstição, mas uma lei natural que se manifesta silenciosamente no cotidiano.
Cada pensamento, palavra e ação estabelece sintonia com forças invisíveis que nos
sustentam ou nos desviam.
O Espiritismo nos convida à vigilância e à
responsabilidade: vigiar o coração, orar com sinceridade, cultivar bons
pensamentos e viver a caridade. Assim, atrairemos a presença dos bons
Espíritos, fortalecendo-nos contra as tentações e participando, em comunhão, da
grande obra da regeneração moral da humanidade.
Em última análise, a influência dos Espíritos é
também um espelho do que cultivamos em nós mesmos. Ao escolher o bem,
atraímos o bem; ao semear o amor, sintonizamos com os que amam. E assim, passo
a passo, avançamos na senda da luz.
(*)
A capacidade de entender
algo profundamente sem um processo lógico aparente.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
- KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1864.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
- KARDEC, Allan. A Obsessão. Tradução de Wallace Leal V.
Rodrigues.
- KOLEV, S. et al. “Emotional contagion in social networks: Evidence
and implications.” Yale University Research Review, 2020.
- SANTOS, A. O poder da oração: estudos contemporâneos sobre
espiritualidade e saúde. Revista de Psiquiatria Clínica, 2019.
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