terça-feira, 30 de setembro de 2025

A MALEDICÊNCIA E O DESAFIO MORAL DA ATUALIDADE
- A Era do Espírito -

Introdução

A maledicência — falar mal por falar mal — acompanha a humanidade desde os primórdios da vida em sociedade. Antes restrita aos cochichos e pequenos círculos de convivência, ganhou amplitude com os meios de comunicação modernos e, especialmente, com as redes sociais digitais. Hoje, em segundos, um comentário pode ser replicado, distorcido e transformado em instrumento de destruição moral, muitas vezes sem qualquer responsabilidade por parte de quem o propaga.

À luz da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, a maledicência não é apenas um hábito social indesejável: trata-se de um vício moral que compromete a evolução do espírito. Os versos de Maria Dolores, psicografados por Francisco Cândido Xavier, ecoam como advertência atual: “Se escutares na estrada / que essa ou aquela criatura vive errada, / abençoa, trabalha e silencia”.

Este artigo busca refletir, com base na Codificação Espírita e nas lições publicadas na Revista Espírita (1858-1869), sobre a necessidade de combatermos a maledicência em nossos dias e substituí-la pela prática da caridade moral.

A maledicência como vício moral

Segundo Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. X, item 19), a indulgência é virtude fundamental para a convivência. Julgar severamente o próximo, sem conhecer suas lutas íntimas, é demonstração de orgulho e falta de caridade. A maledicência nasce desse mesmo terreno: uma forma de autoafirmação pela comparação com a queda alheia.

Na Revista Espírita (novembro de 1861), Kardec comenta que “a calúnia é uma das mais cruéis armas de que se servem os maus Espíritos”. Essa observação continua válida, pois a palavra maldosa ainda funciona como instrumento de obsessão coletiva, alimentando ressentimentos e separações.

O cenário atual: redes sociais e amplificação do mal

No século XIX, a fofoca percorria salões e ruas. No século XX, ganhou o telefone e os jornais sensacionalistas. No século XXI, a maledicência encontrou terreno fértil nas redes sociais. Um estudo do Massachusetts Institute of Technology (MIT, 2018) revelou que notícias falsas e negativas se espalham 70% mais rápido que as verdadeiras. Isso demonstra como a maledicência, agora digitalizada, encontrou alcance global.

Ao compartilhar, curtir ou comentar conteúdos depreciativos, mesmo sem intenção consciente, ampliamos o mal e colaboramos para a queda moral do outro. O Espiritismo nos convida à reflexão: o que estamos alimentando em nossos círculos virtuais?

O convite do bem: abençoar, trabalhar e silenciar

A orientação “abençoa, trabalha e silencia” propõe três atitudes fundamentais:

  1. Abençoar — Enviar vibrações de paz e compaixão a quem erra, reconhecendo que todos estamos sujeitos a tropeços.
  2. Trabalhar — Manter vigilância sobre nossas próprias imperfeições, buscando corrigir-nos em vez de nos compararmos aos equívocos alheios.
  3. Silenciar — Evitar ser veículo da propagação do mal, usando a palavra apenas para edificar, consolar e esclarecer.

Em O Livro dos Espíritos (questão 766), os Espíritos afirmam que a vida social é lei natural e necessária. No entanto, a convivência exige disciplina moral, sobretudo naquilo que diz respeito ao uso da palavra.

Conclusão

Cada um de nós terá seu dia de prova, queda e recomeço. O erro do próximo deve ser para nós um alerta e não um espetáculo. A maledicência é um dos males silenciosos que corroem a humanidade por dentro e, muitas vezes, passa despercebida por sua aparente “inofensividade”.

Se desejamos uma sociedade mais justa e fraterna, é urgente cultivar a indulgência, fortalecer a caridade moral e usar nossos meios de comunicação — presenciais ou digitais — como instrumentos de luz. Divulgar o bem é multiplicar a esperança. E, diante do mal que descobrimos no outro, cabe-nos apenas uma atitude digna: abençoar, trabalhar e silenciar.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • XAVIER, Francisco Cândido (psicografia de Maria Dolores). Alma e Vida. Cap. 30. Ed. CEU.
  • MOMENTO ESPÍRITA. Cada qual tem seu dia. Disponível em: momento.com.br.
  • VOSOUGHI, S.; ROY, D.; ARAL, S. The spread of true and false news online. Science, v. 359, n. 6380, 2018.

 

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