Introdução
Em uma
sociedade marcada pela pressa, pelo excesso de estímulos e pela necessidade
constante de comunicação, o silêncio muitas vezes é visto como ausência ou
vazio. No entanto, a Doutrina Espírita, em harmonia com os ensinamentos
evangélicos, mostra que o silêncio verdadeiro não é inércia, mas força
construtiva da alma em busca de equilíbrio. Ele representa disciplina mental,
serenidade e a capacidade de irradiar paz.
Relatos
mediúnicos e reflexões filosóficas indicam que o silêncio interior pode ser
mais eloquente do que muitas palavras. A experiência vivida por médiuns e
trabalhadores espíritas, como no caso relatado de Divaldo Franco junto à
mentora Joanna de Ângelis, reforça que a verdadeira comunicação se dá não
apenas pelo verbo, mas também pela qualidade das vibrações e pensamentos que
emitimos.
O valor do silêncio espiritual
O
Espiritismo ensina que todo pensamento é uma forma de energia, capaz de
influenciar o ambiente e as pessoas. A Doutrina Espírita, em O Livro dos
Espíritos (questões 459 e seguintes), questiona os Espíritos sobre a
influência que exercem sobre nós, e a resposta é clara: muito maior do que imaginamos.
Assim, controlar os pensamentos e sentimentos é também um modo de preservar a
própria paz e respeitar o próximo.
No
episódio narrado, a recomendação de silêncio feita pela mentora espiritual não
se restringia à ausência de palavras, mas à necessidade de disciplina mental. A
simples vibração de piedade e espanto foi suficiente para atingir negativamente
o enfermo no plano espiritual, mostrando como as correntes mentais são
perceptíveis e exercem efeito real.
O
silêncio espiritual, portanto, não é omissão, mas direcionamento consciente da
energia psíquica.
Santo Agostinho e a “receita” do autoconhecimento
Na
célebre questão 919 de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta qual o
meio prático mais eficaz para o homem melhorar nesta vida e resistir ao arrastamento
do mal. A resposta, dada pelos Espíritos Superiores, foi simples e profunda: “Um sábio da Antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.”
Na
questão seguinte, 919a, Santo Agostinho detalha sua prática diária de
autoanálise, recomendando que cada pessoa interrogue a própria consciência,
reflita sobre seus atos, intenções e pensamentos, e pergunte a si mesma se não
teria feito algo que reprovasse em outrem. Essa “receita” continua atual e
encontra no silêncio o terreno propício para ser exercida.
O
silêncio exterior, aliado à introspecção, permite ao Espírito reconhecer suas
limitações, reformular atitudes e abrir espaço para o autodomínio. Como lembra
o livro de Provérbios (16:32): “Mais vale
quem domina o coração do que aquele que conquista uma cidade.”
O silêncio em Jesus e na prática espírita
O
Evangelho mostra que Jesus, em muitos momentos, respondeu com silêncio. Diante
de acusações ou provocações, sua quietude era um testemunho de serenidade e
sabedoria, mais poderoso do que longos discursos. Esse silêncio ativo é
expressão de amor, equilíbrio e autocontrole.
A Revista
Espírita (fevereiro de 1859) traz reflexões de Kardec sobre a força dos
pensamentos silenciosos e das preces íntimas, que chegam aos Espíritos sem
necessidade de palavras. O silêncio, portanto, é também uma forma de oração.
Hoje, em
meio a tantas distrações, resgatar a prática do silêncio é essencial para o
desenvolvimento espiritual. Ele não significa apenas calar a boca, mas
disciplinar a mente, educar os sentimentos e irradiar vibrações de paz e
fraternidade.
Conclusão
O silêncio
verdadeiro é conquista difícil, mas profundamente libertadora. Ele exige
autoconhecimento, vigilância e disciplina mental. Não se trata de omitir-se
diante do bem, mas de alinhar palavras, pensamentos e atitudes à harmonia
interior.
O
Espiritismo nos mostra que, pelo silêncio interior, é possível não apenas
alcançar a paz pessoal, mas também ajudar silenciosamente os outros, através da
irradiação de energias benéficas. Trata-se de uma das formas mais sublimes de
servir, como ensinou Jesus e confirmaram os Espíritos Superiores.
Assim,
cultivar momentos de silêncio diário — ainda que breves — é exercício de
autodomínio, prece silenciosa e preparação para as conquistas morais que nos
aguardam no caminho evolutivo.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro
dos Espíritos. 1857.
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos (1858-1869).
- BÍBLIA SAGRADA. Provérbios
16:32; Evangelho segundo Mateus e João.
- XAVIER, Francisco Cândido. Vinha
de Luz, pelo Espírito Emmanuel.
- SANTOS, Luiz Antonio Jesus. A
Receita de Santo Agostinho.
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