segunda-feira, 15 de setembro de 2025

A ORIGEM ESPIRITUAL DAS ENFERMIDADES
- A Era do Espírito -

Introdução

Sob a luz da Doutrina Espírita, a saúde humana não se reduz a um simples estado biológico ou fisiológico, mas traduz o equilíbrio do ser espiritual em sua integralidade. A Codificação Espírita, iniciada por Allan Kardec em 1857, ampliou o entendimento das causas das enfermidades ao revelar que suas raízes mais profundas se situam na história espiritual de cada indivíduo. As instruções contidas na Revista Espírita (1858–1869), bem como nas obras complementares do Espiritismo, demonstram que o corpo físico é o reflexo das disposições morais e psíquicas do Espírito encarnado, servindo como instrumento de provas, expiações e regeneração.

Este artigo busca analisar, sob essa ótica, a gênese das enfermidades, destacando que não existem “doenças” propriamente ditas, mas sim Espíritos doentes, que trazem em si mesmos os desequilíbrios e débitos a serem reparados perante a Lei Divina.

1. O afastamento da Lei Divina como raiz do desequilíbrio

Conforme os princípios espíritas, a origem de toda enfermidade está no afastamento do ser das Leis Divinas. Quando o Espírito, por ignorância, orgulho ou egoísmo, transgride essas leis morais que regem a vida universal, compromete sua harmonia íntima. Esse estado desarmônico imprime-se no perispírito e, por sua ação, repercute no corpo físico, predispondo-o a distúrbios que mais tarde podem se manifestar como moléstias físicas ou psíquicas.

2. Há doentes, não “doenças”

Segundo a Doutrina Espírita, “toda moléstia é de origem espiritual”, visto que o corpo é simples instrumento do Espírito. Assim, um mesmo quadro clínico pode ter causas distintas em cada indivíduo, conforme o estado moral e os antecedentes espirituais que carrega. O que se denomina “doença” nada mais é do que a exteriorização de desarmonias íntimas, segundo os desígnios da Lei de Causa e Efeito, que rege as relações entre atos e consequências na vida do Espírito.

3. O ser humano: enfermo em restauração

Emmanuel, no livro Justiça Divina, afirma que “todos somos doentes em laboriosa restauração”. Como Espíritos em processo de aperfeiçoamento, reencarnamos na Terra — ainda classificada como mundo de provas e expiações — a fim de reparar faltas cometidas e retificar abusos de vidas passadas. As dificuldades e sofrimentos que enfrentamos, inclusive os de ordem orgânica, não constituem castigos, mas meios educativos que visam despertar a consciência para o bem e impulsionar o progresso moral.

4. A função educativa das enfermidades

As enfermidades não devem ser vistas como desgraças ocasionais, mas como instrumentos corretivos de que se vale a Providência Divina para regenerar o Espírito. Segundo Emmanuel, o sofrimento “tem função preciosa nos planos da alma”, sendo um “aguilhão benéfico” que estimula a consciência a reerguer-se, favorecendo a renovação das ideias e dos sentimentos. Quando bem compreendidas, as dores revelam-se recursos valiosos da Bondade Divina, voltados à educação espiritual do ser.

5. A justiça divina nas enfermidades

Não há injustiça no Universo. A Justiça Divina, expressão do Amor e da Sabedoria de Deus, rege todas as situações. Cada dificuldade que enfrentamos insere-se num plano maior de aperfeiçoamento, que respeita o livre-arbítrio e promove a reeducação do Espírito. As enfermidades, à luz dessa lei, não representam punições arbitrárias, mas consequências naturais de nossas próprias escolhas e atitudes pretéritas, sempre voltadas à correção e ao reerguimento moral.

6. O perispírito e suas repercussões físicas

As faltas e os abusos morais cometidos ao longo de sucessivas existências imprimem-se no perispírito, que conserva as marcas das ações e das emoções do Espírito. Quando este retorna à vida corpórea, o estado perispiritual atua sobre a formação do novo organismo, podendo ocasionar deficiências, doenças congênitas ou predisposições diversas. Por isso, as moléstias do corpo são, em essência, exteriorizações das enfermidades da alma, que assim se manifestam para possibilitar a reparação necessária.

7. A cura real depende da renovação interior

André Luiz, no livro No Mundo Maior, afirma com propriedade: “O espírito delinquente será imperiosamente o médico de si mesmo”. Embora os recursos da Medicina aliviem sintomas e auxiliem a reorganização do corpo, a cura verdadeira exige a transformação moral do indivíduo — a renovação dos pensamentos, dos sentimentos e das atitudes. Emmanuel, em Fonte Viva, complementa que raros alcançam a cura completa porque ela requer esforço contínuo na mudança dos conteúdos mentais e das tendências morais cristalizadas.

8. A medicina humana como recurso complementar

A busca pelos recursos da ciência médica é lícita e recomendável, pois a Misericórdia Divina a colocou ao nosso alcance para atenuar males e proporcionar alívio. Contudo, sem o trabalho de regeneração interior — que envolve a vivência do bem, o exercício da solidariedade, a disciplina dos impulsos e a aceitação resignada das provas —, a enfermidade apenas mudará de forma, retornando sob outros aspectos. A libertação definitiva só se consolida quando o ser se renova moralmente e se reconcilia com as Leis de Deus.

Conclusão

As enfermidades não surgem ao acaso nem constituem meros fenômenos biológicos. Elas representam manifestações visíveis de desequilíbrios espirituais acumulados, com função educativa e redentora. A Doutrina Espírita nos convida a transcender a visão materialista da doença e a compreender que a verdadeira cura provém do íntimo: da reconciliação com a Lei Divina, do empenho em corrigir os desvios morais e da vivência do amor. Quando assumimos, com lucidez e coragem, essa tarefa de autotransformação, tornamo-nos, pouco a pouco, os legítimos médicos de nós mesmos, cooperando com os desígnios superiores que nos conduzem à perfeição.

Referências

  • Allan Kardec — O Livro dos Espíritos; A Gênese.
  • Revista Espírita (1858–1869).
  • Emmanuel — Justiça Divina; Fonte Viva.
  • André Luiz — No Mundo Maior.
  • Irmão X — Luz Acima.

 

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