sexta-feira, 26 de setembro de 2025

CÉREBRO, CHIPS E ESPÍRITO: REFLEXÕES ESPÍRITAS
SOBRE AS PESQUISAS DE MIGUEL NICOLELIS
- A Era do Espírito -

Introdução

Em março de 2004, o jornal O Estado de São Paulo publicou uma reportagem sobre o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, professor titular de Neurobiologia da Duke University (EUA), que alcançou notoriedade mundial por suas pesquisas pioneiras no campo da interface cérebro-máquina. Seu trabalho com implantes cerebrais em macacos demonstrou que sinais neurais podem ser convertidos em comandos para o controle de braços robóticos e outros dispositivos externos.

Esses avanços possuem grande potencial para a medicina, especialmente no tratamento de pessoas com paralisias, ao permitir que próteses respondam diretamente aos impulsos cerebrais. Do ponto de vista espírita, entretanto, tais descobertas também suscitam reflexões sobre a relação entre o cérebro e o espírito, abrindo espaço para diálogos fecundos entre ciência e espiritualidade.

O cérebro como instrumento

O sistema desenvolvido pela equipe de Nicolelis registra e interpreta pulsos elétricos do cérebro, convertendo-os em comandos que movimentam máquinas. A plasticidade cerebral – sua capacidade de adaptação – permite que o cérebro integre o novo recurso tecnológico como se fosse parte do próprio corpo.

Embora esses experimentos possam parecer reforçar teses materialistas, a Doutrina Espírita nos convida a enxergar além da superfície. Em O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta aos Espíritos Superiores sobre a relação entre a alma e os órgãos físicos:

Questão 369:

“Os órgãos são os instrumentos da manifestação das faculdades da alma (...).”

Questão 370:

“Não confundais o efeito com a causa. (...) Não são os órgãos que dão as faculdades, e sim estas que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos.”

Ou seja, o cérebro é uma ferramenta de expressão, não a fonte primeira das faculdades intelectuais e morais. O Espírito é o ser pensante; o cérebro, o meio pelo qual ele se manifesta no mundo material.

A analogia do robô

Um observador desavisado, ao ver um braço robótico se mover em laboratório, poderia pensar que o robô tem vida própria. Mas o movimento só acontece porque há um cérebro – e, por extensão, uma consciência – emitindo comandos. De forma análoga, os órgãos humanos não possuem livre-arbítrio. Quem decide e comanda é o Espírito, utilizando-se do cérebro e do corpo por meio do perispírito, esse elo sutil entre a alma e a matéria, descrito por Kardec em A Gênese (1868).

Assim como o chip e o computador são mediadores indispensáveis entre o cérebro e o robô, o perispírito é o intermediário imprescindível entre o Espírito e o corpo físico.

Convergências com a pesquisa espírita

A Revista Espírita (1858-1869) apresenta inúmeros relatos de manifestações de Espíritos sobre objetos físicos, sempre com a participação de médiuns capazes de fornecer os fluidos necessários. À luz disso, podemos conjecturar que, assim como o cérebro comanda um robô via chip, talvez Espíritos desencarnados pudessem, em condições adequadas, interagir com dispositivos tecnológicos utilizando recursos semelhantes.

Se no século XIX Kardec investigava mesas girantes e cestas de bico, no século XXI a ciência estuda interfaces neurais e robôs. O princípio, porém, é semelhante: existe uma inteligência que se manifesta por meio de instrumentos materiais, mas cuja origem não se confunde com eles.

Desafios e horizontes

Um ponto em aberto é se a plasticidade observada nos experimentos é apenas uma característica do cérebro ou se também expressa a capacidade adaptativa do Espírito. A Doutrina Espírita sugere que o ser inteligente é a causa primeira, mas deixa espaço para a pesquisa científica confirmar ou refutar hipóteses.

O mais relevante, para nós espíritas, é perceber que essas pesquisas não explicam a origem dos impulsos cerebrais. Elas demonstram como os sinais se processam, mas não esclarecem de onde parte a decisão consciente. É aí que o Espiritismo acrescenta uma chave interpretativa: o Espírito é a fonte, responsável por pensamentos, atos e pela identidade pessoal.

Conclusão

As pesquisas de Miguel Nicolelis são motivo de esperança para a medicina e também de reflexão para a filosofia espírita. Mostram que o cérebro é um instrumento versátil, mas não explicam a causa profunda da vontade. Kardec já alertava que, se os órgãos fossem a origem das faculdades, o homem seria apenas uma máquina sem liberdade moral.

A Doutrina Espírita, portanto, não se opõe à ciência, mas a complementa, indicando que além dos circuitos cerebrais existe a consciência espiritual, origem da vida inteligente. Preservar esse entendimento é essencial para que a humanidade avance não apenas tecnologicamente, mas também moral e espiritualmente.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Paris: 1857.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. Paris: 1868.
  • KARDEC, Allan (dir.). Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos. Paris: 1858-1869.
  • FONSECA, Alexandre Fontes da. Chips em Cérebros: o que diz o Espiritismo. Revista Internacional de Espiritismo, fev. 2005.
  • Jornal O Estado de São Paulo, 21 mar. 2004. Reportagem sobre Miguel Nicolelis.

 

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