quarta-feira, 17 de setembro de 2025

CIÊNCIA E ESPIRITISMO:
AS DUAS ASAS DO PROGRESSO HUMANO
- A Era do Espírito -

Introdução

Desde os primórdios da civilização, a humanidade busca compreender a sua origem e o sentido de sua existência. A ciência contemporânea, munida de tecnologias sofisticadas, investiga as radiações remanescentes do Big Bang, mapeia o Genoma Humano, explora exoplanetas e busca sinais de vida inteligente em galáxias distantes. Em paralelo, procura decifrar os mecanismos da consciência, da vida e da morte.

Todavia, apesar de todos esses avanços, persiste um hiato entre o conhecimento intelectual e o desenvolvimento moral. Enquanto o intelecto se expande em velocidade impressionante, os valores éticos e espirituais ainda caminham lentamente, refletindo uma evolução emocional muitas vezes estagnada. É nesse ponto que a Codificação Espírita de Allan Kardec apresenta uma proposta integradora e necessária: o progresso pleno do ser humano requer o uso harmônico das duas asas do espírito — ciência e moral.

A Ciência que Explica e o Espírito que Dá Sentido

A Doutrina Espírita não se opõe à ciência material; pelo contrário, nasceu de uma investigação científica e metódica dos fenômenos mediúnicos. Allan Kardec deixa claro em O Livro dos Médiuns que o Espiritismo deve caminhar lado a lado com a ciência, acompanhando suas descobertas e rejeitando o que se provar ilusório. Na Revista Espírita, Kardec enfatiza que toda teoria espírita deve ser submetida ao crivo da razão, da observação e da experiência, como se faz com qualquer hipótese científica.

Enquanto a ciência material desvenda a estrutura da matéria e suas leis, o Espiritismo revela as leis morais e espirituais que regem a evolução do ser. Um exemplo atual é o debate sobre a origem da vida: enquanto a biologia investiga o surgimento das primeiras moléculas autorreplicantes, a Doutrina Espírita explica que o princípio espiritual preexiste e anima a matéria, guiando sua organização segundo leis naturais universais (A Gênese, cap. VI e XI). Assim, o Espiritismo não concorre com a ciência, mas complementa-a ao oferecer sentido e direção ao progresso humano.

Evolução Gradual: Sem Saltos, Mas com Finalidade

A ciência reconhece hoje que a evolução biológica ocorre de forma lenta e cumulativa, confirmando a máxima de que “a natureza não dá saltos”. Do mesmo modo, a Doutrina Espírita ensina que a evolução espiritual também é gradual: os Espíritos progridem intelecto-moralmente por meio de múltiplas existências, acumulando experiências e refinando suas qualidades (O Livro dos Espíritos, questões 114–120).

Essa visão refuta tanto a ideia de quedas instantâneas quanto a de perfeições súbitas. A conquista do conhecimento, como o desabrochar de uma flor, exige tempo, esforço e aproveitamento de todos os recursos disponíveis — materiais e espirituais. Recusar-se a integrar essas dimensões, por orgulho ou preconceito, é o que retarda o verdadeiro progresso. Como afirmou J. Herculano Pires, grande pensador espírita, “o homem não é racional, mas emocional, porque se deixa dominar pelas emoções ao invés de aplicar a razão”.

O Perigo do Orgulho Intelectual e o Convite à Integração

Ainda há cientistas que rejeitam o Espiritismo por preconceito, considerando-o mera crença mística ou religiosa. Entretanto, o Espiritismo não se baseia na fé cega, mas na observação de fatos e no raciocínio lógico. Do mesmo modo, existem espíritas que desdenham a ciência material, como se ela fosse uma ameaça à fé. Ambos os extremos são prejudiciais.

A Doutrina Espírita não busca substituir a ciência, mas colaborar com ela. Ao demonstrar que os fenômenos espirituais seguem leis naturais, ajuda a remover o véu do “sobrenatural” e do “milagre”. Kardec já afirmava que quando a ciência provar que o Espiritismo está errado em algum ponto, este deverá rever-se, porque a verdade jamais será contraditória. Essa postura evidencia que a ciência e o Espiritismo são complementares, não concorrentes.

Caminhar com Duas Asas: Um Desafio Atual

Hoje, a humanidade domina a energia nuclear, manipula genes, simula universos em computadores e lança sondas a bilhões de quilômetros. No entanto, ainda enfrenta guerras, desigualdades, egoísmo e devastação ambiental — sinais claros de que o desenvolvimento intelectual sem desenvolvimento moral é um voo com apenas uma asa.

A Doutrina Espírita propõe que, ao lado da curiosidade científica, cultivemos a fraternidade, a responsabilidade coletiva e a compreensão espiritual da vida. Só assim o conhecimento não será instrumento de destruição, mas de elevação. Quando a ciência material e a ciência espiritual caminharem juntas, com humildade e respeito mútuo, a humanidade se tornará capaz de alçar voos seguros rumo a esferas mais altas do saber e do amor.

Considerações Finais

A ciência nos mostra o “como” das coisas; o Espiritismo nos mostra o “para quê”. Uma sem a outra gera desequilíbrio. A integração entre ambas é o caminho natural e inevitável do progresso humano. Como ensina Allan Kardec, “a fé inabalável é somente a que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIX, item 7).

Quando o orgulho der lugar à humildade, e a emoção se aliar à razão, ciência e Espiritismo deixarão de bater asas descompassadas e nos conduzirão, enfim, ao voo harmonioso do verdadeiro progresso.

Referências

  • Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • Allan Kardec. O Livro dos Médiuns. 1861.
  • Allan Kardec. A Gênese. 1868.
  • Allan Kardec. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
  • Allan Kardec. Revista Espírita (1858–1869).
  • J. Herculano Pires. Diversas obras e ensaios sobre Filosofia Espírita e Educação da Emoção.

 

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