sexta-feira, 12 de setembro de 2025

EDUCAÇÃO OU DOUTRINAÇÃO?
UMA REFLEXÃO SOBRE O DESPERTAR DA CONSCIÊNCIA
- A Era do Espírito -

Introdução

A palavra “educar”, oriunda do latim educere — “conduzir para fora” — revela que a verdadeira educação não consiste em encher o indivíduo de informações, mas em ajudá-lo a despertar as potencialidades já presentes em seu íntimo. Essa ideia, presente na filosofia e na pedagogia desde a Antiguidade, ganha especial relevância quando confrontada com o risco da doutrinação, isto é, o simples condicionamento mental pela repetição de ideias não questionadas.

Na contemporaneidade, marcada por intensas polarizações políticas, religiosas e culturais, torna-se urgente distinguir educação, que liberta, de doutrinação, que aprisiona. À luz da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, essa distinção está ligada ao próprio processo evolutivo do Espírito, que só progride quando estimulado ao raciocínio, ao discernimento e ao exercício da liberdade responsável.

Educação: guia para fora de si

Educar é despertar. É guiar o ser humano para fora de seu estado de potencialidade ainda latente, ajudando-o a desenvolver inteligência, moralidade e sensibilidade social. Esse processo se realiza de forma contínua e em múltiplos espaços: família, escola, trabalho, convivência social e até mesmo nas experiências espirituais da vida cotidiana.

Segundo dados da UNESCO (2024), mais de 250 milhões de crianças e jovens em idade escolar permanecem fora das salas de aula no mundo. Isso demonstra que, sem políticas inclusivas de educação integral — que contemplem não apenas conteúdos, mas também valores —, a humanidade continuará reproduzindo desigualdades.

A Doutrina Espírita reforça que a educação é elemento essencial do progresso. No Livro dos Espíritos (q. 685), Kardec afirma que “a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos”, e adverte que sem educação moral não há ordem nem previdência social.

Doutrina e Doutrinação: distinções necessárias

O termo doutrina, em seu sentido original, significa ensino, conjunto de princípios ou conhecimentos que orientam a ação. Toda ciência, filosofia ou religião possui uma doutrina como corpo teórico que fundamenta práticas. O Espiritismo, por exemplo, apresenta-se como uma “doutrina filosófica de consequências morais” (O que é o Espiritismo, 1859).

Já a doutrinação representa o desvirtuamento desse processo. Enquanto a doutrina legítima convida ao estudo, à análise e ao livre exame, a doutrinação sufoca a liberdade de pensamento, impondo crenças sem permitir questionamento. Allan Kardec combateu expressamente o dogmatismo e sempre convidou os adeptos a submeterem os ensinos dos Espíritos ao crivo da razão e da concordância universal (O Livro dos Médiuns, 1861; Revista Espírita, jan. 1862).

Portanto, educar é libertar; doutrinar é aprisionar. A educação promove autonomia intelectual e moral, enquanto a doutrinação busca obediência cega.

Educação moral e liberdade de consciência

Na visão espírita, a missão da educação não é apenas transmitir informações, mas formar consciências livres e responsáveis. Kardec observa, em O Livro dos Espíritos (q. 917), que a miséria moral — fruto do egoísmo e da ignorância — só será vencida com uma “boa educação”, entendida como a formação de hábitos de solidariedade e disciplina interior.

Isso implica que o verdadeiro educador não impõe pensamentos, mas estimula reflexões. Como reforça a Revista Espírita (abril de 1864), a instrução ilumina, mas apenas a educação moral “forma o caráter e prepara as gerações para uma sociedade regenerada”.

Hoje, quando vemos debates sobre “doutrinação ideológica” nas escolas, é importante distinguir: toda educação envolve valores, mas valores não são dogmas; devem ser apresentados com diálogo, estímulo ao pensamento crítico e respeito à pluralidade.

Conclusão

Educação e doutrinação não são sinônimos. Educar é conduzir para fora, ajudar o ser humano a florescer em suas potencialidades. Doutrinar é conduzir para dentro de um molde fixo, sufocando a autonomia da consciência.

À luz do Espiritismo, a educação verdadeira é libertadora, porque forma Espíritos conscientes de suas responsabilidades diante da vida e do próximo. Já a doutrinação é limitadora, porque nega ao Espírito o exercício de sua razão e de seu livre-arbítrio.

Se quisermos construir um futuro mais justo e fraterno, precisamos apostar numa educação integral e moral, que prepare cidadãos críticos, solidários e responsáveis — e não em mecanismos de controle mental que repetem fórmulas. Como ensina a Doutrina Espírita, somente pela educação moral será possível regenerar a humanidade e conduzi-la a estágios mais elevados de civilização.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 88. ed. Brasília: FEB, 2024 [1857].
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 62. ed. Brasília: FEB, 2022 [1861].
  • KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo. Brasília: FEB, 2021 [1859].
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos. 1858-1869. Tradução de Guillon Ribeiro. Brasília: FEB, 2003.
  • UNESCO. Relatório Global de Educação 2024. Paris: UNESCO, 2024.

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