Introdução
A esquizofrenia é um dos transtornos mentais mais
complexos estudados pela ciência médica. Seu diagnóstico ainda é cercado de
controvérsias, dada a multiplicidade de sintomas e a ausência de marcadores
específicos que a caracterizem de forma inequívoca. Ao longo da história,
diferentes interpretações foram oferecidas: desde a concepção de “mente
dividida” até a atual proposta de “desordem de integração”.
O Espiritismo, codificado por Allan Kardec no
século XIX, oferece uma perspectiva complementar a essa discussão, considerando
a dimensão espiritual do ser humano. Segundo a Doutrina Espírita, as doenças
não se limitam ao corpo físico, mas também se relacionam com as experiências do
Espírito imortal, trazendo à tona aspectos morais, psicológicos e
perispirituais.
Neste artigo, exploraremos a esquizofrenia à luz da
Codificação Espírita, das reflexões publicadas na Revista Espírita
(1858-1869) e de obras complementares do Espiritismo, de forma a compreender
melhor suas causas, manifestações e possibilidades terapêuticas.
A visão
médica e seus limites
A Psiquiatria moderna define a esquizofrenia como
uma síndrome crônica que atinge cerca de 1% da população mundial. Suas manifestações
incluem delírios, alucinações, perda de contato com a realidade e alterações no
pensamento, emoção e comportamento.
Apesar dos avanços, a ciência ainda não conseguiu
definir uma etiologia única para o transtorno, reconhecendo sua natureza
pluricausal: fatores genéticos, alterações neuroquímicas, condições ambientais
e psicossociais. Muitos estudiosos questionam a validade do diagnóstico,
propondo a ideia de um espectro contínuo de sintomas em vez de uma doença
claramente delimitada.
Essa limitação diagnóstica abre espaço para uma
reflexão mais ampla, onde a dimensão espiritual do ser humano precisa ser
considerada.
O olhar
espírita sobre a esquizofrenia
Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos
(questões 362 a 370 e 370a), ensina que o Espírito, ao reencarnar, conserva
suas faculdades e tendências, utilizando os órgãos do corpo como instrumentos
de manifestação. Assim, quando esses órgãos apresentam alterações, como no caso
do cérebro, podem comprometer a expressão do Espírito, sem que este perca suas
potencialidades intrínsecas.
Do ponto de vista espírita, a esquizofrenia não é
apenas uma condição fisiológica: trata-se de um fenômeno complexo em que se
entrelaçam fatores biológicos, psíquicos e espirituais. O Espírito, em certas
circunstâncias, pode trazer débitos morais ou distonias do passado que se
refletem no perispírito e, por consequência, no corpo físico.
Na Revista Espírita, Kardec abordou casos de
loucura e obsessão, destacando a necessidade de distinguir entre doenças
orgânicas e a influência espiritual. Para o Espiritismo, há situações em que a
esquizofrenia pode estar associada a processos obsessivos — interferência de
Espíritos desencarnados — ou até mesmo à auto-obsessão, quando o próprio
Espírito se mantém preso a culpas e fixações do passado.
Esquizofrenia
e obsessão espiritual
As manifestações delirantes ou alucinatórias podem,
em alguns casos, ser agravadas pela presença de Espíritos perturbadores, que
encontram sintonia no paciente em razão de sua fragilidade moral ou psíquica.
Kardec já advertia, em O Livro dos Médiuns, que a obsessão pode assumir
formas graves, confundindo-se com a loucura.
Nesses casos, a terapêutica espírita se mostra
relevante, não como substituta do tratamento médico, mas como complemento
indispensável. O passe, a água fluidificada, a prece, a evangelhoterapia e,
sobretudo, a prática da desobsessão podem contribuir para a harmonização do
enfermo, oferecendo-lhe recursos espirituais que a medicina materialista ainda
não considera.
A
dimensão terapêutica integral
O Espiritismo não nega os avanços da medicina. Pelo
contrário, recomenda que os tratamentos médicos sejam seguidos, reconhecendo a
importância dos psicofármacos no controle dos sintomas. No entanto, propõe uma
visão integral do ser humano: corpo, perispírito e Espírito.
Assim, o tratamento da esquizofrenia deve ser visto
como um processo interdisciplinar e interdimensional. O paciente é um Espírito
em aprendizado, que pode estar resgatando experiências do passado ou
enfrentando provas necessárias à sua evolução. A cura, portanto, não se limita
ao alívio dos sintomas, mas inclui a renovação moral, o equilíbrio espiritual e
a conscientização do sentido da vida.
Conclusão
A esquizofrenia, sob o prisma espírita, é um
desafio que ultrapassa os limites da ciência médica tradicional. Sua origem é
multifatorial, envolvendo fatores orgânicos, psíquicos, sociais e espirituais.
Mais do que um transtorno, é uma oportunidade de aprendizado e crescimento para
o Espírito, que, por meio da dor e das limitações, pode despertar para valores
superiores.
Ao unir Psiquiatria e Espiritismo, abre-se um campo
fértil de diálogo, onde a ciência e a fé raciocinada podem caminhar juntas.
Como lembra a Doutrina Espírita, “não há doenças, há doentes”, e cada caso deve
ser tratado de forma única, considerando a integralidade do ser humano.
A terapêutica integral — que inclui o cuidado
médico, o amparo espiritual e a renovação moral — é o caminho mais promissor
para auxiliar os que sofrem de esquizofrenia a reencontrarem a paz e a
dignidade de viver.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB,
1999.
- KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Rio de Janeiro: FEB,
1999.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos
(1858-1869). Tradução da FEB.
- XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo. Evolução em Dois
Mundos. Pelo Espírito André Luiz. Rio de Janeiro: FEB, 2003.
- HESSEN, Jorge. A Esquizofrenia Pode Ser Tratada na Dimensão do
Espírito. Artigo disponível online.
- JUNG, Carl Gustav. Psicogênese das Doenças Mentais.
Petrópolis: Vozes, 1999.
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