sexta-feira, 5 de setembro de 2025

ESQUIZOFRENIA: UMA ANÁLISE
À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
- A Era do Espírito -

Introdução

A esquizofrenia é um dos transtornos mentais mais complexos estudados pela ciência médica. Seu diagnóstico ainda é cercado de controvérsias, dada a multiplicidade de sintomas e a ausência de marcadores específicos que a caracterizem de forma inequívoca. Ao longo da história, diferentes interpretações foram oferecidas: desde a concepção de “mente dividida” até a atual proposta de “desordem de integração”.

O Espiritismo, codificado por Allan Kardec no século XIX, oferece uma perspectiva complementar a essa discussão, considerando a dimensão espiritual do ser humano. Segundo a Doutrina Espírita, as doenças não se limitam ao corpo físico, mas também se relacionam com as experiências do Espírito imortal, trazendo à tona aspectos morais, psicológicos e perispirituais.

Neste artigo, exploraremos a esquizofrenia à luz da Codificação Espírita, das reflexões publicadas na Revista Espírita (1858-1869) e de obras complementares do Espiritismo, de forma a compreender melhor suas causas, manifestações e possibilidades terapêuticas.

A visão médica e seus limites

A Psiquiatria moderna define a esquizofrenia como uma síndrome crônica que atinge cerca de 1% da população mundial. Suas manifestações incluem delírios, alucinações, perda de contato com a realidade e alterações no pensamento, emoção e comportamento.

Apesar dos avanços, a ciência ainda não conseguiu definir uma etiologia única para o transtorno, reconhecendo sua natureza pluricausal: fatores genéticos, alterações neuroquímicas, condições ambientais e psicossociais. Muitos estudiosos questionam a validade do diagnóstico, propondo a ideia de um espectro contínuo de sintomas em vez de uma doença claramente delimitada.

Essa limitação diagnóstica abre espaço para uma reflexão mais ampla, onde a dimensão espiritual do ser humano precisa ser considerada.

O olhar espírita sobre a esquizofrenia

Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos (questões 362 a 370 e 370a), ensina que o Espírito, ao reencarnar, conserva suas faculdades e tendências, utilizando os órgãos do corpo como instrumentos de manifestação. Assim, quando esses órgãos apresentam alterações, como no caso do cérebro, podem comprometer a expressão do Espírito, sem que este perca suas potencialidades intrínsecas.

Do ponto de vista espírita, a esquizofrenia não é apenas uma condição fisiológica: trata-se de um fenômeno complexo em que se entrelaçam fatores biológicos, psíquicos e espirituais. O Espírito, em certas circunstâncias, pode trazer débitos morais ou distonias do passado que se refletem no perispírito e, por consequência, no corpo físico.

Na Revista Espírita, Kardec abordou casos de loucura e obsessão, destacando a necessidade de distinguir entre doenças orgânicas e a influência espiritual. Para o Espiritismo, há situações em que a esquizofrenia pode estar associada a processos obsessivos — interferência de Espíritos desencarnados — ou até mesmo à auto-obsessão, quando o próprio Espírito se mantém preso a culpas e fixações do passado.

Esquizofrenia e obsessão espiritual

As manifestações delirantes ou alucinatórias podem, em alguns casos, ser agravadas pela presença de Espíritos perturbadores, que encontram sintonia no paciente em razão de sua fragilidade moral ou psíquica. Kardec já advertia, em O Livro dos Médiuns, que a obsessão pode assumir formas graves, confundindo-se com a loucura.

Nesses casos, a terapêutica espírita se mostra relevante, não como substituta do tratamento médico, mas como complemento indispensável. O passe, a água fluidificada, a prece, a evangelhoterapia e, sobretudo, a prática da desobsessão podem contribuir para a harmonização do enfermo, oferecendo-lhe recursos espirituais que a medicina materialista ainda não considera.

A dimensão terapêutica integral

O Espiritismo não nega os avanços da medicina. Pelo contrário, recomenda que os tratamentos médicos sejam seguidos, reconhecendo a importância dos psicofármacos no controle dos sintomas. No entanto, propõe uma visão integral do ser humano: corpo, perispírito e Espírito.

Assim, o tratamento da esquizofrenia deve ser visto como um processo interdisciplinar e interdimensional. O paciente é um Espírito em aprendizado, que pode estar resgatando experiências do passado ou enfrentando provas necessárias à sua evolução. A cura, portanto, não se limita ao alívio dos sintomas, mas inclui a renovação moral, o equilíbrio espiritual e a conscientização do sentido da vida.

Conclusão

A esquizofrenia, sob o prisma espírita, é um desafio que ultrapassa os limites da ciência médica tradicional. Sua origem é multifatorial, envolvendo fatores orgânicos, psíquicos, sociais e espirituais. Mais do que um transtorno, é uma oportunidade de aprendizado e crescimento para o Espírito, que, por meio da dor e das limitações, pode despertar para valores superiores.

Ao unir Psiquiatria e Espiritismo, abre-se um campo fértil de diálogo, onde a ciência e a fé raciocinada podem caminhar juntas. Como lembra a Doutrina Espírita, “não há doenças, há doentes”, e cada caso deve ser tratado de forma única, considerando a integralidade do ser humano.

A terapêutica integral — que inclui o cuidado médico, o amparo espiritual e a renovação moral — é o caminho mais promissor para auxiliar os que sofrem de esquizofrenia a reencontrarem a paz e a dignidade de viver.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 1999.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Rio de Janeiro: FEB, 1999.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos (1858-1869). Tradução da FEB.
  • XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo. Evolução em Dois Mundos. Pelo Espírito André Luiz. Rio de Janeiro: FEB, 2003.
  • HESSEN, Jorge. A Esquizofrenia Pode Ser Tratada na Dimensão do Espírito. Artigo disponível online.
  • JUNG, Carl Gustav. Psicogênese das Doenças Mentais. Petrópolis: Vozes, 1999.

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