sexta-feira, 5 de setembro de 2025

A PRECE NO ESPIRITISMO
LAÇO VIVO ENTRE O HOMEM E DEUS
- A Era do Espírito -

Introdução

Entre todas as tradições religiosas e espirituais, a prece sempre ocupou um lugar de destaque. Ela é expressão da alma em busca de auxílio, de consolo e de comunhão com o Criador. O Espiritismo, codificado por Allan Kardec, não aborda a prece como rito ou fórmula, mas como uma necessidade universal do ser humano, confirmada pela observação e pela experiência.

A Doutrina Espírita mostra que a prece não é um ato ilusório nem mero consolo psicológico: ela é uma ação real do pensamento, que cria um laço entre o orante, Deus e os Espíritos, com efeitos morais, espirituais e até fluídicos. A força da prece, no entanto, não está nas palavras, mas na intenção sincera, na humildade e na confiança daquele que ora.

O sentido e a utilidade da prece

Em O Livro dos Espíritos (q. 658-666), os Espíritos ensinam que orar é uma necessidade da alma. Pela prece, o homem louva, pede ou agradece, aproximando-se de Deus e recebendo forças para enfrentar as lutas da vida. Longe de ser privilégio de religiões ou seitas, a prece é universal, brotando do íntimo do ser humano em todas as épocas e culturas.

Kardec observa que, sem a prece, o homem se prende unicamente às coisas materiais, perdendo a oportunidade de elevar o pensamento e de fortalecer-se moralmente (Revista Espírita, jan. 1866).

Prece, invocação e evocação

No vocabulário espírita, toda prece é uma invocação: um chamado a Deus ou aos Espíritos superiores para que nos assistam. Em certos casos, a prece pode se assemelhar a uma evocação, isto é, um apelo direto a um Espírito determinado. No entanto, diferentemente dos antigos ritos mágicos, no Espiritismo a evocação é simples e natural, dispensando fórmulas ou aparatos externos (Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas).

Assim, seja dirigida a Deus, aos bons Espíritos ou a entes queridos, a prece é sempre um testemunho de afeto, de simpatia e de ligação espiritual.

O poder do pensamento e da vontade

Segundo o Espiritismo, o pensamento é atributo essencial do Espírito. Pela vontade, esse pensamento se torna força capaz de agir além dos limites do corpo. Kardec explica que o pensamento se transmite pelo fluido universal, que envolve todos os seres, estabelecendo correntes fluídicas que alcançam encarnados e desencarnados (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XXVII, item 10).

É assim que a prece alcança quem a recebe, não importando a distância. Quando sincera e ardente, ela pode atrair bons Espíritos, que auxiliam moralmente, sugerem bons pensamentos e transmitem forças renovadoras.

Efeitos morais e fluídicos da prece

A ação da prece não se limita ao campo moral. Kardec, em diversos artigos da Revista Espírita (dez. 1859; jan. 1866), mostra que a prece também pode ter efeitos fluídicos, auxiliando no alívio de sofrimentos físicos e morais. Isso ocorre porque o pensamento e a vontade atuam sobre os fluidos, transmitindo energias benéficas àquele que ora e àquele por quem se ora.

Todavia, é importante compreender que a prece não altera as leis divinas nem suprime provas necessárias. Ela fortalece o Espírito, dá resignação e inspira soluções, sem abolir a justiça ou a lei de progresso. Como ensinou Jesus: “Ajuda-te, e o céu te ajudará” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XXV, item 2).

A prece pelos outros e pelos desencarnados

Orar pelos outros é uma forma elevada de caridade. A prece sincera em favor de alguém é um ato de amor e solidariedade, que nunca se perde. Kardec afirma que recusar uma prece a um Espírito sofredor é como negar um copo d’água a quem tem sede (Revista Espírita, dez. 1868).

As almas necessitadas recebem alívio com nossas preces, pois se sentem lembradas e amparadas. Mais ainda: a prece pode despertar nelas o arrependimento e o desejo de se melhorar, atraindo Espíritos superiores que as esclarecem e consolam. Daí a utilidade de orar pelos desencarnados, em especial pelos que sofrem.

A verdadeira prece: espontânea e sincera

Para o Espiritismo, o essencial não é orar muito, mas orar bem. Não é a multiplicidade de palavras que confere valor à prece, mas a sinceridade, a humildade e a fé viva. O rito pode ser forma exterior, mas a verdadeira prece é espontânea, natural, um diálogo íntimo da alma com Deus e com os Espíritos bons.

As palavras podem ser simples, mas o coração deve estar presente. E, sobretudo, as ações devem confirmar a prece: o bem praticado, a caridade, a transformação moral e os esforços contra nossas más inclinações são, em si, as mais poderosas orações.

Conclusão

A prece, à luz do Espiritismo, não é superstição nem mera convenção social. É um recurso divino colocado ao alcance de todos, capaz de elevar a alma, consolar nas dores, fortalecer contra as tentações e criar vínculos de solidariedade entre os homens e os Espíritos.

Quando sincera e confiante, ela mobiliza o auxílio dos bons Espíritos, contribui para o alívio dos sofrimentos e nos ensina a valorizar o autoconhecimento e a reforma íntima como caminhos indispensáveis para o perdão e para a verdadeira paz.

Assim, compreender e praticar a prece é integrar-se à lei de amor que rege o universo, tornando-nos participantes ativos da grande obra de progresso espiritual da humanidade.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Livro III, cap. II, subcap. IV (qq. 658 a 666).
  • KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. XVII, item 4; Cap. XXV, item 2; Cap. XXVII, item 10.
  • KARDEC, Allan. Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas. Vocabulário.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos (1858-1869).
    • Dezembro de 1859 – Efeitos da Prece.
    • Janeiro de 1866 – Considerações sobre a Prece no Espiritismo.
    • Dezembro de 1868 – Sessão Anual Comemorativa dos Mortos.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. Rio de Janeiro: FEB.
  • XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo. Evolução em Dois Mundos. Pelo Espírito André Luiz. Rio de Janeiro: FEB.
  • PIRES, J. Herculano. Introdução à Filosofia Espírita.

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