terça-feira, 30 de setembro de 2025

LIBERDADE: DA LEI DIVINA AO CAMINHO
DA EMANCIPAÇÃO ESPIRITUAL
- A Era do Espírito -

Introdução

Ao longo dos séculos, a palavra liberdade foi entoada como grito de dor e de esperança por povos escravizados, perseguidos políticos, religiosos silenciados e indivíduos privados de dignidade. No entanto, nem sempre a humanidade compreendeu o verdadeiro alcance desse princípio. A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, esclarece que a liberdade não é apenas uma conquista social ou política, mas sobretudo uma Lei Divina, gravada na consciência e presente em cada etapa da evolução espiritual.

No Livro dos Espíritos, capítulo “Lei da Liberdade” (questões 825 a 872), encontramos respostas que nos auxiliam a distinguir entre as várias formas de liberdade — física, de ação, de pensamento e espiritual. Este artigo tem como objetivo refletir sobre tais dimensões, confrontando-as com exemplos históricos e atuais, à luz dos ensinos espíritas e das observações publicadas por Kardec na Revista Espírita (1858-1869).

1. Liberdade Física: Movimento e Limitações

A liberdade mais elementar é a de movimento. O ser humano primitivo já usufruía dessa condição ao deslocar-se em busca de alimento e abrigo. Com o tempo, sua engenhosidade permitiu ampliar tal liberdade: aprendeu a nadar, a usar meios de transporte e, mais tarde, a conquistar os céus.

Mas, como lembra Kardec, é justamente nas restrições que a liberdade física revela seu valor. Prisões injustas, doenças incapacitantes ou barreiras sociais mostram que a liberdade de movimento pode ser limitada. Nelson Mandela, após 27 anos de cárcere, e Stephen Hawking, preso a uma cadeira pela esclerose lateral amiotrófica, demonstraram que a limitação do corpo não impede a grandeza moral e intelectual do Espírito. O Espiritismo ensina que tais provas são instrumentos da Justiça Divina para o progresso individual.

2. Liberdade de Ação: O Desafio Social e Moral

A liberdade de ação refere-se ao uso do livre-arbítrio nas relações sociais. A escravidão, explicitamente condenada nas questões 829 a 832 de O Livro dos Espíritos, constitui aberração contra a Lei de Deus. Embora juridicamente abolida, persiste em formas modernas de exploração, como o trabalho análogo à escravidão e a exploração sexual.

Outra restrição é a dominação de um povo por outro, ainda observada em tensões geopolíticas contemporâneas. Contudo, a maior limitação da liberdade de ação é natural: decorre do convívio social. Como afirmam os Espíritos (q. 826), a liberdade absoluta só seria possível ao eremita isolado. A vida em sociedade exige respeito mútuo, condição indispensável para a verdadeira fraternidade.

3. Liberdade de Pensar: Um Dom Absoluto

Se a ação sofre limitações, o pensamento, ao contrário, é absolutamente livre. Nenhuma prisão ou regime político pode impedir o Espírito de pensar. Essa faculdade, no entanto, pode ser bênção ou tormento. Quando mal orientado, o pensamento gera doenças psíquicas e físicas, além de compromissos espirituais negativos.

A Revista Espírita registra diversos casos de manifestações mediúnicas que evidenciam o poder criador da mente, capaz de plasmar formas no mundo espiritual. Essa realidade confirma a afirmação dos Espíritos (q. 833): no pensamento, o homem encontra liberdade ilimitada, cabendo-lhe direcioná-la para o bem.

4. Liberdade de Expressão da Consciência

A consciência é a bússola interior que indica ao Espírito o que convém ou não realizar. Entretanto, sua expressão pode ser restringida por fatores sociais, culturais, religiosos ou políticos. A história registra perseguições a filósofos, cientistas e reformadores espirituais, muitos dos quais se tornaram mártires da liberdade de consciência.

Hoje, com a Internet, essa liberdade alcançou novos patamares. Se, por um lado, se multiplicam conteúdos superficiais e até nocivos, por outro, nunca foi tão ampla a difusão do conhecimento, da ciência e da espiritualidade. Cabe ao discernimento individual filtrar o que edifica.

5. Livre-Arbítrio e Constrangimento Espiritual

A liberdade encontra sua expressão plena no livre-arbítrio, faculdade que permite ao ser humano escolher seus caminhos. Contudo, suas escolhas sempre se submetem à lei de causa e efeito. A obsessão — influência de Espíritos inferiores sobre encarnados — é um dos mais sérios constrangimentos espirituais. Kardec e diversos colaboradores na Revista Espírita documentaram casos em que a mente e o corpo sofriam sob esse jugo invisível, confirmando a importância da vigilância e da prece.

6. A Verdadeira Liberdade: Emancipação Espiritual

Jesus afirmou: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8:32). A verdadeira liberdade não se encontra apenas em direitos civis, na saúde física ou na livre circulação de ideias. Ela reside na libertação interior, alcançada quando o Espírito domina suas paixões, cumpre a lei de amor e se torna discípulo do Cristo.

Emmanuel, em Palavras de Vida Eterna, lembra que a fé sem obras é estéril. Ser livre, na essência, é agir em harmonia com as Leis Divinas, servindo com amor e construindo o bem. Nesse estágio, o Espírito não mais depende de circunstâncias externas para sentir-se livre, pois encontra sua emancipação no próprio interior.

Conclusão

A liberdade, tantas vezes proclamada em batalhas humanas, é, no fundo, expressão de uma lei universal que conduz o Espírito ao seu destino de perfeição. As restrições físicas, sociais ou espirituais não anulam, mas educam, preparando o ser para a liberdade plena.

À luz do Espiritismo, compreendemos que a verdadeira liberdade só se conquista com a transformação íntima, a vivência do Evangelho e o uso responsável do livre-arbítrio. Essa liberdade espiritual é inviolável, porque nasce da união do Espírito com a Verdade Eterna.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Questões 825 a 872. FEB.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB.
  • KARDEC, Allan (dir.). Revista Espírita (1858-1869).
  • XAVIER, Francisco Cândido. Palavras de Vida Eterna, pelo Espírito Emmanuel. CEC.
  • MIRANDA, Manoel Philomeno de. Painéis da Obsessão, psicografia de Divaldo P. Franco. LEAL.
  • UBALDI, Pietro. A Grande Síntese. Instituto Pietro Ubaldi.
  • BÍBLIA SAGRADA. João 8:32.
  • COSTA, Renato. A Liberdade, Artigo

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