segunda-feira, 22 de setembro de 2025

LOCAIS ASSOMBRADOS: VISÃO ESPÍRITA
SOBRE UM FENÔMENO UNIVERSAL
- A Era do Espírito -

Introdução

A crença em “locais assombrados” acompanha a humanidade desde tempos imemoriais. Ruínas, castelos, florestas e cemitérios foram tradicionalmente vistos como espaços povoados por presenças sobrenaturais, alimentando mitos, contos e lendas que atravessaram culturas. O Espiritismo, codificado por Allan Kardec no século XIX, oferece uma explicação racional para esses relatos, afastando o caráter supersticioso e situando-os no campo das manifestações espirituais.

Este artigo busca compreender, à luz da Doutrina Espírita e da Revista Espírita, as origens e o sentido dessas manifestações, distinguindo entre superstição popular e realidade espiritual.

Espíritos e o apego aos lugares

Segundo Kardec (O Livro dos Médiuns, cap. IX, item 132), a presença insistente de Espíritos em determinados locais decorre do grau de apego deles às coisas terrenas:

  • Espíritos ainda presos ao mundo material podem permanecer próximos a objetos, riquezas ou lugares que valorizaram em vida.
  • Espíritos elevados, por outro lado, não se ligam a coisas materiais, mas podem aproximar-se de pessoas por amor ou afinidade.
  • A permanência em locais específicos pode, em alguns casos, representar uma expiação: criminosos podem ser compelidos a contemplar os ambientes ligados às suas faltas.

Portanto, a presença espiritual em um lugar não é sinal automático de maldade, mas de inferioridade moral relativa, como entre os próprios encarnados.

Ruínas, cemitérios e crenças populares

A ideia de que Espíritos habitam ruínas e cemitérios tem mais relação com a imaginação humana do que com a realidade. O aspecto lúgubre desses espaços favorece associações com o sobrenatural. Entretanto:

  • Espíritos estão em todos os lugares, sobretudo onde há presença humana.
  • O apego ao túmulo não é comum aos Espíritos superiores, pois o corpo físico não tem importância para eles. O que realmente os atrai é o afeto dos vivos, manifestado pela lembrança sincera e pela prece. (O Livro dos Espíritos, q. 323).
  • As crenças populares preservam um “fundo de verdade”: desde tempos antigos, o ser humano pressente a vida espiritual. Mas o medo, aliado às tradições culturais, produziu exageros e superstições.

Manifestações e intenções dos Espíritos

As manifestações atribuídas a “assombrações” podem assumir diferentes formas: ruídos, aparições ou movimentos de objetos. Segundo a Doutrina:

  • Espíritos levianos ou brincalhões buscam divertir-se com o medo humano.
  • Espíritos sofredores podem tentar comunicar sua presença, pedindo auxílio.
  • Espíritos protetores podem permanecer próximos a lares e famílias, mas suas manifestações jamais são desagradáveis.

Essas distinções ajudam a compreender que nem toda manifestação é negativa. O critério de avaliação está no efeito moral e nas intenções percebidas.

Como lidar com locais “assombrados”

O Espiritismo recomenda evitar rituais exteriores, como exorcismos, que pouco efeito têm sobre os Espíritos. Pelo contrário, podem até estimular zombarias dos Espíritos inferiores.

As orientações espíritas são claras:

  1. Oração sincera – atrai Espíritos bons e alivia os sofredores.
  2. Conduta moral – pensamentos e ações elevadas criam um ambiente vibratório saudável, incompatível com presenças perturbadoras.
  3. Educação espiritual – compreender a realidade das manifestações desfaz o medo e impede que Espíritos brincalhões explorem a credulidade.

Assim, a autoridade sobre os Espíritos inferiores depende da superioridade moral, e não de fórmulas ou rituais.

Atualidade do tema

Nos dias atuais, a crença em casas mal-assombradas ainda aparece em reportagens, programas de TV e redes sociais, muitas vezes explorada de forma sensacionalista. O Espiritismo oferece uma leitura racional e educativa, lembrando que:

  • Espíritos estão em toda parte, não apenas em lugares tidos como “assombrados”.
  • O medo decorre mais da imaginação e da cultura do que da realidade espiritual.
  • A convivência com a espiritualidade é natural e contínua, devendo ser pautada pela confiança em Deus, pelo cultivo do bem e pelo uso da razão.

Conclusão

O estudo da Doutrina Espírita sobre os chamados “locais assombrados” mostra que não há espaços intrinsecamente amaldiçoados ou privilegiados para a manifestação dos Espíritos. O que existe são presenças espirituais ligadas por afinidade, apego ou necessidade, manifestando-se de acordo com seu grau de evolução moral.

O Espiritismo, ao substituir a superstição pela explicação racional, transforma o medo em oportunidade de aprendizado, convidando à prática do bem e ao fortalecimento moral como meios de convivência harmoniosa com o mundo invisível.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. 2ª parte, cap. IX, item 132.
  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858–1869). Diversos relatos de manifestações espontâneas.
  • PIRES, José Herculano (notas e comentários). Ed. LAKE.
  • DELANNE, Gabriel. Le Spiritisme devant la Science. Paris, 1885.

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