Introdução
Todos já passamos pela experiência de querer
permanecer mais alguns minutos na cama, mesmo sabendo que o relógio aponta para
os compromissos do dia. Essa cena cotidiana é simbólica: revela a luta
constante entre o dever e a acomodação, entre a necessidade de agir e a
tentação do repouso prolongado. Se, no campo material, cedermos repetidamente à
preguiça, corremos o risco de perder oportunidades de trabalho ou de
crescimento; no campo moral, a negligência diante do dever pode comprometer
nosso progresso espiritual.
À luz da Doutrina Espírita, o dever é lei natural
que se expressa como responsabilidade para com Deus, consigo mesmo e com o
próximo. Esse princípio, abordado por Allan Kardec em O Livro dos Espíritos
e ampliado em diversos artigos da Revista Espírita, ensina que a
felicidade futura depende do esforço de hoje.
O dever e
a luta interior
A metáfora do despertar ilustra bem as resistências
internas que enfrentamos na jornada moral. Assim como o corpo pede repouso
diante do alarme, o Espírito frequentemente se esquiva de compromissos éticos:
desculpar ofensas, ajudar um necessitado, manter o diálogo com familiares,
cultivar a paciência. São tarefas simples, mas que exigem desprendimento e
superação do egoísmo.
Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo
(cap. XVII, item 7), lembra que “reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua
transformação moral e pelos esforços que faz para domar suas inclinações más”.
Ou seja, o mérito não está em não sentir dificuldades, mas em lutar contra
elas.
O dever
como lei da vida
O Espiritismo ensina que o dever não é imposição
externa, mas compromisso da consciência. No Livro dos Espíritos
(questões 629-642), vemos que a lei moral exige que cada um faça o bem no
limite das próprias forças, lembrando que “o bem verdadeiro é sempre conforme à
lei de Deus”.
Assim, quando nos omitimos — seja por preguiça, por
orgulho ou por comodismo — deixamos de aproveitar oportunidades valiosas de
crescimento. A vida, em sua pedagogia divina, corrige essa negligência,
colocando-nos em situações que nos forçam a aprender. É a forma como o Pai
amoroso convida os filhos a sair da infância moral e amadurecer.
Atualidade
do tema
Vivemos em uma sociedade marcada pela pressa e pelo
imediatismo, mas paradoxalmente seduzida pela busca de conforto e prazer. A
tentação da “zona de conforto” está por toda parte, reforçada pelo consumismo e
pela cultura digital. Contudo, pesquisas em psicologia positiva apontam que a
verdadeira satisfação pessoal está ligada ao cumprimento de propósitos
significativos e à prática de valores como altruísmo e responsabilidade.
No campo espírita, as práticas de caridade, estudo
e reforma íntima funcionam como exercícios diários que treinam a vontade para
vencer a inércia moral. Da mesma forma que a disciplina do corpo garante saúde,
a disciplina do Espírito fortalece a consciência e nos aproxima da paz real.
Conclusão
Cumprir o dever é, muitas vezes, caminhar contra a
maré do comodismo. Exige esforço, renúncia e perseverança. Porém, é esse
esforço que edifica a alma e garante a alegria duradoura, em contraste com a
ilusão dos prazeres imediatos.
Assim como desperta do sono quem ouve o alarme da
vida, o Espírito é chamado a despertar para sua missão de amar, servir e
evoluir. Cumprir o dever é beber da fonte cristalina da felicidade, ao passo
que fugir dele é beber a água salgada das ilusões, que jamais saciam.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
- KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos
(1858-1869).
- Momento Espírita. O dever e a acomodação. Disponível em: momento.com.br.
- SELIGMAN, Martin. Felicidade Autêntica. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2004.
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