quinta-feira, 18 de setembro de 2025

O DEVER E A SUPERAÇÃO DA ACOMODAÇÃO
- A Era do Espírito -

Introdução

Todos já passamos pela experiência de querer permanecer mais alguns minutos na cama, mesmo sabendo que o relógio aponta para os compromissos do dia. Essa cena cotidiana é simbólica: revela a luta constante entre o dever e a acomodação, entre a necessidade de agir e a tentação do repouso prolongado. Se, no campo material, cedermos repetidamente à preguiça, corremos o risco de perder oportunidades de trabalho ou de crescimento; no campo moral, a negligência diante do dever pode comprometer nosso progresso espiritual.

À luz da Doutrina Espírita, o dever é lei natural que se expressa como responsabilidade para com Deus, consigo mesmo e com o próximo. Esse princípio, abordado por Allan Kardec em O Livro dos Espíritos e ampliado em diversos artigos da Revista Espírita, ensina que a felicidade futura depende do esforço de hoje.

O dever e a luta interior

A metáfora do despertar ilustra bem as resistências internas que enfrentamos na jornada moral. Assim como o corpo pede repouso diante do alarme, o Espírito frequentemente se esquiva de compromissos éticos: desculpar ofensas, ajudar um necessitado, manter o diálogo com familiares, cultivar a paciência. São tarefas simples, mas que exigem desprendimento e superação do egoísmo.

Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XVII, item 7), lembra que “reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para domar suas inclinações más”. Ou seja, o mérito não está em não sentir dificuldades, mas em lutar contra elas.

O dever como lei da vida

O Espiritismo ensina que o dever não é imposição externa, mas compromisso da consciência. No Livro dos Espíritos (questões 629-642), vemos que a lei moral exige que cada um faça o bem no limite das próprias forças, lembrando que “o bem verdadeiro é sempre conforme à lei de Deus”.

Assim, quando nos omitimos — seja por preguiça, por orgulho ou por comodismo — deixamos de aproveitar oportunidades valiosas de crescimento. A vida, em sua pedagogia divina, corrige essa negligência, colocando-nos em situações que nos forçam a aprender. É a forma como o Pai amoroso convida os filhos a sair da infância moral e amadurecer.

Atualidade do tema

Vivemos em uma sociedade marcada pela pressa e pelo imediatismo, mas paradoxalmente seduzida pela busca de conforto e prazer. A tentação da “zona de conforto” está por toda parte, reforçada pelo consumismo e pela cultura digital. Contudo, pesquisas em psicologia positiva apontam que a verdadeira satisfação pessoal está ligada ao cumprimento de propósitos significativos e à prática de valores como altruísmo e responsabilidade.

No campo espírita, as práticas de caridade, estudo e reforma íntima funcionam como exercícios diários que treinam a vontade para vencer a inércia moral. Da mesma forma que a disciplina do corpo garante saúde, a disciplina do Espírito fortalece a consciência e nos aproxima da paz real.

Conclusão

Cumprir o dever é, muitas vezes, caminhar contra a maré do comodismo. Exige esforço, renúncia e perseverança. Porém, é esse esforço que edifica a alma e garante a alegria duradoura, em contraste com a ilusão dos prazeres imediatos.

Assim como desperta do sono quem ouve o alarme da vida, o Espírito é chamado a despertar para sua missão de amar, servir e evoluir. Cumprir o dever é beber da fonte cristalina da felicidade, ao passo que fugir dele é beber a água salgada das ilusões, que jamais saciam.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos (1858-1869).
  • Momento Espírita. O dever e a acomodação. Disponível em: momento.com.br.
  • SELIGMAN, Martin. Felicidade Autêntica. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.

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