terça-feira, 30 de setembro de 2025

OS REINOS DA NATUREZA
E A EVOLUÇÃO DO PRINCÍPIO INTELIGENTE
- A Era do Espírito -

Introdução

Desde a Antiguidade, o ser humano busca compreender a organização da natureza. Classificações tradicionais dividiram os seres em orgânicos e inorgânicos; mais tarde, em reinos mineral, vegetal e animal; e, com o avanço da ciência, acrescentou-se o reino humano como um estágio diferenciado da evolução.

A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec a partir de 1857, acrescenta a esse debate uma perspectiva singular: a de que, além da evolução material e biológica, existe a evolução espiritual. O Espírito, criado simples e ignorante, percorre longas etapas de aprendizado, desde os primeiros rudimentos da vida até alcançar a razão, o livre-arbítrio e, finalmente, a responsabilidade moral.

Essa visão amplia o entendimento científico dos reinos da natureza, oferecendo uma chave de leitura espiritual e moral para o processo evolutivo.

Os Três Reinos e a Perspectiva Espírita

Em O Livro dos Espíritos, especialmente no capítulo XI do Livro Segundo, Kardec discute os três reinos — mineral, vegetal e animal — e a condição singular do homem. Os minerais, seres inorgânicos, representam a matéria inerte, sem vitalidade, caracterizados apenas por forças físicas e mecânicas, como a atração. O reino vegetal já apresenta a vida orgânica, embora sem consciência ou sensibilidade moral, limitando-se à vitalidade e ao instinto de conservação.

O reino animal, por sua vez, introduz o instinto mais elaborado e sinais de inteligência rudimentar, conferindo ao ser vivo uma individualidade relativa e uma forma inicial de liberdade, ainda restrita às necessidades materiais. Entre o animal e o homem há zonas intermediárias, como observou Kardec e, mais tarde, a própria ciência ao estudar os primatas antropoides.

No homem, encontramos a síntese: corpo orgânico, vitalidade, instinto e inteligência racional. Mas há algo mais — a consciência de si, a percepção do futuro e a capacidade de compreender Deus. Aqui o princípio inteligente transforma-se em Espírito, dotado de livre-arbítrio e de responsabilidade moral.

O Encadeamento da Evolução

A visão espírita sobre os reinos naturais sugere um processo evolutivo contínuo. Léon Denis sintetizou poeticamente: “A alma dorme na pedra, sonha no vegetal, agita-se no animal e acorda no homem” (*). Essa progressão reflete a lei de continuidade, observável tanto na ciência quanto na filosofia espiritualista.

J. Herculano Pires chamou esse entendimento de Ontogênese Espírita, mais audaciosa que a teoria de Darwin, pois não se limita à evolução da matéria, mas considera sobretudo a evolução do Espírito. Enquanto Darwin demonstrou o parentesco fisiológico entre os seres vivos e a seleção natural como motor da transformação das espécies, o Espiritismo afirma que é o princípio inteligente — e não apenas a matéria — o que verdadeiramente evolui.

Na obra Evolução em Dois Mundos, o Espírito André Luiz detalha como o princípio inteligente vai adquirindo automatismos em cada etapa: atração no mineral, sensação no vegetal, instinto no animal e pensamento contínuo no homem. Esse percurso mostra que somos herdeiros de um longo aprendizado, construído ao longo dos milênios.

(*) A frase "A alma dorme na pedra, sonha no vegetal, agita-se no animal e acorda no homem" é atribuída ao pensador espírita Léon Denis, aparecendo em obras como O Problema do Ser e do Destino. No entanto, a frase exata que circula é uma versão popularizada e não uma citação literal encontrada em seus textos, sendo a versão original um pouco diferente. A frase exata que se popularizou foi desdobrada e modificada a partir de um texto do próprio Denis. Ele escreve em O Problema do Ser e do Destino: "Na planta, a inteligência dormita; no animal, sonha; só no homem acorda, conhece-se, possui-se e torna-se consciente".

Intersecções com a Ciência Atual

A ciência moderna confirma a existência de zonas intermediárias entre os reinos, como no caso dos vírus — que não são plenamente considerados organismos vivos, mas também não se reduzem à matéria inorgânica. Além disso, o estudo das plantas revela respostas a estímulos externos, que, embora não representem consciência, demonstram complexidade vital.

Na biologia contemporânea, os primatas antropoides ainda são estudados como elos importantes para compreender a cognição, a linguagem rudimentar e a organização social que precederam o aparecimento do homem. Esses dados dialogam com as observações espíritas sobre as zonas de transição entre os reinos.

Conclusão

A classificação dos reinos da natureza não é apenas uma questão científica. Para o Espiritismo, ela reflete o itinerário do princípio inteligente rumo à sua destinação maior: tornar-se Espírito consciente, livre e responsável diante da vida. O homem, ao reunir todas as aquisições anteriores, encontra-se no limiar de um novo passo: a transformação em Espírito puro, liberto da influência da matéria.

Assim, o estudo dos reinos naturais, iluminado pela Doutrina Espírita, convida-nos não apenas a contemplar a ordem da criação, mas também a reconhecer nossa própria responsabilidade moral no processo evolutivo, lembrando que do átomo ao arcanjo tudo se encadeia na natureza, sem rupturas, sob a direção sábia de Deus.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: FEESP, 1995.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869). Trad. FEB.
  • PIRES, J. Herculano. Mediunidade: Vida e Comunicação. 5. ed. São Paulo: Edicel, 1984.
  • XAVIER, Francisco Cândido; VIEIRA, Waldo. Evolução em Dois Mundos, pelo Espírito André Luiz. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1977.
  • DENIS, Léon. O Problema do Ser e do Destino. várias edições.
  • DARWIN, Charles. A Origem das Espécies. 1859.

 

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