segunda-feira, 20 de outubro de 2025

A LUZ INTERIOR E O VALOR DO AMPARO
UMA REFLEXÃO ESPÍRITA SOBRE A DOR E O RECOMEÇO
- A Era do Espírito -

Introdução

O relato recente do tenista argentino Frederic Gomez, que chegou a expor publicamente o desejo de desistir da própria vida, reacendeu debates profundos sobre saúde mental, solidão e o papel do apoio humano nas crises existenciais. Sua história tomou um novo rumo quando Novak Djokovic, um dos maiores tenistas da atualidade, respondeu ao desabafo com palavras simples — “Sempre há luz no fim do túnel” — e, sobretudo, com gestos concretos de acolhimento e presença.

Esse episódio comovente revela muito mais que um exemplo de solidariedade esportiva: ilustra, à luz da Doutrina Espírita, o poder do auxílio mútuo e da força interior que todos trazemos, ainda que obscurecida pelos momentos de dor.

1. O sofrimento como parte do processo evolutivo

Segundo Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos (questões 920–945), a infelicidade humana tem origem, muitas vezes, no orgulho e no egoísmo, mas também em provas necessárias ao progresso espiritual. A dor, quando enfrentada com resignação e esperança, torna-se instrumento de aprendizado e fortalecimento moral.

Contudo, a Doutrina não romantiza o sofrimento: reconhece sua gravidade e a necessidade de apoio, tanto material quanto espiritual, para quem se vê em desespero. A vida corporal é uma oportunidade bendita de aperfeiçoamento; abreviá-la seria interromper um ciclo de experiências reparadoras e educativas, adiando lições que a alma precisará retomar.

No caso de Frederic, o desânimo não foi vencido por um milagre repentino, mas por uma presença humana compassiva, símbolo do amparo que o Céu envia através dos que se dispõem a servir como instrumentos do bem.

2. A importância do apoio mútuo e da fraternidade ativa

A Revista Espírita (novembro de 1866) registra diversos exemplos de Espíritos que encontraram, após a morte, a libertação moral proporcionada pelo simples gesto de alguém que lhes estendeu a mão na hora certa. Kardec observava que “a solidariedade é uma lei natural” — um vínculo espiritual que une todos os seres.

No plano terreno, essa lei se manifesta nas ações de empatia, escuta e presença. Em tempos de crescente adoecimento emocional — com índices alarmantes de ansiedade e depressão em jovens e adultos —, o Espiritismo recorda que o auxílio fraterno é mais do que um dever moral: é uma aplicação prática da Lei de Amor, Justiça e Caridade (LE, q. 886).

Djokovic não ofereceu discursos, apenas companhia e estímulo. Assim também o Cristo, em sua pedagogia sublime, nunca se limitava a palavras; tocava os sofredores, caminhava com os aflitos, partilhava o pão e a esperança.

3. A luz que vem de dentro

O texto evangélico em Mateus 5:14 nos recorda: “Vós sois a luz do mundo.” A Doutrina Espírita amplia essa noção, explicando que essa luz é o reflexo do Espírito imortal, essência divina em constante ascensão.

Mesmo quando a mente humana se obscurece em dores e desalento, essa centelha não se apaga — apenas se oculta sob as sombras da desesperança.

Na Revista Espírita (abril de 1862), Kardec observa que “a fé raciocinada é a lâmpada que não se apaga, porque se alimenta da convicção e não da ilusão”. Essa fé, entendida como confiança lúcida nas leis de Deus e no amparo dos bons Espíritos, ajuda-nos a atravessar os túneis mais escuros da alma.

Mas é preciso lembrar: quando a chama parece se extinguir, o amor do outro pode ser o fósforo que reacende nossa própria luz. O auxílio espiritual, muitas vezes, começa por um gesto humano.

4. A missão de ajudar e de deixar-se ajudar

Muitos ainda se envergonham de demonstrar fragilidade, temendo o julgamento alheio. No entanto, como ensina o Espírito Emmanuel, em Pão Nosso, “a humildade é a chave que abre as portas do socorro”. Pedir ajuda é um ato de coragem, e oferecer ajuda é um exercício de caridade.

O amparo, quando sincero, transforma. Um treino, como o que Djokovic ofereceu, não cura uma alma ferida, mas a sustenta. Uma conversa, uma palavra de consolo, uma oração silenciosa — tudo isso constitui energia curativa que o plano espiritual aproveita para agir em nosso favor.

Na lógica espírita, ninguém se salva sozinho, porque a evolução é solidária. Somos elos de uma corrente universal, e cada gesto de bondade ilumina não apenas quem o recebe, mas também quem o oferece.

Conclusão

A história de Frederic e Djokovic é um lembrete de que a luz no fim do túnel não vem de fora — ela desponta do interior, alimentada pelo amor, pela fé e pela solidariedade. Quando faltarem forças para acendê-la, que tenhamos humildade para pedir auxílio; e quando virmos alguém em trevas, que sejamos o candeeiro capaz de iluminar seu caminho.

Em linguagem espírita, essa é a verdadeira vitória: não sobre o adversário, mas sobre o desânimo, o egoísmo e a indiferença.

Porque, como ensinou Jesus e reafirma o Espiritismo: somos a luz do mundo — e a luz não se apaga, apenas se compartilha.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1ª ed., Paris, 1857.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858–1869). Diversos volumes.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1ª ed., Paris, 1864.
  • XAVIER, Francisco Cândido (pelo Espírito Emmanuel). Pão Nosso. FEB, 1950.
  • Momento Espírita – “A tal luz no fim do túnel”, momento.com.br
  • Relato do podcaster Luciano PotterEfeito Vírgula
  • Organização Mundial da Saúde (OMS) – Relatórios sobre Saúde Mental Global, 2024.

 

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