Introdução
O
relato recente do tenista argentino Frederic Gomez, que chegou a expor
publicamente o desejo de desistir da própria vida, reacendeu debates profundos
sobre saúde mental, solidão e o papel do apoio humano nas crises existenciais.
Sua história tomou um novo rumo quando Novak Djokovic, um dos maiores
tenistas da atualidade, respondeu ao desabafo com palavras simples — “Sempre
há luz no fim do túnel” — e, sobretudo, com gestos concretos de acolhimento
e presença.
Esse
episódio comovente revela muito mais que um exemplo de solidariedade esportiva:
ilustra, à luz da Doutrina Espírita, o poder do auxílio mútuo e da força
interior que todos trazemos, ainda que obscurecida pelos momentos de dor.
1. O sofrimento como parte do processo evolutivo
Segundo
Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos (questões 920–945), a
infelicidade humana tem origem, muitas vezes, no orgulho e no egoísmo, mas
também em provas necessárias ao progresso espiritual. A dor, quando enfrentada
com resignação e esperança, torna-se instrumento de aprendizado e fortalecimento
moral.
Contudo,
a Doutrina não romantiza o sofrimento: reconhece sua gravidade e a necessidade
de apoio, tanto material quanto espiritual, para quem se vê em desespero. A
vida corporal é uma oportunidade bendita de aperfeiçoamento; abreviá-la seria
interromper um ciclo de experiências reparadoras e educativas, adiando lições
que a alma precisará retomar.
No
caso de Frederic, o desânimo não foi vencido por um milagre repentino, mas por
uma presença humana compassiva, símbolo do amparo que o Céu envia através
dos que se dispõem a servir como instrumentos do bem.
2. A importância do apoio mútuo e da fraternidade
ativa
A Revista
Espírita (novembro de 1866) registra diversos exemplos de Espíritos que
encontraram, após a morte, a libertação moral proporcionada pelo simples gesto
de alguém que lhes estendeu a mão na hora certa. Kardec observava que “a
solidariedade é uma lei natural” — um vínculo espiritual que une todos os
seres.
No
plano terreno, essa lei se manifesta nas ações de empatia, escuta e presença.
Em tempos de crescente adoecimento emocional — com índices alarmantes de
ansiedade e depressão em jovens e adultos —, o Espiritismo recorda que o
auxílio fraterno é mais do que um dever moral: é uma aplicação prática da Lei
de Amor, Justiça e Caridade (LE, q. 886).
Djokovic
não ofereceu discursos, apenas companhia e estímulo. Assim também o
Cristo, em sua pedagogia sublime, nunca se limitava a palavras; tocava os
sofredores, caminhava com os aflitos, partilhava o pão e a esperança.
3. A luz que vem de dentro
O
texto evangélico em Mateus 5:14 nos recorda: “Vós sois a luz do mundo.”
A Doutrina Espírita amplia essa noção, explicando que essa luz é o reflexo do
Espírito imortal, essência divina em constante ascensão.
Mesmo
quando a mente humana se obscurece em dores e desalento, essa centelha não se
apaga — apenas se oculta sob as sombras da desesperança.
Na Revista
Espírita (abril de 1862), Kardec observa que “a fé raciocinada é a lâmpada que não se apaga, porque se alimenta da
convicção e não da ilusão”. Essa fé, entendida como confiança lúcida nas
leis de Deus e no amparo dos bons Espíritos, ajuda-nos a atravessar os túneis
mais escuros da alma.
Mas é
preciso lembrar: quando a chama parece se extinguir, o amor do outro pode
ser o fósforo que reacende nossa própria luz. O auxílio espiritual, muitas
vezes, começa por um gesto humano.
4. A missão de ajudar e de deixar-se ajudar
Muitos
ainda se envergonham de demonstrar fragilidade, temendo o julgamento alheio. No
entanto, como ensina o Espírito Emmanuel, em Pão Nosso, “a humildade é a chave que abre as portas do
socorro”. Pedir ajuda é um ato de coragem, e oferecer ajuda é um exercício
de caridade.
O
amparo, quando sincero, transforma. Um treino, como o que Djokovic ofereceu,
não cura uma alma ferida, mas a sustenta. Uma conversa, uma palavra de consolo,
uma oração silenciosa — tudo isso constitui energia curativa que o plano
espiritual aproveita para agir em nosso favor.
Na
lógica espírita, ninguém se salva sozinho, porque a evolução é
solidária. Somos elos de uma corrente universal, e cada gesto de bondade
ilumina não apenas quem o recebe, mas também quem o oferece.
Conclusão
A
história de Frederic e Djokovic é um lembrete de que a luz no fim do túnel não
vem de fora — ela desponta do interior, alimentada pelo amor, pela fé e pela
solidariedade. Quando faltarem forças para acendê-la, que tenhamos humildade
para pedir auxílio; e quando virmos alguém em trevas, que sejamos o candeeiro
capaz de iluminar seu caminho.
Em
linguagem espírita, essa é a verdadeira vitória: não sobre o adversário, mas
sobre o desânimo, o egoísmo e a indiferença.
Porque,
como ensinou Jesus e reafirma o Espiritismo: somos a luz do mundo — e a luz
não se apaga, apenas se compartilha.
Referências
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. 1ª ed., Paris, 1857.
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita (1858–1869). Diversos volumes.
- KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo. 1ª ed., Paris, 1864.
- XAVIER, Francisco
Cândido (pelo Espírito Emmanuel). Pão Nosso. FEB, 1950.
- Momento Espírita – “A tal luz no
fim do túnel”, momento.com.br
- Relato do podcaster
Luciano Potter – Efeito Vírgula
- Organização Mundial
da Saúde (OMS) – Relatórios sobre Saúde Mental Global, 2024.
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