segunda-feira, 20 de outubro de 2025

INFERTILIDADE E PROVAS DA ALMA
UMA LEITURA ESPÍRITA
SOBRE A LEI DE REPRODUÇÃO
- A Era do Espírito -

Introdução

A infertilidade, tema sensível e multifacetado, vai além do diagnóstico médico e das estatísticas demográficas. Sob o prisma da Doutrina Espírita, ela é compreendida como uma experiência educativa inscrita nas Leis Naturais — particularmente na Lei de Reprodução, conforme revelada pelos Espíritos Superiores em O Livro dos Espíritos (questões 686 a 692).

Em uma era de grandes avanços científicos na medicina reprodutiva, o Espiritismo oferece uma visão ampliada, integrando corpo, mente e espírito na compreensão desse fenômeno. A infertilidade deixa de ser apenas uma limitação biológica e se revela como um campo de aprendizado moral e espiritual, em consonância com a lei do progresso e da reencarnação.

1. A Lei de Reprodução e o equilíbrio da vida

Segundo Allan Kardec, a Lei de Reprodução é uma das engrenagens da harmonia universal. Através dela, a vida corporal se perpetua e os Espíritos encontram meios de reencarnar, prosseguindo em seu aperfeiçoamento.

Na questão 686 de O Livro dos Espíritos, os Instrutores afirmam que “sem reprodução, o mundo corporal pereceria”. A fecundidade, portanto, não é um acaso biológico, mas parte de um plano divino que assegura a continuidade da vida e a renovação moral da humanidade.

Quando a capacidade de gerar se interrompe ou se ausenta, isso não significa injustiça ou punição, mas manifestação das Leis de Causa e Efeito, que ajustam cada ser conforme suas necessidades evolutivas.

2. A infertilidade como prova ou expiação

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2024), cerca de 15% dos casais em todo o mundo enfrentam dificuldades para conceber. As causas físicas — disfunções hormonais, alterações genéticas, endometriose, fatores imunológicos ou emocionais — são conhecidas e tratadas por meio de técnicas como a fertilização in vitro (FIV), inseminação intrauterina (IIU), microinjeção intracitoplasmática (ICSI) e doação de gametas.

Contudo, a Doutrina Espírita convida a olhar além da matéria. A infertilidade pode representar:

  • Prova escolhida, antes da reencarnação, para fortalecer laços conjugais, desenvolver paciência ou exercitar o amor desinteressado;
  • Expiação necessária, em função de abusos anteriores das energias criadoras, como o uso irresponsável da sexualidade, o aborto deliberado ou a negligência dos deveres familiares.

Em ambos os casos, a infertilidade atua como instrumento de educação da alma, que aprende a transformar a energia criadora em amor e serviço. Emmanuel sintetiza esse conceito ao afirmar:

“A esterilidade não existe para o Espírito, que pode ser fecundo em obras de beleza e redenção.” (Emmanuel, psicografia de F. C. Xavier)

A verdadeira fecundidade, assim, é espiritual — manifestando-se em obras, virtudes e exemplos de amor.

3. A ciência e a fé: caminhos convergentes

Kardec ensina em A Gênese (cap. XI, item 14) que “o Espiritismo e a Ciência se completam mutuamente”. Os avanços médicos nas técnicas de reprodução assistida são expressões da inteligência humana, atributo do Espírito em progresso.

A ciência, ao aliviar o sofrimento e proporcionar esperança a muitos casais, cumpre função divina, desde que orientada pela ética e pela responsabilidade moral.

A lei natural, no entanto, também impõe limites — recordando que o uso da vida deve respeitar seus fins espirituais, sem transformá-la em objeto de manipulação ou lucro. A fecundidade não é apenas biológica: é também moral e afetiva.

4. Adoção e paternidade espiritual

A Doutrina Espírita valoriza a adoção como um dos mais sublimes gestos de amor universal. Kardec ensina que os laços espirituais são mais fortes que os laços de sangue, e que muitos reencontros redentores se dão justamente por meio da filiação adotiva.

A impossibilidade biológica, assim, pode abrir caminho à paternidade moral, acolhendo Espíritos que necessitam de amparo e renovação. Nessa perspectiva, a adoção é também um ato reparador, que transforma a dor da esterilidade em instrumento de redenção e progresso mútuo.

5. A energia criadora e o amor responsável

A energia sexual é força divina, originária do amor que sustenta o universo. Emmanuel adverte:

“O amor, vindo de Deus, é livre; mas, no terreno do sexo, ele é responsável.” (Dos Hippies aos Problemas do Mundo, lição 27)

A sexualidade equilibrada é expressão da harmonia interior. Quando mal direcionada, gera desequilíbrios físicos e espirituais; quando sublimada, converte-se em poder criador do bem.

 A infertilidade, vivida com fé e serenidade, pode ser o caminho de purificação dessa força, orientando-a para obras de generosidade e elevação.

Conclusão

A infertilidade, à luz do Espiritismo, é lição de amor e sabedoria divina.

Cada Espírito, ao vivenciar essa experiência, recebe uma oportunidade singular de crescimento, seja pelo aprendizado da renúncia, pela paternidade espiritual, pela adoção ou pela fecundidade moral das boas ações.

Deus, em sua justiça perfeita, não fecha portas sem abrir novas vias de evolução. A alma que ama, serve e confia jamais é estéril aos olhos do Criador.

Como ensina o Evangelho, o Pai Celeste transforma toda limitação em oportunidade de luz. A verdadeira fecundidade não está no ventre, mas no coração que gera amor.

Referências

  • ALLAN KARDEC. O Livro dos Espíritos. 1867. Questões 258, 262, 686–692, 718–723.
  • ALLAN KARDEC. A Gênese. Cap. XI, item 14.
  • EMMANUEL (Espírito). Dos Hippies aos Problemas do Mundo. Psicografia de F. C. Xavier.
  • EMMANUEL (Espírito). Mensagens diversas. Psicografia de F. C. Xavier.
  • ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Infertilidade: relatório mundial 2024.
  • VICTOR PASSOS. Infertilidade numa Visão Espiritual.
  • Revista Espírita (1858–1869), artigos sobre reencarnação e leis naturais.

 

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