Introdução
A busca
pela compreensão da origem do universo e da constituição íntima da matéria
acompanha a humanidade desde os primórdios do pensamento filosófico e
científico. Na contemporaneidade, a Teoria das Cordas representa uma das
mais ousadas tentativas da física teórica moderna de unificar as forças
fundamentais da natureza e reconciliar duas estruturas conceituais até então
inconciliáveis: a Relatividade Geral, que descreve o cosmos em grande
escala, e a Mecânica Quântica, que explica o comportamento do
infinitamente pequeno.
Essa
teoria propõe que, no âmago da realidade física, não existem partículas
pontuais, mas cordas vibrantes unidimensionais, minúsculos filamentos de
energia cujas oscilações produzem as diversas partículas, forças e formas de
matéria conhecidas.
Sob a
ótica espírita, tal hipótese dialoga de modo notável com os fundamentos da Doutrina
Espírita codificada por Allan Kardec, que, desde o século XIX, já afirmava
a unidade substancial da matéria e a ação inteligente do Espírito
sobre os elementos primitivos. A Teoria das Cordas, ao buscar a unificação das
leis da física, encontra ressonância no princípio espiritual da unidade
universal, descrito em O Livro dos Espíritos e na Revista
Espírita.
1. A Matéria como Expressão de uma Substância Única
Segundo a
Teoria das Cordas, toda a estrutura do universo — dos átomos às galáxias — se
origina de um mesmo componente fundamental: cordas vibrantes de energia.
Invisíveis até mesmo aos mais avançados instrumentos, essas cordas representariam
o nível mais profundo e indivisível da realidade.
Em O
Livro dos Espíritos, os Espíritos Superiores ensinam, na questão 30:
“A matéria é formada de um só
elemento primitivo; os corpos que considerais simples não são verdadeiros
elementos, são transformações da matéria primitiva.”
Essa
afirmação, feita em 1857, antecipa, em linguagem filosófico-espiritual, a ideia
hoje explorada pela física teórica: toda a matéria visível é uma manifestação
transitória de uma essência unificada e imaterial.
Para o
Espiritismo, essa essência é o fluido cósmico universal, a matéria
elementar primitiva, que, sob a ação do pensamento divino e dos Espíritos, se
transforma nas múltiplas expressões da natureza. A Teoria das Cordas, ao propor
que todas as partículas derivam de um substrato vibracional comum, oferece uma
analogia científica moderna desse mesmo princípio espiritual.
2. Vibração, Energia e Harmonia Universal
As cordas
vibram em diferentes frequências, e cada modo de vibração gera uma partícula
com propriedades específicas. Essa imagem de um universo em ressonância conduz
à visão de uma sinfonia cósmica, na qual cada vibração participa de uma
harmonia universal.
Do ponto
de vista espírita, A Gênese (cap. VI) explica que o fluido cósmico
universal é o “elemento primitivo de
todos os corpos da natureza” e que suas modificações produzem todas as
formas materiais e energéticas. Assim como as cordas da física oscilam em
padrões distintos, o fluido cósmico vibra sob a direção das inteligências
espirituais, originando mundos, seres e fenômenos.
O
Espírito André Luiz, em Evolução em Dois Mundos (1958), descreve as “concentrações fluídico-magnéticas”
conduzidas por inteligências superiores, que modelam a matéria elementar e
formam as bases da vida. Ambas as visões — científica e espiritual — concordam
quanto ao papel essencial da vibração e da energia como fundamentos da
criação.
3. A Energia como Realidade Primária
Com a
equação E = mc², Einstein demonstrou que massa e energia são
equivalentes. A Teoria das Cordas amplia esse princípio ao afirmar que a energia
vibrante das cordas origina as propriedades das partículas — como massa,
carga e força — conforme o modo como elas oscilam.
Do ponto
de vista espiritual, Pietro Ubaldi, em A Grande Síntese, afirma que a
decomposição da matéria revela apenas “vórtices
de energia em movimento”, e que a suposta solidez do mundo físico é uma ilusão
sensorial.
Ele
observa:
“Sem a velocidade de rotação dos
elétrons, toda a imensa grandeza do universo físico se reduziria, em um átimo,
ao que verdadeiramente é: um pouco de névoa de poeira impalpável.”
Essas
concepções convergem para a mesma realidade: a energia é a base da matéria,
e toda estrutura física é uma manifestação temporária da vibração ordenada de
forças invisíveis.
4. Espírito e Matéria: A Causa Inteligente da
Vibração
Enquanto
a Teoria das Cordas busca a unificação das leis físicas sob um princípio
matemático, o Espiritismo identifica a causa primeira dessa unidade na Inteligência
Suprema — Deus.
Emmanuel,
em O Consolador (questão 45), lembra que as leis da física se transformam
conforme o progresso humano, e que “a
ciência, afirmando-se atéia, caminha para o conhecimento de Deus”.
Do mesmo
modo, André Luiz descreve, em suas obras, que as forças cósmicas são espiritualmente
dirigidas, e que a ação organizadora do Espírito sobre a matéria é contínua
em todos os planos do universo.
Assim,
enquanto a física descreve como a energia se manifesta, o Espiritismo
explica por que e sob que direção inteligente ela o faz. O
Espírito é o princípio ordenador da matéria, e a vibração universal observada
pela ciência é a expressão da vontade divina em ação.
5. Convergência de Saberes e o Futuro da Ciência
A Teoria
das Cordas ainda é uma hipótese teórica, não confirmada experimentalmente, mas
já representa um avanço no esforço de compreender a unidade fundamental da
natureza.
O
Espiritismo, desde o século XIX, antecipou esse princípio, ensinando que todas
as leis do universo — físicas, morais e espirituais — derivam de uma única
fonte divina. Em A Gênese (cap. VII), Kardec afirma:
“Deus é a inteligência suprema,
causa primária de todas as coisas.”
Quando a
ciência reconhecer que toda vibração e toda energia são expressões do pensamento
criador, ciência e espiritualidade se encontrarão no mesmo horizonte de
entendimento, como duas faces de uma mesma busca pela verdade.
Conclusão
A Teoria
das Cordas, ao propor que tudo o que existe é vibração de uma substância única,
aproxima-se das concepções espíritas sobre a unidade da matéria e a ação
inteligente que a organiza.
Enquanto
a física procura o “campo unificado” que descreva as leis do universo, o
Espiritismo identifica esse campo no fluido cósmico universal, veículo
do pensamento divino e das ações do Espírito.
O que a
ciência chama de cordas, o Espiritismo denomina vibrações do fluido
universal; o que a física entende como energia, a filosofia espírita
reconhece como vida em expansão.
Ambas
convergem para uma mesma verdade essencial: o universo é uno, vibrante e consciente
— a sinfonia eterna do Espírito em movimento.
Referências
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
1857.
- KARDEC, Allan. A Gênese. 1868.
- KARDEC, Allan. Revista Espírita
(1858–1869).
- XAVIER, Francisco Cândido
(pelo Espírito Emmanuel). O Consolador.
- XAVIER, Francisco Cândido
(pelo Espírito André Luiz). Evolução em Dois Mundos.
- UBALDI, Pietro. A Grande Síntese.
- GREENE, Brian. O Universo Elegante.
Companhia das Letras, 2000.
- DAVIES, Paul. A Mente de Deus.
Companhia das Letras, 1992.
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