sábado, 4 de outubro de 2025

CREMAÇÃO E ESPIRITISMO: REFLEXÕES DOUTRINÁRIAS E CONTEMPORÂNEAS
- A Era do Espírito -

Introdução

A morte sempre despertou no ser humano preocupações e rituais relacionados ao destino da alma. No decorrer dos séculos, diferentes culturas buscaram formas de lidar com o corpo após o falecimento, variando entre a inumação (sepultamento) e a cremação. Atualmente, a prática da cremação tem crescido no Brasil e no mundo, seja por motivos sanitários, ambientais, econômicos ou culturais. Surge, então, a questão: como o Espiritismo compreende esse processo e quais cuidados recomenda?

Inumação e cremação: história e significados

A inumação, ou sepultamento, tornou-se predominante no Ocidente, especialmente sob a influência do Cristianismo e de sua doutrina da ressurreição dos corpos. Já a cremação, conhecida desde a Antiguidade e praticada em diversas civilizações, como Índia, Japão, Grécia e povos ibéricos, era associada ao caráter purificador do fogo. Entre os antigos, acreditava-se que ao queimar o corpo, a alma se libertaria dos vícios e seguiria mais leve para a vida espiritual.

No entanto, com a expansão do Cristianismo, o sepultamento passou a ser incentivado em nome da preservação da crença na ressurreição, o que contribuiu para o declínio da cremação no Ocidente por muitos séculos. Somente a partir do final do século XIX a prática voltou a se difundir, alcançando maior aceitação social e institucional.

A visão espírita sobre a transição da morte

A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, oferece uma compreensão racional e espiritual desse processo. Segundo O Livro dos Espíritos (questões 149 a 165), a morte é apenas a separação do corpo físico e do espírito, que conserva sua individualidade e segue em sua jornada evolutiva. Esse desligamento, contudo, não é imediato: os laços fluídicos entre corpo e perispírito se desfazem gradualmente, variando conforme o grau de apego material e moral do desencarnado.

É nesse ponto que surge a questão da cremação. Embora o corpo não transmita sensações físicas após a morte, a ligação perispiritual pode levar o espírito a sentir reflexos sutis do que acontece ao organismo recém-desencarnado. Assim, Espíritos superiores, consultados por Kardec e registrados em obras complementares, recomendam que se respeite um intervalo de aproximadamente 72 horas entre o óbito e a cremação, a fim de favorecer o desligamento completo e evitar possíveis impressões dolorosas.

Aspectos práticos e contemporâneos

Nos últimos anos, a cremação tem crescido consideravelmente, especialmente em países de grande densidade populacional. Entre os motivos estão:

  • Questões ambientais: cemitérios podem gerar impactos como a contaminação do solo e do lençol freático.
  • Questões econômicas: a cremação tende a reduzir custos de manutenção em relação às sepulturas tradicionais.
  • Espaço urbano: a escassez de áreas destinadas a cemitérios, sobretudo em grandes cidades.
  • Mudança cultural: maior aceitação social e religiosa diante da consciência da imortalidade da alma.

No Brasil, a primeira instalação de crematório foi inaugurada em 1974, em São Paulo. Desde então, novas unidades têm sido abertas, acompanhando uma tendência global de expansão.

Cremação, livre-arbítrio e espiritualidade

Do ponto de vista espírita, tanto a inumação quanto a cremação são formas legítimas de devolver o corpo à natureza. O que realmente importa é a preparação moral e espiritual do ser humano para o desencarne. Espíritos apegados ao corpo podem sofrer tanto com a decomposição quanto com a cremação. Já aqueles que cultivam o desapego e a compreensão da vida imortal vivenciam a transição com serenidade.

Portanto, a escolha entre cremação ou sepultamento deve ser respeitada como expressão do livre-arbítrio, desde que acompanhada do entendimento espiritual de que o corpo é apenas um instrumento temporário, enquanto o espírito sobrevive e prossegue em sua trajetória de aprendizado e progresso.

Conclusão

O Espiritismo não é contra a cremação, mas recomenda prudência, sobretudo quanto ao tempo de espera após a morte física. O essencial é que cada indivíduo compreenda que a vida não se encerra com a morte do corpo e que o espírito, ao retornar à pátria espiritual, colhe os frutos de suas ações e de seu preparo íntimo. A decisão sobre o destino do corpo deve estar associada à consciência da imortalidade e à valorização da vida espiritual, que é a verdadeira herança do ser humano.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
  • KARDEC, Allan. A Gênese. FEB.
  • KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. FEB.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
  • XAVIER, Francisco Cândido (pelo Espírito Emmanuel). A Caminho da Luz. FEB.
  • ROMANO, Maria Aparecida. "A visão Espírita da cremação". Revista Cristã de Espiritismo, nº 06, Ano 01.
  • Dados atuais sobre cremação no Brasil: IBGE e associações funerárias (2024).

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