sexta-feira, 10 de outubro de 2025

DA PEDRA LASCADA AO ESPÍRITO IMORTAL
A EVOLUÇÃO DA INTELIGÊNCIA À LUZ DA DOUTRINA ESPÍRITA
- A Era do Espírito -

Introdução

A história da humanidade é também a história do pensamento. Desde as primeiras ferramentas de pedra até as complexas tecnologias do século XXI, a inteligência humana percorreu uma trajetória de ascensão que reflete, em escala coletiva, o desenvolvimento individual de cada Espírito. A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, oferece uma chave de leitura singular para compreender essa marcha evolutiva: o progresso intelectual e moral como leis divinas que impulsionam a criatura em direção à perfeição relativa.

Este artigo propõe uma leitura integrada da evolução humana — biológica, psicológica e espiritual — relacionando o pensamento científico e filosófico contemporâneo com os princípios espíritas sobre a criação e o desenvolvimento da inteligência. Ao fazê-lo, demonstra-se que as etapas do raciocínio humano, estudadas por Jean Piaget e confirmadas pela ciência moderna, correspondem a fases evolutivas que o Espírito recapitula a cada nova existência, avançando sempre na longa jornada do aprendizado universal.

1. As fases da inteligência humana e o progresso do Espírito

A antropologia descreve o desenvolvimento da humanidade em estágios — da pré-história à era científica — marcados por sucessivas revoluções do conhecimento. A inteligência primitiva, instintiva e simbólica, deu lugar à razão filosófica e, posteriormente, à investigação científica. Cada salto cognitivo ampliou a capacidade humana de interpretar a realidade, substituindo o medo e o mito pela observação e pela reflexão.

Entretanto, conforme ensina O Livro dos Espíritos (questões 776–781), “o progresso moral segue o progresso intelectual, mas nem sempre imediatamente”. Isso significa que o avanço da inteligência não implica, por si só, o desenvolvimento moral. O homem pode conhecer as leis da natureza sem ainda compreender o amor que as rege. A verdadeira sabedoria consiste em harmonizar ciência e consciência, conhecimento e responsabilidade — tarefa que o Espiritismo recoloca no centro da evolução.

2. Da ciência ao Espírito: a unidade do conhecimento

Do heliocentrismo de Copérnico ao evolucionismo de Darwin, a humanidade ampliou seus horizontes, deslocando o homem do centro do Universo e inserindo-o na ordem natural das coisas. A física moderna, ao desvendar o átomo e a relatividade, revelou que a matéria é energia condensada e que o cosmos é infinitamente mais vasto do que supúnhamos.

Nesse contexto de revoluções científicas, o Espiritismo surge no século XIX como nova etapa do pensamento humano, reconciliando ciência, filosofia e moral cristã. Kardec define o Espiritismo como “uma ciência que trata da natureza, da origem e do destino dos Espíritos, e de suas relações com o mundo corporal”. Eleva, assim, a investigação espiritual ao mesmo patamar de rigor da pesquisa científica, demonstrando que o espírito é princípio inteligente do Universo — elemento coeterno à matéria e ao fluido cósmico universal.

A Doutrina Espírita, portanto, não se opõe à ciência, mas a completa, explicando o porquê das leis naturais e revelando a finalidade moral da evolução. O progresso material sem evolução espiritual gera desequilíbrios; o avanço tecnológico sem ética conduz à barbárie sofisticada.

3. A evolução e a recapitulação no ser humano

Jean Piaget, em sua teoria da psicologia genética, descreveu estágios de desenvolvimento da inteligência: sensório-motor, pré-operacional, operacional concreto e operacional formal. Sob o prisma espírita, esses estágios correspondem a etapas evolutivas da consciência espiritual, recapitulações das aquisições mentais conquistadas ao longo de muitas existências.

Durante a gestação e a infância, o Espírito refaz simbolicamente o caminho percorrido pela humanidade — do instinto à razão, da intuição à reflexão. Essa recapitulação comprova que “o Espírito progride incessantemente”, como afirmam os Espíritos superiores. Cada vida é um novo capítulo da experiência evolutiva, e cada corpo físico, um instrumento de aprendizado temporário.

A biologia moderna, ao reconhecer a continuidade da vida em processos evolutivos e adaptativos, confirma a lei da progressão universal. Contudo, o Espiritismo acrescenta um elemento essencial: a individualidade do ser e sua imortalidade. Assim, a evolução não é apenas biológica, mas espiritual, moral e intelectual.

4. Educação, hereditariedade e responsabilidade moral

O Espírito reencarna trazendo consigo as conquistas do passado — aptidões, tendências e desafios — e encontra, na família e na sociedade, os meios para continuar sua jornada. A hereditariedade fornece o instrumento biológico; a educação, o campo de aperfeiçoamento moral.

Por isso, a tarefa educativa é sagrada. Kardec, na Revista Espírita, repetidamente exorta à formação moral da juventude, pois sem o cultivo do sentimento e da razão equilibrada, o progresso se torna perigoso. André Luiz reforça essa visão em Ação e Reação e Evolução em Dois Mundos, mostrando que cada Espírito, ao reencarnar, reencontra as circunstâncias necessárias para reparar e avançar.

A liberdade não deve ser confundida com ausência de direção. Como lembra o Espírito Irmão X em Luz Acima, os pais não devem cercar os filhos de mimos inúteis, mas guiá-los no trabalho e no bem. Educar é ajudar o Espírito a se autogovernar, despertando a consciência para as leis divinas que regem a vida.

Conclusão

A evolução da inteligência humana, observada nas civilizações e nas fases do desenvolvimento individual, é a expressão visível da lei do progresso, uma das Leis Divinas que regem o Universo. A Doutrina Espírita mostra que o Espírito, criado simples e ignorante, caminha por milênios no aprendizado da sabedoria e do amor, co-criando com Deus à medida que desenvolve sua razão e sua moralidade.

Hoje, quando a ciência investiga o cosmos e a vida em níveis cada vez mais profundos, o Espiritismo recorda que o maior laboratório ainda é o da consciência. A verdadeira revolução do conhecimento será aquela em que a inteligência e o sentimento caminhem juntos — a ciência iluminada pela ética, e a fé esclarecida pela razão.

Referências

  • Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • Allan Kardec. A Gênese. 1868.
  • Allan Kardec. Revista Espírita (1858–1869).
  • André Luiz. Evolução em Dois Mundos. Psicografia de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. FEB.
  • André Luiz. Ação e Reação. Psicografia de Francisco Cândido Xavier. FEB.
  • Irmão X. Luz Acima. Psicografia de Francisco Cândido Xavier. FEB.
  • Jean Piaget. A Psicologia da Criança. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
  • Rino Curti. Jean Piaget e o Espiritismo: Inteligência e Educação. Fé Raciocinada, nº 2, Coligação Espírita Progressista, SP.

 

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