quarta-feira, 1 de outubro de 2025

ENTRE CÉU E TERRA: A ÁRVORE SIMBÓLICA
DA EVOLUÇÃO ESPIRITUAL
- A Era do Espírito -

Introdução

Desde a Antiguidade, os povos buscaram representar o elo entre o Céu e a Terra por meio de símbolos, mitos e tradições. Entre eles, a cultura chinesa nos legou a lenda da árvore Jian Mu, que unia os dois planos da existência. Essa imagem, quando refletida à luz da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, convida-nos a pensar na ponte constante entre a vida material e a vida espiritual, não como mundos separados, mas como dimensões complementares do processo evolutivo.

Em nossa experiência cotidiana, muitas vezes pensamos no Céu como um destino distante e nos esquecemos de que o caminho para alcançá-lo é pavimentado pelos atos e escolhas de nossa vida terrena. A existência corporal, com seus desafios, conquistas e aprendizados, é o verdadeiro tronco da árvore simbólica que sustenta nossa ascensão espiritual.

O equilíbrio entre os dois mundos

O Espiritismo ensina que o Espírito encarnado está sempre em interação com os dois planos da vida: o material e o espiritual. Como afirma Allan Kardec em O Livro dos Espíritos (questão 132), a encarnação é necessária para o progresso, pois é no contato com as dificuldades do mundo físico que o Espírito exercita suas virtudes e corrige suas imperfeições.

No entanto, é comum observarmos pessoas que acreditam já viver exclusivamente “no outro lado”, desconsiderando a importância da vida material. Essa postura, embora pareça espiritualizada, pode esconder desequilíbrios. Não basta abster-se de vícios físicos se persistirem sentimentos de egoísmo, orgulho ou intolerância — males que comprometem tanto quanto substâncias nocivas ao corpo. O verdadeiro progresso espiritual exige harmonia entre o cuidado com o corpo, que é instrumento de evolução, e a transformação íntima, que molda nossa essência imortal.

A simbologia da árvore Jian Mu e a evolução espiritual

A lenda chinesa descreve a Jian Mu como uma árvore sem frutos ou sombra, mas de cujo tronco desciam cipós que permitiam a ligação com o Céu. À luz da Doutrina Espírita, podemos interpretar esse mito como a própria vida, que nos oferece as “escadas” do trabalho, da fraternidade, do aprendizado e da consciência tranquila para ascender moralmente.

Entretanto, como adverte Kardec na Revista Espírita (novembro de 1863), não há atalhos na Lei de Progresso: “O Espírito não pode alcançar de um salto o objetivo; deve vencer cada degrau da escada”. Assim, as tentativas humanas de encontrar “atalhos espirituais”, seja por misticismo, ilusão ou esperteza, não substituem o esforço real de transformação interior.

O caminho seguro: fraternidade e consciência

Na vida prática, nossa “árvore de ligação” cresce cada vez que escolhemos a solidariedade em lugar do egoísmo, a verdade em lugar da mentira e o perdão em lugar da vingança. Essa é a verdadeira escada que nos liga ao Céu. A consciência em paz é, como ensina O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XVII, item 4), a base da verdadeira felicidade, pois só o Espírito que cumpre seus deveres materiais e morais pode experimentar a harmonia interior.

Assim, viver “entre dois mundos” não é ignorar um em benefício do outro, mas compreender que a vida espiritual se constrói, passo a passo, nas escolhas e responsabilidades do presente.

Conclusão

A lenda da Jian Mu nos recorda que não existem milagres que substituam o esforço pessoal. O Espiritismo nos ensina que o caminho da evolução se faz pelo equilíbrio entre corpo e Espírito, entre o terreno e o celeste. Cada gesto de fraternidade, cada conquista íntima e cada superação de nossas imperfeições é um cipó que nos aproxima do alto.

Mais do que ansiar pelo Céu distante, é preciso transformar a Terra em degrau legítimo de ascensão. A paz de consciência e a fraternidade espiritual são as verdadeiras raízes que sustentam a árvore do progresso.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. FEB.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita. 1858-1869.
  • PEREIRA, Marcelo Henrique. A fábula de Jian Mu. Artigo.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O DESAPARECIMENTO DO CORPO DE JESUS REFLEXÕES À LUZ DO ESPIRITISMO - A Era do Espírito - Introdução O desaparecimento do corpo de Jesus, a...