Introdução
Desde
a Antiguidade, os povos buscaram representar o elo entre o Céu e a Terra por
meio de símbolos, mitos e tradições. Entre eles, a cultura chinesa nos legou a
lenda da árvore Jian Mu, que unia os dois planos da existência. Essa imagem,
quando refletida à luz da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec,
convida-nos a pensar na ponte constante entre a vida material e a vida
espiritual, não como mundos separados, mas como dimensões complementares do
processo evolutivo.
Em
nossa experiência cotidiana, muitas vezes pensamos no Céu como um destino
distante e nos esquecemos de que o caminho para alcançá-lo é pavimentado pelos
atos e escolhas de nossa vida terrena. A existência corporal, com seus
desafios, conquistas e aprendizados, é o verdadeiro tronco da árvore simbólica
que sustenta nossa ascensão espiritual.
O equilíbrio entre os dois mundos
O
Espiritismo ensina que o Espírito encarnado está sempre em interação com os
dois planos da vida: o material e o espiritual. Como afirma Allan Kardec em O
Livro dos Espíritos (questão 132), a encarnação é necessária para o
progresso, pois é no contato com as dificuldades do mundo físico que o Espírito
exercita suas virtudes e corrige suas imperfeições.
No
entanto, é comum observarmos pessoas que acreditam já viver exclusivamente “no
outro lado”, desconsiderando a importância da vida material. Essa postura,
embora pareça espiritualizada, pode esconder desequilíbrios. Não basta
abster-se de vícios físicos se persistirem sentimentos de egoísmo, orgulho ou
intolerância — males que comprometem tanto quanto substâncias nocivas ao corpo.
O verdadeiro progresso espiritual exige harmonia entre o cuidado com o corpo,
que é instrumento de evolução, e a transformação íntima, que molda nossa
essência imortal.
A simbologia da árvore Jian Mu e a evolução
espiritual
A
lenda chinesa descreve a Jian Mu como uma árvore sem frutos ou sombra, mas de
cujo tronco desciam cipós que permitiam a ligação com o Céu. À luz da Doutrina
Espírita, podemos interpretar esse mito como a própria vida, que nos oferece as
“escadas” do trabalho, da fraternidade, do aprendizado e da consciência
tranquila para ascender moralmente.
Entretanto,
como adverte Kardec na Revista Espírita (novembro de 1863), não há
atalhos na Lei de Progresso: “O Espírito
não pode alcançar de um salto o objetivo; deve vencer cada degrau da escada”.
Assim, as tentativas humanas de encontrar “atalhos espirituais”, seja por
misticismo, ilusão ou esperteza, não substituem o esforço real de transformação
interior.
O caminho seguro: fraternidade e consciência
Na
vida prática, nossa “árvore de ligação” cresce cada vez que escolhemos a
solidariedade em lugar do egoísmo, a verdade em lugar da mentira e o perdão em
lugar da vingança. Essa é a verdadeira escada que nos liga ao Céu. A consciência
em paz é, como ensina O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XVII, item
4), a base da verdadeira felicidade, pois só o Espírito que cumpre seus deveres
materiais e morais pode experimentar a harmonia interior.
Assim,
viver “entre dois mundos” não é ignorar um em benefício do outro, mas
compreender que a vida espiritual se constrói, passo a passo, nas escolhas e
responsabilidades do presente.
Conclusão
A
lenda da Jian Mu nos recorda que não existem milagres que substituam o esforço
pessoal. O Espiritismo nos ensina que o caminho da evolução se faz pelo
equilíbrio entre corpo e Espírito, entre o terreno e o celeste. Cada gesto de
fraternidade, cada conquista íntima e cada superação de nossas imperfeições é
um cipó que nos aproxima do alto.
Mais
do que ansiar pelo Céu distante, é preciso transformar a Terra em degrau
legítimo de ascensão. A paz de consciência e a fraternidade espiritual são as
verdadeiras raízes que sustentam a árvore do progresso.
Referências
- KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. FEB.
- KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo. FEB.
- KARDEC, Allan. Revista
Espírita. 1858-1869.
- PEREIRA, Marcelo
Henrique. A fábula de Jian Mu. Artigo.
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