quarta-feira, 1 de outubro de 2025

O ESPIRITISMO E OS CRITÉRIOS DE AUTENTICIDADE
LIÇÕES DE KARDEC PARA HOJE
- A Era do Espírito -

Introdução

Desde o lançamento de O Livro dos Espíritos em 1857, Allan Kardec estabeleceu um método claro e rigoroso para a análise dos fenômenos espirituais e das ideias que emergiam no seio do Espiritismo nascente. Seu objetivo não era apenas apresentar fatos extraordinários, mas, sobretudo, oferecer critérios de discernimento que protegessem a Doutrina Espírita contra distorções, charlatanismo e falsas interpretações.

Na obra Viagem Espírita em 1862, bem como em artigos da Revista Espírita, Kardec advertiu os adeptos sobre os riscos das ilusões humanas e espirituais, e sobre a necessidade de manter o Espiritismo em bases de seriedade, moralidade e racionalidade. Ainda hoje, em pleno século XXI, suas recomendações permanecem atuais e necessárias, especialmente diante da proliferação de informações rápidas e nem sempre confiáveis, veiculadas por meios digitais e redes sociais.

O Espiritismo não é segredo, nem espetáculo

Um dos pontos fundamentais ressaltados por Kardec é que o Espiritismo não constitui sociedade secreta, nem possui sinais ocultos ou rituais reservados a iniciados. Trata-se de uma doutrina aberta, que nada tem a esconder e cujos princípios podem ser estudados por todos, independentemente de crença, posição social ou cultura.

Do mesmo modo, os fenômenos espíritas não devem ser explorados como forma de curiosidade, espetáculo ou comércio. Essa advertência se encontra em diversas passagens de O Livro dos Médiuns, no qual Kardec alerta que a exploração dos dons mediúnicos sempre conduz a abusos e ao descrédito.

O critério da razão e da lógica

Para distinguir a verdade do erro, o Espírito Erasto estabeleceu uma regra fundamental: “Mais vale rejeitar dez verdades do que admitir uma única mentira.” (O Livro dos Médiuns, cap. XX, item 230).

Esse princípio resguarda a Doutrina contra afirmações precipitadas, comunicações levianas e interpretações fantasiosas. Ele recomenda que todo ensinamento espiritual deve ser passado pelo crivo da razão, da lógica e da coerência moral.

Assim, o Espiritismo não se apoia em revelações individuais isoladas, mas no controle universal do ensino dos Espíritos, método que Kardec instituiu e que consiste em validar apenas as comunicações que se confirmam de maneira concordante, vinda de diversos médiuns e lugares, sempre em harmonia com os princípios da moral e da razão.

O risco das falsas ideias e dos falsos profetas

Outro alerta de Kardec, reforçado por Espíritos como Erasto e São Luís, refere-se ao perigo representado pelos pseudo-sábios — tanto encarnados quanto desencarnados — que difundem mensagens falsas, travestidas de linguagem elevada, mas que conduzem ao erro e à confusão.

O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XXI) também reforça a necessidade de estar atento aos falsos profetas, sejam eles homens ambiciosos, exploradores da fé, ou Espíritos enganadores que se apresentam com nomes veneráveis para dar peso às suas ideias.

Diante disso, Kardec recomenda vigilância constante e a prática da análise severa e metódica, a fim de preservar a doutrina de adulterações e interpretações místicas que a afastem de sua essência racional e moralizadora.

O núcleo moral do Espiritismo

Para além dos fenômenos, Kardec insiste que o ponto central do Espiritismo é o seu lado moral. É nesse campo que a Doutrina exerce sua maior força de transformação, inspirando a transformação íntima, a caridade, a fraternidade e o progresso espiritual.

Ainda que as lutas de ideias, os antagonismos e as oposições façam parte do processo humano, a finalidade do Espiritismo permanece clara: conduzir o homem ao bem e ao aperfeiçoamento de si mesmo.

Considerações finais

As advertências de Kardec, feitas no século XIX, têm pleno vigor no mundo contemporâneo. Em um tempo de circulação acelerada de informações e de múltiplas interpretações religiosas e filosóficas, manter a fidelidade ao método espírita — baseado na razão, no exame rigoroso dos fatos e na valorização da moral — é a melhor forma de preservar o legado de Allan Kardec e garantir que o Espiritismo continue sendo luz e não confusão.

Mais do que nunca, vale lembrar as palavras de Kardec: “Não aceiteis nada cegamente. Que cada fato seja submetido a um exame rigoroso, minucioso e aprofundado.” (O Livro dos Médiuns).

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB.
  • KARDEC, Allan. Viagem Espírita em 1862. FEB.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita (1858-1869).
  • NOVAES, Albino A. C. de. Os Critérios do Espírito Erasto. Artigo.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O DESAPARECIMENTO DO CORPO DE JESUS REFLEXÕES À LUZ DO ESPIRITISMO - A Era do Espírito - Introdução O desaparecimento do corpo de Jesus, a...