sábado, 18 de outubro de 2025

O FLUIDO UNIVERSAL E A AÇÃO
DOS ESPÍRITOS SOBRE A MATÉRIA
UMA INTERPRETAÇÃO ESPÍRITA DOS FENÔMENOS FÍSICOS
- A Era do Espírito -

Introdução

Desde as primeiras mesas girantes de Hydesville até as experiências sistematizadas por Allan Kardec, a humanidade tem se debruçado sobre o mistério da ação inteligente e invisível que se manifesta através da matéria. O Espiritismo, ao propor uma explicação racional e científica para tais fenômenos, revela que os Espíritos — seres inteligentes da Criação — atuam sobre o mundo físico por meio de um elemento intermediário: o fluido universal, base de toda a matéria e princípio dos fenômenos vitais.

Neste artigo, busca-se compreender, à luz da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, de que maneira o Espírito age sobre a matéria, especialmente nos fenômenos de efeitos físicos, como os movimentos e as suspensões de objetos. A análise baseia-se em O Livro dos Médiuns, nas comunicações do Espírito São Luís e nas observações registradas na Revista Espírita (1858–1869), em diálogo com os conhecimentos científicos contemporâneos sobre energia e campo vibracional.

1. O fluido universal: princípio elementar da matéria

Conforme explica Kardec em O Livro dos Médiuns (Cap. IV), o fluido universal não é uma emanação divina, mas uma criação de Deus, o princípio elementar de todas as coisas. É a substância primitiva de onde derivam a matéria e os fluidos conhecidos pela ciência, como o elétrico e o magnético.

Nas palavras do Espírito São Luís, trata-se de um elemento que, em sua forma mais pura, só é encontrado junto aos Espíritos superiores. Em nosso mundo, encontra-se sempre modificado, servindo à constituição da matéria densa e ao envoltório semimaterial dos Espíritos — o perispírito.

Assim, o fluido universal é o “elo dinâmico” entre o mundo espiritual e o material. Ele anima a matéria, mas não é a fonte da inteligência, pois esta pertence ao Espírito. É por meio dele que o Espírito atua sobre os corpos, produzindo desde os mais simples movimentos de objetos até fenômenos luminosos e sonoros.

2. O papel do perispírito e do médium

O perispírito, formado de fluido universal em determinado grau de condensação, é o instrumento direto do Espírito. Ele funciona como um corpo fluídico que possibilita a ação inteligente sobre a matéria. Quando o Espírito deseja mover um objeto, ele combina uma porção de fluido universal com o fluido vital (ou animalizado) do médium, criando uma vida momentânea e artificial no corpo inerte.

Essa combinação explica por que as mesas “girantes” pareciam agir por vontade própria: o Espírito imprimia sua vontade sobre um objeto temporariamente animado por um fluido vitalizado. O médium, nesse processo, serve como ponte energética, cedendo parte de seu fluido orgânico — o mesmo princípio do magnetismo animal estudado por Mesmer e reinterpretado pela Doutrina Espírita.

Contudo, Kardec ressalta que nem todos os médiuns possuem a mesma potência fluídica, pois a eficácia dessa combinação depende da afinidade vibratória entre o Espírito e o médium. Há pessoas refratárias, outras que precisam de esforço da vontade e algumas nas quais a ação se dá naturalmente, mesmo sem consciência do fenômeno.

3. A ação inteligente sobre a matéria

Segundo a explicação dos Espíritos, quando um objeto se move ou se eleva, não é o Espírito quem o empurra com mãos invisíveis, mas sim a matéria animada que responde à vontade espiritual. Esse movimento não contraria as leis da natureza, mas se baseia em leis ainda desconhecidas pela ciência humana, como ressaltou Kardec ao responder aos críticos que alegavam violação da gravitação universal.

O Espírito, pela vontade, dirige o fluido universal combinado com o fluido vital do médium, impregnando o objeto de uma vitalidade artificial. Essa energia confere-lhe propriedades transitórias, como leveza, movimento ou resistência anormal. É por isso que certos objetos parecem pesar mais ou menos, ou resistir ao toque, conforme o tipo de influência fluídica aplicada.

Tais manifestações não derivam de força muscular ou mecânica, mas de força psíquico-fluídica, cuja base é a vontade. Esse conceito antecipa, em certa medida, os atuais estudos sobre psicocinesia e energia bioplasmática, que investigam a interação entre mente e matéria, embora ainda sem a profundidade moral e espiritual oferecida pela Doutrina Espírita.

4. Espíritos inferiores e superiores: diferenças de atuação

Nem todos os Espíritos são capazes de produzir efeitos físicos. Conforme ensina São Luís, esses fenômenos são geralmente produzidos por Espíritos inferiores, mais próximos da matéria e dotados de perispíritos densos, capazes de manipular com mais facilidade os fluidos pesados do ambiente terrestre.

Os Espíritos elevados, de natureza mais sutil, não se ocupam diretamente desses fenômenos, mas podem dirigi-los, valendo-se de entidades subalternas, como um arquiteto que comanda operários. Essa hierarquia fluídica demonstra que o poder de agir sobre a matéria não está relacionado ao grau moral, mas à densidade fluídica do perispírito.

Portanto, o estudo das manifestações físicas, longe de ser mero espetáculo, oferece ao observador atento uma profunda lição sobre a estrutura dos mundos espirituais, o grau de evolução dos Espíritos e a natureza das leis que regem as interações entre os planos.

5. Ciência, fé e a expansão das leis naturais

Kardec encerra sua análise afirmando que os fenômenos espíritas não violam as leis naturais — ao contrário, revelam novas leis. O erro está em limitar a natureza ao que já se conhece. Assim como outrora o peso do ar e a eletricidade eram ignorados, o fluido universal representa hoje uma fronteira ainda não desvelada pela ciência materialista.

A Doutrina Espírita, portanto, amplia o campo das ciências naturais ao incluir o elemento espiritual na equação dos fenômenos físicos. Ao mesmo tempo, conserva seu caráter racional e experimental, exigindo observação, comparação e crítica — o verdadeiro método espírita que Kardec consolidou em toda a Codificação.

Com o avanço das ciências da energia, da consciência e da física quântica, novos horizontes se abrem para a compreensão do universo fluídico descrito pelos Espíritos em meados do século XIX. A integração entre ciência e espiritualidade será, cada vez mais, o caminho para compreender o Espírito como agente inteligente das transformações materiais.

Conclusão

A teoria espírita sobre os fenômenos físicos demonstra que a ação dos Espíritos sobre a matéria se realiza por intermédio do fluido universal, dirigido pela vontade e combinado com o fluido vital dos médiuns. Esse processo revela uma profunda unidade entre o mundo material e o espiritual, regido por leis universais que se estendem além dos limites perceptíveis da ciência tradicional.

Assim, o Espiritismo não apenas explica as manifestações mediúnicas, mas também convida o ser humano a compreender-se como parte ativa dessa dinâmica cósmica, capaz de agir sobre os fluidos pela força do pensamento e pela elevação moral. O estudo desses fenômenos, longe da superstição, é uma porta para o conhecimento da vida, da alma e das leis divinas que regem o Universo.

Referências

  • Allan Kardec. O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, Cap. IV — “Teoria das Manifestações Físicas: Movimentos e Suspensões”.
  • Allan Kardec. O Livro dos Espíritos, questões 27, 94, 93, 129, 187, 257, 282.
  • Allan Kardec. A Gênese, Cap. XIV — “Os Fluidos”.
  • Allan Kardec. Revista Espírita, volumes de 1858 a 1869.
  • J. Herculano Pires. Introdução à Filosofia Espírita.
  • Gabriel Delanne. O Espiritismo perante a Ciência.
  • André Luiz. Mecanismos da Mediunidade.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A OBRA DE KARDEC E O ESPÍRITO DA DOUTRINA ENTRE A FIDELIDADE E O PROGRESSO - A Era do Espírito - Introdução Desde a publicação de O Livro ...