E contou-lhes outra parábola:
"O Reino dos céus é como um grão de mostarda que um homem plantou em seu
campo. Embora seja a menor entre todas as sementes, quando cresce, torna-se uma
das maiores plantas e atinge a altura de uma árvore, de modo que as aves do céu
vêm fazer os seus ninhos em seus ramos". - Mateus 13:31-32.
Introdução
A
parábola do grão de mostarda (Mateus 13:31-32; Marcos 4:30-32; Lucas 13:18-19)
é uma das mais belas expressões simbólicas de Jesus sobre o crescimento
espiritual. A pequenez da semente, que se transforma em uma árvore capaz de
abrigar as aves do céu, representa o desenvolvimento do Espírito humano em
direção à sua perfeição. Sob a luz da Doutrina Espírita, essa parábola reflete a
lei do progresso, a educação moral e o esforço contínuo do ser em direção a
Deus — finalidade suprema da vida.
O
crescimento espiritual é, pois, o resultado da perseverança e da constante
reavaliação de valores, num processo longo e paciente de autoeducação. Tal como
o grão que precisa de solo fértil e cuidados para germinar, o Espírito requer
esforço próprio, disciplina e fé racional para expandir-se em luz e sabedoria.
O Reino de Deus e o Crescimento Interior
Em O
Livro dos Espíritos, Allan Kardec ensina que o homem é um Espírito em
aprendizado, chamado a progredir incessantemente pela ação de sua vontade e
pelo uso consciente do livre-arbítrio. O Reino dos Céus, portanto, não é um
lugar físico, mas um estado da alma que reflete o grau de harmonia interior e
afinidade com as leis divinas.
O grão de
mostarda simboliza o princípio divino implantado em cada consciência — a
centelha espiritual que, cultivada pela educação e pela prática do bem,
torna-se árvore frondosa de virtudes. O campo é o coração humano; a semente é a
palavra divina; o crescimento é a obra da alma perseverante.
Como
afirmava Kardec na Revista Espírita (abril de 1866), “o progresso é a lei da natureza; todos os
seres da criação, animados e inanimados, são submetidos a ela.” Assim, o
homem cresce espiritualmente na medida em que transforma o conhecimento em
virtude e o sofrimento em aprendizado, convertendo as experiências em degraus
para a ascensão moral.
A Autoeducação como Caminho de Iluminação
A
parábola revela que o crescimento do Espírito é obra pessoal e intransferível. “O desenvolvimento do progresso nos
indivíduos obedece à educação de que o fazem, ou de que ele próprio se faz
objeto” — ensina Kardec em O Livro dos Espíritos (questões 776-785).
A
educação moral, no sentido espírita, é o cultivo da alma. É o esforço
consciente de disciplinar os pensamentos, depurar sentimentos e fortalecer a
vontade. Como a semente que se abre sob a pressão da terra, o Espírito cresce
em meio às dificuldades, desenvolvendo paciência, humildade e perseverança.
Esse
processo não se realiza de um dia para o outro. A iluminação é conquista de
muitas existências. O homem deve, como o velho mercador da parábola simbólica,
trabalhar incessantemente na tessitura de seu “tapete interior”, corrigindo os
defeitos e recomeçando sempre que necessário. Cada esforço sincero de superação
moral acrescenta novos fios de luz ao tecido da alma, até que, um dia, a obra
da perfeição se revele em toda a sua beleza espiritual.
Perseverança e Reavaliação de Valores
No
caminho evolutivo, o progresso espiritual exige continuidade e reavaliação.
Como observa Joanna de Ângelis (em Alerta, psicografia de Divaldo
Franco), o crescimento íntimo demanda “persistência em face das dificuldades”,
pois a transformação moral requer esforço constante e resistência interior.
A cada
obstáculo vencido, o Espírito reexamina suas motivações, ajusta sua rota e
aprende a distinguir o essencial do supérfluo. A reavaliação de valores é,
portanto, uma forma de poda espiritual que fortalece as raízes da fé e da
consciência moral.
O homem
deve aprender a esperar, como o lavrador que confia no tempo da colheita. A
precipitação é inimiga do crescimento interior. Assim, a parábola ensina que o
Reino de Deus não se instala de forma súbita, mas através de um amadurecimento
progressivo — o desabrochar da semente divina que habita em cada um de nós.
Conclusão: Crescer para Deus
Crescer
espiritualmente é crescer para Deus. O grão de mostarda, embora pequeno, contém
a potencialidade da árvore. Assim também o Espírito humano, mesmo limitado na
carne, traz em si o germe da perfeição divina.
A
Doutrina Espírita esclarece que esse crescimento é lei universal — ninguém está
condenado à estagnação. Cada reencarnação é um novo terreno onde o Espírito é
chamado a semear experiências, colher aprendizados e fortalecer suas raízes no
bem.
Quando a
semente do Evangelho floresce no coração, o homem torna-se abrigo para as “aves
do céu”, isto é, um foco de paz, bondade e inspiração para outros Espíritos.
Nesse ponto, o Reino de Deus já começa a manifestar-se na Terra, através das
consciências iluminadas que aprendem a servir, amar e esperar.
Como o
mercador do tapete perfeito, todos estamos tecendo, ponto a ponto, a obra da
nossa autoiluminação. E, embora inacabada aos nossos olhos, ela brilhará
plenamente quando compreendermos que a perfeição é a soma de todos os esforços
sinceros em direção ao bem.
Referências
- Allan Kardec. O Livro dos Espíritos,
A Gênese e Revista Espírita (1858–1869).
- Angel Aguarod. Parábola do Grão de
Mostarda, in Grandes e Pequenos Problemas.
- Huberto Rohden. O Quinto Evangelho.
- Divaldo P. Franco, pelo
Espírito Joanna de Ângelis. Alerta.
- Marcos Vinicius. O Saber Esperar.
- O Evangelho de Tomé. Tradução e estudos
comparativos.
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