quarta-feira, 1 de outubro de 2025

O VALOR DO TEMPO E A RESPONSABILIDADE ESPIRITUAL
- A Era do Espírito -

Introdução

Se cada ser humano recebesse diariamente um depósito de oitenta e seis mil e quatrocentas moedas, com a condição de gastar tudo em um único dia, sem possibilidade de acumulação ou transferência, provavelmente não desperdiçaríamos nenhum centavo. Esse exemplo simbólico nos conduz a uma reflexão maior: todos recebemos esse “capital”, mas em forma de segundos. São oitenta e seis mil e quatrocentos instantes diários, irrecuperáveis, que constituem a matéria-prima de nossa vida.

Na sociedade atual, marcada pela aceleração digital, pela sobrecarga de informações e pela valorização da produtividade em detrimento da qualidade de vida, o tempo tornou-se um bem cada vez mais disputado. A Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, oferece elementos fundamentais para compreender o uso do tempo não apenas como recurso material, mas como oportunidade espiritual.

O Tempo como Tesouro Divino

De acordo com os ensinamentos espíritas, o tempo não é apenas uma convenção humana, mas parte da Lei Natural, que regula as etapas do progresso. Na Revista Espírita (1859), Kardec destacou que a vida terrena é um período de aprendizado e de preparo, em que cada hora pode ser aproveitada para a construção do bem.

O Espírito Emmanuel, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, reforça essa visão em Caminho, Verdade e Vida, quando afirma que o tempo é um talento concedido por Deus. Assim como na parábola dos talentos, registrada por Jesus, cada segundo é uma semente que pode gerar frutos de luz ou se perder na esterilidade da inércia.

Usos e Abusos do Tempo

A realidade contemporânea mostra que muitos ainda “matam o tempo” em futilidades, como o excesso de entretenimento vazio, as disputas nas redes sociais ou a prática de maledicências, que apenas multiplicam infelicidade. Outros reduzem o tempo à lógica materialista do “tempo é dinheiro”, esquecendo que o verdadeiro valor está naquilo que agrega à alma.

Estudos atuais da Organização Mundial da Saúde (2024) indicam que o mau uso do tempo, especialmente em jornadas de trabalho desequilibradas ou em excesso de exposição digital, está diretamente ligado ao aumento de transtornos de ansiedade e depressão. Ou seja, não se trata apenas de perda de produtividade, mas de desgaste físico, emocional e espiritual.

O Espiritismo ensina que esse desperdício não é sem consequências. A Lei Divina estabelece que todo excesso encontra limite. Se não aprendemos a valorizar o tempo, somos naturalmente conduzidos a situações em que ele parece escasso, como forma de aprendizado e disciplina.

O Tempo como Oportunidade de Evolução

Paulo de Tarso, em sua epístola aos Romanos, já advertia que aquele que valoriza o dia, “para o Senhor o faz”. O tempo, nesse sentido, é campo sagrado para a realização do bem.

A Doutrina Espírita acrescenta que, ao utilizarmos nossos segundos em atos de amor, estudo, trabalho honesto e serviço ao próximo, estamos semeando condições melhores para o futuro espiritual. Em contrapartida, o uso inconsciente ou egoísta do tempo resulta em atrasos evolutivos que precisarão ser reparados em novas experiências reencarnatórias.

Cada minuto dedicado ao cultivo da harmonia íntima, da solidariedade e do aprendizado é investimento que jamais se perde. Como ensina Kardec em O Livro dos Espíritos (questão 132), a vida na Terra é uma missão, e o tempo, sua ferramenta mais valiosa.

Conclusão

O tempo é o banco divino que nos oferece diariamente um capital precioso. Cabe a cada um de nós decidir se vamos dissipá-lo em distrações estéreis ou aplicá-lo em investimentos espirituais duradouros.

À luz do Espiritismo, compreender o valor do tempo é reconhecer que cada segundo carrega a possibilidade de renovar a própria vida, auxiliar o próximo e contribuir para a construção de um mundo mais justo e fraterno. Em última análise, o tempo é oportunidade de aproximar-nos de Deus.

Referências

  • Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, FEB.
  • Allan Kardec, Revista Espírita (1858-1869), FEB.
  • Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel, Caminho, Verdade e Vida, cap. 1, ed. FEB.
  • Momento Espírita, Preciosidade do tempo, momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=2107&stat=0
  • Roger Patrón Luján, Um presente especial, cap. A verdadeira riqueza, ed. Aquariana.
  • Organização Mundial da Saúde (OMS), Relatório sobre saúde mental e uso do tempo, 2024.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O DESAPARECIMENTO DO CORPO DE JESUS REFLEXÕES À LUZ DO ESPIRITISMO - A Era do Espírito - Introdução O desaparecimento do corpo de Jesus, a...