domingo, 5 de outubro de 2025

RELIGIÃO E ESPIRITISMO: DA CRÍTICA MODERNA
À VIVÊNCIA ÉTICO-ESPIRITUAL
- A Era do Espírito -

Introdução

A religião tem sido alvo de intensas críticas desde o Iluminismo, quando filósofos e cientistas passaram a questionar dogmas sustentados apenas pela autoridade da revelação. No século XX, pensadores como Karl Marx a classificaram como “ópio do povo”, enquanto Freud a associava a uma forma de ilusão coletiva. Essas análises, embora consistentes em determinados pontos, reduziram a experiência religiosa a mecanismos de poder e alienação, deixando de lado seu valor existencial e psicológico.

À luz da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, bem como das reflexões de estudiosos contemporâneos, a religião pode ser compreendida não apenas como instituição, mas como expressão profunda da espiritualidade humana, indispensável ao equilíbrio moral e ao progresso coletivo.

1. Religião, crítica e função social

A crítica moderna destacou o uso histórico da religião como ferramenta de controle, perpetuando desigualdades e legitimando sofrimentos. De fato, práticas religiosas marcadas por fanatismo ou interesses políticos ainda existem. Porém, reduzir toda experiência religiosa a manipulação social é uma simplificação.

Pesquisas atuais em psicologia da religião (APA, 2023) mostram que a fé, quando vivida de forma saudável, fortalece vínculos sociais, reduz índices de depressão e ansiedade, além de impulsionar atitudes de solidariedade e engajamento comunitário.

No Espiritismo, religião é compreendida como “o laço que une os homens a Deus” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. I, item 8), isto é, como uma vivência ética e racional, não como mera adesão a rituais externos.

2. O risco do imediatismo e do consumismo

Com o declínio de referências espirituais sólidas, cresce o vazio existencial. Na lógica de consumo, até as relações humanas tornam-se utilitárias: casamentos reduzidos a vínculos passageiros, amizades e parcerias pautadas apenas em interesse. Esse cenário confirma a análise de Allan Kardec na Revista Espírita (1862), ao observar que o materialismo fragiliza os laços sociais e alimenta o egoísmo.

A ausência de um referencial espiritual leva parte da sociedade a viver apenas no presente imediato, ignorando responsabilidades maiores ligadas ao futuro da alma e ao destino coletivo da humanidade.

3. Fanatismo versus religiosidade consciente

Entre os extremos da indiferença e do consumismo, surgem também manifestações de fanatismo religioso. Nelas, a fé é defendida de maneira dogmática, descolada da realidade social e científica. Tais práticas, como observava Kardec em O Livro dos Médiuns, não contribuem para a verdadeira transformação moral, pois substituem a reflexão pela imposição de crenças.

O Espiritismo propõe o equilíbrio: uma religiosidade vivida de forma consciente, pautada pelo livre exame, pela razão e pelo sentimento. Trata-se de uma fé raciocinada, capaz de dialogar com a ciência e a filosofia, mas sem perder a essência ética e espiritual.

4. Religião como força estruturante da personalidade

Carl Gustav Jung destacou em sua obra Psicologia e Religião que a dimensão religiosa faz parte da estrutura da psique humana, funcionando como elemento de integração e equilíbrio. Da mesma forma, o Espiritismo mostra que a fé sincera é motor do progresso moral.

A religião, vivida em sua forma mais pura, desperta no ser humano o senso de transcendência, levando-o a olhar para si mesmo e para o próximo com mais responsabilidade. Ela não se confunde com dogmatismo, mas se expressa na religiosidade íntima que sustenta a ética, inspira a ciência, nutre a arte e fortalece a vida em sociedade.

Conclusão

A modernidade colocou em xeque muitos aspectos da religião institucionalizada, mas não eliminou a necessidade espiritual do ser humano. Pelo contrário, quanto mais a sociedade se fragmenta pelo consumismo e pelo individualismo, mais se faz urgente uma religiosidade viva, que reconecte o homem a si mesmo, ao próximo e a Deus.

O Espiritismo, ao unir razão e fé, oferece uma síntese atual e coerente: uma moral sem fanatismo, uma filosofia de vida que convida à responsabilidade ética e uma ciência espiritual que ilumina o futuro da humanidade. Longe de ser “ópio”, a religião, quando bem compreendida, é força de libertação e progresso.

Referências

  • Allan Kardec. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
  • Allan Kardec. O Livro dos Médiuns. 1861.
  • Allan Kardec. Revista Espírita (1858-1869).
  • Léon Denis. Cristianismo e Espiritismo.
  • Carl Gustav Jung. Psicologia e Religião. Editora Vozes, 2008.
  • American Psychological Association (APA). Psychology of Religion and Spirituality. 2023.
  • Jáder Sampaio. A Religião e a Modernidade. Boletim GEAE, nº 466, 2003.

 

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