terça-feira, 14 de outubro de 2025

SAWABONA E SHIKOBA
O RESGATE DO BEM EM NÓS
- A Era do Espírito -

Introdução

Em uma pequena tribo da África do Sul sobrevive um costume ancestral que ensina, com simplicidade e profundidade, o valor do perdão e da fraternidade. Quando um membro da comunidade erra, em vez de ser punido, é colocado no centro da aldeia e cercado por todos, que passam dois dias lembrando-lhe o bem que já realizou. Ao final, o erro se dissolve no reconhecimento do bem, e o indivíduo se reconecta com a própria essência. As palavras Sawabona (“eu te respeito, eu te valorizo, és importante para mim”) e Shikoba (“então, eu existo para ti”) expressam, em seu conjunto, uma profunda verdade espiritual: “eu sou bom.”

Esse gesto coletivo de amor e respeito reflete um princípio universal que também é base da Doutrina Espírita: a crença na bondade essencial do ser humano e na perfectibilidade do Espírito, criado simples e ignorante, mas destinado à perfeição.

1. A visão espírita sobre o erro e o progresso moral

Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos (questões 114 a 122), explica que todos os Espíritos são criados iguais, com aptidão para o bem, e que as imperfeições são passageiras, fruto da ignorância e da falta de amadurecimento moral. Assim, errar não é uma condenação eterna, mas uma oportunidade de aprendizado.

Na tradição daquela tribo africana, o erro é compreendido como um pedido de ajuda, não como um sinal de perdição. O mesmo raciocínio se encontra nas lições de Jesus e na filosofia espírita, que reconhecem o desvio moral como uma desconexão momentânea do amor e da verdade. Ao invés de castigar, o Espiritismo convida à reeducação do ser.

Em vez de exclusão, a tribo oferece acolhimento; em vez de julgamento, oferece lembrança do bem. A atitude se aproxima do que Jesus ensinou: “Não vim para chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento” (Lucas 5:32).

2. A responsabilidade coletiva na regeneração do ser

O gesto da tribo — reunir-se ao redor do que errou — revela uma compreensão profunda da interdependência humana. A regeneração não é apenas um ato individual, mas também coletivo. Na Doutrina Espírita, essa ideia aparece na Revista Espírita (abril de 1864), quando Kardec destaca que “ninguém se melhora senão com o concurso dos outros; e ninguém se salva senão auxiliando seus irmãos”.

Ao envolver o infrator com palavras de respeito, a comunidade africana realiza um verdadeiro passe moral: transfere vibrações de fraternidade que o ajudam a retomar o equilíbrio interior. Da mesma forma, o Espiritismo ensina que o bem é contagioso e que o amor reeduca mais do que a punição.

A sociedade moderna, marcada por discursos de ódio e polarização, poderia aprender com esse exemplo. Em vez de ampliar o abismo da exclusão, a prática do diálogo, do perdão e da empatia — princípios cristãos e espíritas — pode restaurar laços e promover o progresso moral coletivo.

3. Sawabona e Shikoba: um reflexo da lei de amor

A expressão Sawabona Shikoba sintetiza o reconhecimento mútuo do valor espiritual do outro. Quando alguém diz “eu te vejo”, e o outro responde “então eu existo para ti”, ambos reafirmam a unidade que os liga. Essa relação de reciprocidade ecoa a lei de amor e caridade explicada por Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XI: “Fora da caridade não há salvação”.

Na prática, perdoar é devolver ao outro a possibilidade de recomeçar. E, ao fazê-lo, libertamo-nos também das correntes do ressentimento. O perdão, portanto, é tanto um ato de amor quanto de libertação espiritual.

O costume africano nos lembra que o ser humano não deve ser reduzido ao seu erro. Por trás da falha há sempre uma alma em processo de crescimento, um Espírito que busca reconectar-se à centelha divina que habita em todos.

4. A lição espiritual para o nosso tempo

Em tempos de intolerância e pressa, a atitude daquela tribo ressoa como um convite à reflexão: como reagimos quando alguém erra conosco? Buscamos compreender ou apenas julgar?

A Doutrina Espírita, com sua visão consoladora e racional, mostra que todos estamos em diferentes graus de aprendizado moral. Assim, o erro do outro é também um espelho que nos ensina a ter paciência, humildade e caridade.

Resgatar o bem em nós — e reconhecer o bem no outro — é parte da grande obra da evolução espiritual. Amar o próximo não é ignorar as faltas, mas ajudar o outro a superá-las. Como ensina Emmanuel em A Caminho da Luz, “a lei do amor é a luz das almas, e somente sob a sua influência é que o homem encontrará a felicidade a que aspira”.

Conclusão

O costume Sawabona Shikoba nos recorda que o verdadeiro progresso moral não nasce da punição, mas da compreensão. Ao reconhecer o bem que existe em cada ser, reerguemos não apenas aquele que errou, mas também a nós mesmos.

O Espiritismo reforça essa verdade: somos todos aprendizes da vida, em constante aperfeiçoamento. Quando amamos, perdoamos e valorizamos o outro, participamos da grande obra divina de regeneração do mundo.

Referências

  • KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1857.
  • KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 1864.
  • KARDEC, Allan. Revista Espírita. 1858–1869.
  • XAVIER, Francisco Cândido (por Emmanuel). A Caminho da Luz. FEB, 1938.
  • Momento Espírita. O bem em cada um. Disponível em: momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=7531&stat=0
  • RANGEL, Silvana. Você conhece o significado das palavras Sawabona e Shikoba? Disponível em: somostodosum.com.br

 

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