quarta-feira, 30 de julho de 2025

A ESPIRITUALIZAÇÃO DO PENSAMENTO E OS OBJETOS DE CULTO NA VISÃO ESPÍRITA
- A Era do Espírito –
 

Desde tempos imemoriais, religiões de todo o mundo utilizam objetos materiais como instrumentos de fé e ligação com o sagrado. Estátuas, talismãs, medalhas, roupas cerimoniais e imagens sacras são, ainda hoje, comuns em práticas devocionais de diversas tradições. Esses itens têm por objetivo promover um contato mais próximo com o divino — ou com entidades espirituais consideradas intermediárias entre Deus e a humanidade.

Contudo, à luz da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, compreendemos que tais objetos não são necessários para estabelecer a verdadeira conexão com o Plano Espiritual Superior. O Espiritismo, ao nos revelar as leis que regem o pensamento e a mente, propõe um caminho de elevação espiritual que independe de elementos externos.

O Respeito às Crenças Alheias

É natural, ao abraçar o Espiritismo e compreender sua proposta de espiritualização íntima, que o espírita se liberte do uso de objetos de culto. Porém, tal entendimento não nos deve conduzir à crítica ou ao desprezo por aqueles que ainda se valem desses recursos com sinceridade e reverência. Como aponta André Luiz na obra Mecanismos da Mediunidade:

“Talismãs e altares, vestes e paramentos, símbolos e imagens [...] destinam-se a incentivar a produção de ondas mentais [...] atraindo forças do mesmo tipo que as arremessadas pelo operador.” (p. 193-194)

Esses objetos, ainda que materiais, podem favorecer o direcionamento mental e emocional para estados de fé, esperança, reverência e sintonia com o bem. Mesmo os que se encontram mergulhados em práticas supersticiosas, quando motivados por sentimentos nobres, são beneficiados por esse esforço mental.

Sintonia: O Verdadeiro Culto

O Espiritismo nos ensina que a ligação com os Espíritos Superiores ocorre conforme a qualidade dos nossos pensamentos, sentimentos e intenções. A sintonia com as esferas elevadas não depende de fórmulas, ritos ou emblemas, mas sim do estado interior que cultivamos. A cada momento, atraímos para junto de nós entidades cujas vibrações se afinam com as nossas.

“Somente a conduta reta sustenta o reto pensamento [...] a prece será sempre o reflexo positivamente sublime do Espírito.” (Mecanismos da Mediunidade, p. 195)

A verdadeira espiritualidade é silenciosa, íntima e contínua. O culto mais elevado é aquele que se expressa em uma conduta digna e no esforço diário pela renovação interior. Essa vivência dispensa intermediários materiais.

A Disciplina da Mente

Apesar do conhecimento oferecido pela Doutrina Espírita, manter o pensamento elevado ainda é um desafio. O mundo moderno, com suas pressões, distrações e valores efêmeros, dificulta a criação de uma ligação perene com o Alto.

Quantas vezes perdemos tempo alimentando mágoas, julgamentos e pensamentos negativos? Quantas oportunidades de conexão com nossos mentores espirituais são desperdiçadas por indisciplina mental?

“É indispensável [...] renovar as concepções e modificar, invariavelmente, para o bem maior o modo íntimo de ser.” (No Mundo Maior, p. 259)

Treinar a mente para permanecer afinada com ideais superiores é uma das tarefas mais exigentes e essenciais da jornada evolutiva. Requer esforço constante, vigilância e perseverança.

Oração: A Ponte com o Alto

A oração, compreendida em sua essência, é o exercício mais poderoso de sintonia com as Esferas Superiores. Ela pode ser feita a qualquer hora, em qualquer lugar, bastando para isso a disposição sincera da alma em elevar-se.

“No reconhecimento ou na petição [...] ei-la [a prece] exteriorizando a consciência que a formula, em efusões indescritíveis.” (Mecanismos da Mediunidade, p. 195)

O Espiritismo convida o ser humano à vivência de um culto permanente no templo da consciência. Convida-nos a sermos, nós mesmos, o altar em que se manifesta o divino, pela prática do bem, pela renovação dos pensamentos e pela construção diária do Reino de Deus em nossos corações.

Conclusão

Não é pelo abandono de objetos de culto que se mede a espiritualidade de alguém, mas pela elevação moral e pelo esforço em alinhar pensamento, sentimento e ação aos princípios superiores da vida. Enquanto humanidade ainda em processo de amadurecimento espiritual, é natural que muitos se apeguem a recursos físicos como apoio à fé. E isso merece nosso respeito.

Contudo, o convite espírita é claro: transformar-se pela renovação da mente, como disse o apóstolo Paulo (Romanos 12:2). É por meio da disciplina mental, da prece sincera e da prática do amor que nos tornamos verdadeiramente ligados à espiritualidade maior — sem necessidade de qualquer mediação material.

Bibliografia
Xavier, Francisco Cândido & Vieira, Waldo. Mecanismos da Mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. FEB, 25ª ed., 2006.
Xavier, Francisco Cândido. No Mundo Maior. Pelo Espírito André Luiz. FEB, 24ª ed., 2005.
Paulo de Tarso. Carta aos Romanos, 12:2.
Sérgio Maurício. “Uma religião espírita?” – Texto base.

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