Desde tempos imemoriais, religiões de todo o mundo
utilizam objetos materiais como instrumentos de fé e ligação com o sagrado.
Estátuas, talismãs, medalhas, roupas cerimoniais e imagens sacras são, ainda
hoje, comuns em práticas devocionais de diversas tradições. Esses itens têm por
objetivo promover um contato mais próximo com o divino — ou com entidades
espirituais consideradas intermediárias entre Deus e a humanidade.
Contudo, à luz da Doutrina Espírita codificada por
Allan Kardec, compreendemos que tais objetos não são necessários para
estabelecer a verdadeira conexão com o Plano Espiritual Superior. O
Espiritismo, ao nos revelar as leis que regem o pensamento e a mente, propõe um
caminho de elevação espiritual que independe de elementos externos.
O
Respeito às Crenças Alheias
É natural, ao abraçar o Espiritismo e compreender
sua proposta de espiritualização íntima, que o espírita se liberte do uso de
objetos de culto. Porém, tal entendimento não nos deve conduzir à crítica ou ao
desprezo por aqueles que ainda se valem desses recursos com sinceridade e
reverência. Como aponta André Luiz na obra Mecanismos da Mediunidade:
“Talismãs
e altares, vestes e paramentos, símbolos e imagens [...] destinam-se a incentivar
a produção de ondas mentais [...] atraindo forças do mesmo tipo que as
arremessadas pelo operador.” (p. 193-194)
Esses objetos, ainda que materiais, podem favorecer
o direcionamento mental e emocional para estados de fé, esperança, reverência e
sintonia com o bem. Mesmo os que se encontram mergulhados em práticas
supersticiosas, quando motivados por sentimentos nobres, são beneficiados por
esse esforço mental.
Sintonia:
O Verdadeiro Culto
O Espiritismo nos ensina que a ligação com os
Espíritos Superiores ocorre conforme a qualidade dos nossos pensamentos,
sentimentos e intenções. A sintonia com as esferas elevadas não depende de
fórmulas, ritos ou emblemas, mas sim do estado interior que cultivamos. A cada
momento, atraímos para junto de nós entidades cujas vibrações se afinam com as
nossas.
“Somente a conduta reta sustenta o reto pensamento [...] a prece será
sempre o reflexo positivamente sublime do Espírito.” (Mecanismos da Mediunidade, p. 195)
A verdadeira espiritualidade é silenciosa, íntima e
contínua. O culto mais elevado é aquele que se expressa em uma conduta digna e
no esforço diário pela renovação interior. Essa vivência dispensa
intermediários materiais.
A
Disciplina da Mente
Apesar do conhecimento oferecido pela Doutrina
Espírita, manter o pensamento elevado ainda é um desafio. O mundo moderno, com
suas pressões, distrações e valores efêmeros, dificulta a criação de uma
ligação perene com o Alto.
Quantas vezes perdemos tempo alimentando mágoas,
julgamentos e pensamentos negativos? Quantas oportunidades de conexão com
nossos mentores espirituais são desperdiçadas por indisciplina mental?
“É
indispensável [...] renovar as concepções e modificar, invariavelmente, para o
bem maior o modo íntimo de ser.” (No Mundo Maior, p. 259)
Treinar a mente para permanecer afinada com ideais
superiores é uma das tarefas mais exigentes e essenciais da jornada evolutiva.
Requer esforço constante, vigilância e perseverança.
Oração: A
Ponte com o Alto
A oração, compreendida em sua essência, é o
exercício mais poderoso de sintonia com as Esferas Superiores. Ela pode ser
feita a qualquer hora, em qualquer lugar, bastando para isso a disposição
sincera da alma em elevar-se.
“No
reconhecimento ou na petição [...] ei-la [a prece] exteriorizando a consciência
que a formula, em efusões indescritíveis.” (Mecanismos da Mediunidade, p. 195)
O Espiritismo convida o ser humano à vivência de um
culto permanente no templo da consciência. Convida-nos a sermos, nós mesmos, o
altar em que se manifesta o divino, pela prática do bem, pela renovação dos
pensamentos e pela construção diária do Reino de Deus em nossos corações.
Conclusão
Não é pelo abandono de objetos de culto que se mede
a espiritualidade de alguém, mas pela elevação moral e pelo esforço em alinhar
pensamento, sentimento e ação aos princípios superiores da vida. Enquanto
humanidade ainda em processo de amadurecimento espiritual, é natural que muitos
se apeguem a recursos físicos como apoio à fé. E isso merece nosso respeito.
Contudo, o convite espírita é claro: transformar-se
pela renovação da mente, como disse o apóstolo Paulo (Romanos 12:2). É por
meio da disciplina mental, da prece sincera e da prática do amor que nos
tornamos verdadeiramente ligados à espiritualidade maior — sem necessidade de
qualquer mediação material.
Xavier, Francisco Cândido & Vieira, Waldo. Mecanismos da Mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. FEB, 25ª ed., 2006.
Xavier, Francisco Cândido. No Mundo Maior. Pelo Espírito André Luiz. FEB, 24ª ed., 2005.
Paulo de Tarso. Carta aos Romanos, 12:2.
Sérgio Maurício. “Uma religião espírita?” – Texto base.
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