quarta-feira, 30 de julho de 2025

O AUTOCONHECIMENTO E A SABEDORIA DE TALES:
UMA LEITURA À LUZ DO ESPIRITISMO
- A Era do Espírito –
 

"Conhece-te a ti mesmo."
— Inscrição do templo de Delfos, adotada por Sócrates e reforçada por Kardec como chave da elevação moral.

Tales de Mileto, reconhecido como o primeiro filósofo da tradição ocidental, viveu por volta de 625 a.C., em Mileto, na Ásia Menor — atual território da Turquia. De origem fenícia e espírito investigativo, Tales não apenas foi um dos sete sábios da Grécia antiga, mas também o fundador da Escola Jônica, considerada o berço do pensamento filosófico sobre a natureza e seus princípios.

A ele são atribuídas reflexões profundas e atemporais, nas quais já se percebe a busca por respostas fundamentais sobre Deus, o universo, a alma humana e os desafios existenciais. Quando interrogado por um sábio sobre questões essenciais da vida, Tales respondeu com simplicidade e sabedoria:

  • O que é mais antigo?
    Deus, porque sempre existiu.
  • O que é mais belo?
    O Universo, porque é obra de Deus.
  • O que é mais constante?
    A esperança, porque permanece mesmo quando tudo se perde.
  • Qual é a melhor de todas as coisas?
    A virtude, sem a qual nada de bom existiria.
  • Qual é a mais rápida?
    O pensamento, que em um instante pode alcançar os confins do universo.
  • Qual é a mais difícil?
    Conhecer-se a si mesmo.

Esse último ensinamento ecoa com especial vigor no coração da Doutrina Espírita, que reconhece o autoconhecimento como ferramenta essencial para a evolução do Espírito.

O Autoconhecimento na Visão Espírita

Na questão 919 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec pergunta aos Espíritos Superiores qual o meio prático mais eficaz de o homem se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal. A resposta é direta:

“Um sábio da Antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.

Na continuação dessa resposta, Santo Agostinho orienta sobre a importância da análise diária das próprias ações, sugerindo um exame de consciência sistemático, como quem revisa contas a prestar à própria alma. Essa prática é vista como a base sólida do progresso moral.

Ao valorizar a busca por si mesmo, o Espiritismo ensina que o ser humano é um Espírito em constante processo de aperfeiçoamento, criado simples e ignorante, mas dotado da potencialidade divina que o impulsiona à perfeição relativa. Por isso, compreender-se — com suas imperfeições, tendências e virtudes — é um passo indispensável para a regeneração íntima.

O Pensamento como Força Criadora

Ao afirmar que o pensamento é a coisa mais rápida de todas, Tales antecipava um princípio também fundamental na filosofia espírita: a força do pensamento como poder criador, modelador e conector entre mundos.

Em A Gênese, Allan Kardec explica que o pensamento é uma das formas de ação do Espírito e pode atuar sobre os fluidos espirituais, moldando paisagens, transmitindo intenções e mesmo influenciando outros Espíritos ou encarnados. Por isso, o pensamento, além de veloz, é criativo e revelador da essência do ser.

Esperança e Virtude: Alicerces Espirituais

Na resposta sobre o que é mais constante e o que é melhor, Tales apontou, respectivamente, a esperança e a virtude. O Espiritismo corrobora essa visão ao tratar a esperança como força anímica que sustenta o Espírito nos momentos de dor, sendo, conforme nos ensina Léon Denis, “a luz que brilha nos instantes de sombra”.

A virtude, por sua vez, é o resultado de uma vontade reta e consciente, cultivada pela educação do Espírito e pelo esforço em dominar as más inclinações. Sem ela, o bem não se concretiza; com ela, a alma progride com segurança.

Conhecer-se para Amar e Servir

Conhecer-se é, portanto, um exercício de humildade e coragem. É perceber-se como Espírito imortal, temporariamente encarnado, com provas e missões a cumprir. É aceitar as próprias limitações sem resignar-se ao erro, e buscar diariamente a superação de si mesmo, com fé, perseverança e caridade.

O Espiritismo não nos pede perfeição imediata, mas nos convida ao esforço contínuo. Traz luz à consciência e esperança ao coração, afirmando que somos os artífices de nosso destino, e que ninguém está condenado a permanecer no erro indefinidamente.

* * *

Que as reflexões de Tales, esse sábio da Antiguidade, nos inspirem a trilhar o caminho da virtude, da esperança e, sobretudo, do autoconhecimento, pois como ensina a Doutrina Espírita, ninguém pode progredir sem antes conhecer-se a si mesmo.

"O homem que se conhece é como o agricultor que conhece sua terra: saberá onde há pedras, espinhos, flores e frutos, e com esse saber, cultivará melhor seu campo interior."
— Inspiração baseada na filosofia espírita.

Referências:
Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, especialmente a questão 919.
Kardec, Allan. A Gênese, cap. XIV, item 14 – "O papel do pensamento".
Denis, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor.
Texto-base: 
Momento Espírita, momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=2907&let=Q&stat=0 
Biografia resumida de Tales de Mileto (domínio público).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

  O ORADOR ESPÍRITA MANUAL DE ESTUDO, PRÁTICA E INSPIRAÇÃO À LUZ DO ESPIRITISMO - A Era do Espírito - “Ide por todo o mundo, pregai o Evange...