"Conhece-te a ti mesmo."
— Inscrição do templo de Delfos, adotada por Sócrates e reforçada por Kardec
como chave da elevação moral.
Tales de Mileto, reconhecido como o primeiro
filósofo da tradição ocidental, viveu por volta de 625 a.C., em Mileto, na Ásia
Menor — atual território da Turquia. De origem fenícia e espírito investigativo,
Tales não apenas foi um dos sete sábios da Grécia antiga, mas também o fundador
da Escola Jônica, considerada o berço do pensamento filosófico sobre a natureza
e seus princípios.
A ele são atribuídas reflexões profundas e
atemporais, nas quais já se percebe a busca por respostas fundamentais sobre
Deus, o universo, a alma humana e os desafios existenciais. Quando interrogado
por um sábio sobre questões essenciais da vida, Tales respondeu com
simplicidade e sabedoria:
- O que é mais antigo?
Deus, porque sempre existiu. - O que é mais belo?
O Universo, porque é obra de Deus. - O que é mais constante?
A esperança, porque permanece mesmo quando tudo se perde. - Qual é a melhor de todas as coisas?
A virtude, sem a qual nada de bom existiria. - Qual é a mais rápida?
O pensamento, que em um instante pode alcançar os confins do universo. - Qual é a mais difícil?
Conhecer-se a si mesmo.
Esse último ensinamento ecoa com especial vigor no
coração da Doutrina Espírita, que reconhece o autoconhecimento como ferramenta
essencial para a evolução do Espírito.
O
Autoconhecimento na Visão Espírita
Na questão 919 de O Livro dos Espíritos,
Allan Kardec pergunta aos Espíritos Superiores qual o meio prático mais eficaz
de o homem se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal. A resposta é
direta:
“Um
sábio da Antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.”
Na continuação dessa resposta, Santo Agostinho
orienta sobre a importância da análise diária das próprias ações, sugerindo um
exame de consciência sistemático, como quem revisa contas a prestar à própria
alma. Essa prática é vista como a base sólida do progresso moral.
Ao valorizar a busca por si mesmo, o Espiritismo
ensina que o ser humano é um Espírito em constante processo de aperfeiçoamento,
criado simples e ignorante, mas dotado da potencialidade divina que o
impulsiona à perfeição relativa. Por isso, compreender-se — com suas
imperfeições, tendências e virtudes — é um passo indispensável para a regeneração
íntima.
O
Pensamento como Força Criadora
Ao afirmar que o pensamento é a coisa mais rápida
de todas, Tales antecipava um princípio também fundamental na filosofia
espírita: a força do pensamento como poder criador, modelador e conector entre
mundos.
Em A Gênese, Allan Kardec explica que o
pensamento é uma das formas de ação do Espírito e pode atuar sobre os fluidos
espirituais, moldando paisagens, transmitindo intenções e mesmo influenciando
outros Espíritos ou encarnados. Por isso, o pensamento, além de veloz, é
criativo e revelador da essência do ser.
Esperança
e Virtude: Alicerces Espirituais
Na resposta sobre o que é mais constante e o que é
melhor, Tales apontou, respectivamente, a esperança e a virtude. O Espiritismo
corrobora essa visão ao tratar a esperança como força anímica que sustenta o
Espírito nos momentos de dor, sendo, conforme nos ensina Léon Denis, “a luz que brilha nos instantes de sombra”.
A virtude, por sua vez, é o resultado de uma
vontade reta e consciente, cultivada pela educação do Espírito e pelo esforço
em dominar as más inclinações. Sem ela, o bem não se concretiza; com ela, a
alma progride com segurança.
Conhecer-se
para Amar e Servir
Conhecer-se é, portanto, um exercício de humildade
e coragem. É perceber-se como Espírito imortal, temporariamente encarnado, com
provas e missões a cumprir. É aceitar as próprias limitações sem resignar-se ao
erro, e buscar diariamente a superação de si mesmo, com fé, perseverança e
caridade.
O Espiritismo não nos pede perfeição imediata, mas
nos convida ao esforço contínuo. Traz luz à consciência e esperança ao coração,
afirmando que somos os artífices de nosso destino, e que ninguém está condenado
a permanecer no erro indefinidamente.
* * *
Que as reflexões de Tales, esse sábio da
Antiguidade, nos inspirem a trilhar o caminho da virtude, da esperança e,
sobretudo, do autoconhecimento, pois como ensina a Doutrina Espírita, ninguém
pode progredir sem antes conhecer-se a si mesmo.
"O
homem que se conhece é como o agricultor que conhece sua terra: saberá onde há
pedras, espinhos, flores e frutos, e com esse saber, cultivará melhor seu campo
interior."
— Inspiração baseada na filosofia espírita.
Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, especialmente a questão 919.
Kardec, Allan. A Gênese, cap. XIV, item 14 – "O papel do pensamento".
Denis, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor.
Texto-base: Momento Espírita, momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=2907&let=Q&stat=0
Biografia resumida de Tales de Mileto (domínio público).
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