domingo, 20 de julho de 2025

A SERENIDADE QUE NASCE DA VERDADE:
UMA LEITURA ESPÍRITA DE HERCULANO PIRES
- A Era do Espírito -

José Herculano Pires, filósofo, jornalista e um dos maiores estudiosos da Doutrina Espírita no Brasil, propõe em sua obra O Ser e a Serenidade uma reflexão contundente sobre o verdadeiro sentido da serenidade. Ao contrário da visão comum que associa serenidade à passividade, ao silêncio exterior ou à mansidão artificial, Herculano revela que a verdadeira serenidade nasce da integridade moral e da espontaneidade da consciência reta. Essa visão encontra ressonância profunda nos ensinamentos codificados por Allan Kardec. 

“Há mais serenidade no homem que defende com entusiasmo e calor os seus princípios, do que no indivíduo falacioso, que procura ‘serenamente’ as suas evasivas.” (José Herculano Pires)

Serenidade como coerência, não aparência 

A Doutrina Espírita ensina que a elevação espiritual está na coerência entre pensamento, sentimento e ação — e não na aparência de virtude. Em O Evangelho segundo o Espiritismo (cap. XVII, item 4), Kardec afirma: 

“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas más inclinações.” 

Ou seja, alguém firme e comprometido com a verdade, mesmo que se expresse com energia, pode estar mais afinado com a serenidade real — aquela que nasce da honestidade moral — do que quem usa um verniz de mansidão para ocultar intenções desonestas. 

“É mais sereno o murro de uma verdade na mesa, do que o palavreado untuoso da mentira na boca de um santo de artifício.” 

Essa imagem expressiva distingue a serenidade autêntica, que pode ser firme e vibrante, da hipocrisia untuosa, que mascara a mentira com aparência de santidade. A Doutrina Espírita desmascara essa dissimulação. Na questão 903 de O Livro dos Espíritos, os Espíritos superiores esclarecem: 

“Há muita gente que tem a aparência da virtude, mas que, no fundo, não passa de hipócrita. A verdadeira virtude é modesta, simples e sincera.” 

Discernindo além das aparências 

Herculano adverte quanto ao perigo das falsas aparências e interpretações: 

“Precisamos alertar-nos contra o perigo das aparências e das falsas interpretações.” 

Em consonância, Kardec ensina em O Livro dos Médiuns (cap. XXIV) que “as aparências podem iludir”. O Espiritismo orienta que o discernimento deve ser guiado pela razão, pela observação dos frutos morais das atitudes e pelo bom senso — não por discursos suaves e imagens construídas. 

A emoção da verdade e o esforço sincero 

“A emoção da verdade pode explodir como qualquer carga emotiva, por aceleração de tempo emocional...” 

Esse trecho sugere que a vivência da verdade desperta forças interiores legítimas, que às vezes se manifestam com energia emocional intensa. Isso não é desequilíbrio, mas reflexo da luta interior de um Espírito sincero em busca do bem. Como ensina Kardec em O Livro dos Espíritos (q. 909 e 919), mesmo imperfeito, o Espírito que busca com sinceridade superar suas más tendências já está trilhando o caminho do progresso moral. 

“A falsidade evasiva escorrega sempre, com a facilidade e flexidez das serpentes.” 

Essa metáfora descreve o comportamento dos Espíritos ainda presos ao egoísmo e à astúcia. A Doutrina Espírita revela que tais atitudes não se sustentam diante da Lei de Deus. Como mostra a lei de causa e efeito (LE, q. 766 a 872), nada permanece oculto indefinidamente, e o Espírito colhe os frutos de sua própria semeadura. 

Serenidade espontânea: reflexo da consciência reta 

“O segredo da serenidade está na sua própria espontaneidade. E só por esta [...] é que podemos discernir a verdadeira serenidade.” 

A verdadeira serenidade, segundo Herculano e em consonância com a Doutrina Espírita, nasce da harmonia interior, da consciência limpa e da vivência espontânea da verdade. Ela não é ausência de emoção, mas o equilíbrio entre razão e sentimento, fé e ação, verdade e caridade. 

Conclusão: A serenidade autêntica à luz da Doutrina Espírita 

Com base na Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, podemos compreender que: 

- A serenidade verdadeira não está na apatia ou no silêncio artificial, mas na coerência entre a verdade interior e a conduta exterior; 

- A aparência de mansidão pode ocultar a falsidade, enquanto a firmeza da verdade pode refletir real serenidade espiritual; 

- A virtude verdadeira é simples, sincera e espontânea, e se revela nos atos mais do que nas palavras; 

- O Espiritismo nos convida a viver com honestidade, coragem moral e autenticidade, sem medo de manifestar a verdade com energia, quando necessário. 

- José Herculano Pires, profundo conhecedor do Espiritismo, nos convida a refletir que a serenidade verdadeira não é adorno, mas conquista interior — não é pose, mas transparência da alma diante das leis divinas. 

Referências

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB.
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB.
PIRES, José Herculano. O Ser e a Serenidade. São Paulo: Paidéia.

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