Uma reflexão espírita sobre as transformações
ambientais da Terra
Vivemos
tempos desafiadores. A natureza tem dado sinais claros de desequilíbrio: secas
prolongadas, enchentes violentas, incêndios devastadores, ondas de calor sem
precedentes. Recentemente, um conjunto de imagens comparativas do Rio São
Francisco — um dos mais emblemáticos cursos d’água do Brasil — revelou o
alarmante recuo de suas águas em determinadas regiões. Onde antes havia um
caudaloso e majestoso rio, hoje se observam margens secas e trechos de terra
exposta, outrora cobertos pelo curso natural da água. As causas imediatas?
Estiagens severas, mudanças climáticas e manejo inadequado dos recursos
hídricos.
Contudo,
a Doutrina Espírita oferece uma visão mais profunda e abrangente, capaz de
integrar esses acontecimentos aos ciclos planetários e à responsabilidade moral
da humanidade. Para compreender esse tema — a devastação ambiental em
correlação com os ciclos da Terra e sua posição no Universo — à luz do
Espiritismo, é fundamental integrarmos três grandes eixos:
- As Leis Naturais da
Criação, segundo o Espiritismo
- Os ciclos da Terra
como reflexo da Lei do Progresso e da Lei de Conservação
- A responsabilidade
moral e espiritual do ser humano como co-criador no planeta
1. As Leis Naturais e os Ciclos do Universo
A
Doutrina Espírita, conforme codificada por Allan Kardec, nos ensina que o
Universo é regido por leis imutáveis, sábias e harmônicas, que expressam a
vontade divina (cf. O Livro dos Espíritos, questões 614 a 618). Dentre
essas leis, destacam-se para nosso tema:
- Lei do Progresso
(q. 776 a 785)
Tudo evolui: o planeta, os seres vivos, as sociedades e as consciências. Inclusive a Terra passa por transformações físicas e espirituais, movendo-se no espaço e atravessando estágios planetários — de mundos primitivos até de regeneração. - Lei de Conservação
(q. 701 a 707)
Deus dá ao ser humano os recursos necessários à vida, mas exige que ele use esses bens com sabedoria e respeito. O desperdício, a ganância e o desequilíbrio geram consequências inevitáveis. - Lei de Destruição
(q. 728 a 741)
A destruição é parte da renovação. Ela é necessária ao equilíbrio dos ecossistemas e à regeneração das formas, mas quando provocada pelo abuso humano, torna-se desequilíbrio e dor.
Essas
leis nos mostram que nada está isolado. Os movimentos naturais ― as estações,
as secas, as enchentes ― estão entrelaçados ao movimento do planeta em torno de
si, ao redor do Sol e na galáxia.
A TERRA EM MOVIMENTO E A LEI DO PROGRESSO
O
movimento da Terra ao redor do Sol (ano) e sobre seu eixo (dia e noite), bem
como seu deslocamento dentro do sistema solar e da galáxia, não são apenas
fenômenos físicos, mas também símbolos de movimento espiritual. A Terra avança
não só no espaço, mas no tempo evolutivo — passando por fases morais, como
disse Emmanuel em A Caminho da Luz.
Por
isso, crises ambientais como a seca no Rio São Francisco não podem ser vistas
apenas como fenômenos meteorológicos ou cíclicos naturais. Elas também refletem
um desajuste moral e coletivo, indicando o nível espiritual da humanidade.
2. Desrespeito à Natureza: Entre Causa e
Consequência
A
degradação ambiental resulta do afastamento do homem das leis divinas. O
Espiritismo nos ensina que:
- Somos espíritos
encarnados para progredir em inteligência e moralidade;
- O planeta é uma
morada transitória, que precisa ser respeitada como obra divina;
- O mau uso da
liberdade — quando escolhemos a destruição em vez da harmonia — gera
consequências educativas, individuais e coletivas.
A
destruição de rios, florestas e ecossistemas, o uso excessivo de agrotóxicos e
a emissão desenfreada de gases poluentes, como no caso do Rio São Francisco,
não são castigos divinos, mas respostas naturais e sociais às ações humanas,
conforme a lei de causa e efeito.
E
mesmo os flagelos naturais (secas, enchentes, terremotos), quando não
provocados diretamente pelo homem, funcionam como instrumentos pedagógicos, que
despertam solidariedade, resignação, compaixão e renovação moral (cf. O
Livro dos Espíritos, q. 737 e 741).
3. Responsabilidade Coletiva e Consciência Planetária
“A
Terra não pertence ao homem, o homem pertence à Terra”
— (Sabedoria ancestral, reafirmada por Espíritos Superiores)
Kardec
nos lembra que os bens da Terra são para todos (q. 711), e o uso egoísta,
predatório e destrutivo gera desequilíbrios, escassez e sofrimento. A
espiritualidade superior também nos mostra que:
- A Terra é um
planeta em transição, e essa regeneração exige renovação moral;
- Os recursos
naturais são bens comuns, cuja gestão envolve responsabilidade espiritual;
- A destruição
provocada pelo homem acelera o processo de transformação planetária, mas
com maior dor.
Portanto,
não basta atribuir os eventos à “vontade de Deus” ou a um “carma coletivo”.
Devemos assumir, como espíritos conscientes, a coautoria dos desequilíbrios
ambientais e também o compromisso com a reparação.
4. A Conexão entre Cosmos, Natureza e Espírito
Ao
considerarmos os ciclos da Terra — como as eras geológicas, os períodos de
glaciação e aquecimento, os ciclos orbitais e a movimentação dentro da Via
Láctea — percebemos que tudo é movimento e transformação. O planeta acompanha o
fluxo cósmico, mas sua vibração é influenciada pela conduta moral de seus
habitantes.
A
regeneração do planeta não virá apenas por fenômenos naturais, mas pela
renovação interior do ser humano, que começa no pensamento e se expressa em
ações concretas: consumo consciente, respeito à vida, justiça social e
preservação ambiental.
5. Conclusão Inspiradora: O Bom Combate pelo
Planeta
A
Doutrina Espírita nos convida ao bom combate: aquele que começa dentro
de nós, no enfrentamento das más tendências, da indiferença, da omissão e do
egoísmo. A seca no Rio São Francisco, os desastres ambientais, as tragédias
climáticas não são meras fatalidades — são apelos da Terra e da espiritualidade
superior ao despertar da consciência humana.
Seja
pelas leis físicas que regem os ciclos planetários, seja pelas leis morais que
regem o espírito imortal, tudo converge para o bem e o progresso. Mas
esse progresso depende de nossa escolha diária.
“O
futuro pertence aos que forem bons.”
(O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. III)
Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Ed. FEB.
Kardec, Allan. A Gênese. Ed. FEB.
Emmanuel. A Caminho da Luz. Psicografado por Francisco Cândido Xavier.
Pereira, Marcelo Henrique. O sinal visível da devastação da Natureza e da poluição humana sobre a Terra.
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